A Argentina compartilhou com o Brasil nesta quarta-feira (19), após pedidos de Brasília, a lista dos foragidos do "8 de Janeiro" dos quais se há registro de entrada no país. São cerca de 60 pessoas. O governo argentino também afirmou que cerca de dez pessoas já deixaram o país. Não se sabe para qual região foram, uma vez que o registro migratório compartilhado com Brasília contém apenas a informação de que houve saída do território argentino.

A lista conta com nomes de brasileiros que participaram dos atos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas por radicais. 

As informações chegam após o Brasil enviar ao governo de Javier Milei uma lista com os nomes e documentos de 143 condenados pela invasão às sedes dos três Poderes que estavam foragidos. O objetivo era confirmar se possivelmente essas pessoas estão na Argentina.

É possível que os números reais sejam maiores do que os listados pelo lado argentino, caso alguns dos foragidos tenham entrado ou saído do país por pontos da fronteira nos quais há pouco monitoramento.

A lista enviada pelos argentinos é agora compartilhada com a Justiça brasileira. O Supremo Tribunal Federal (STF) prepara pedidos de extradição dessas pessoas a serem enviados à Justiça argentina.

Não se sabe quantas dessas pessoas solicitaram refúgio e asilo político na Argentina. Aqueles que o fizeram, alguns dos quais por meio da defensoria pública argentina, aguardam análise de seus processos, algo que pode demorar, especialmente devido a uma recente dança de cadeiras na chefia do Conare, a Comissão Nacional para os Refugiados.

Ainda nesta quarta-feira, o porta-voz de Milei, questionado por um jornalista argentino, negou que haja qualquer tipo de "pacto de impunidade com o bolsonarismo" para permitir a estadia dos foragidos e disse que o governo acatará decisões da Justiça.

"Não temos ingerência. Se a Justiça do Brasil insta a Argentina, a Justiça cumprirá a lei. A Justiça tomará as medidas correspondentes quando chegue o momento, e nós as respeitaremos", disse Manuel Adorni.

Ao menos no campo discursivo, é um balde de água fria para os foragidos, que buscaram a Argentina como espécie de refúgio por acreditarem que a atual gestão da Casa Rosada, próxima ao bolsonarismo, seria simpática à sua permanência no país.

Uma das principais personalidades da ultradireita global, Milei é um aliado do bolsonarismo, ainda que a saída de Jair Bolsonaro do poder tenha rareado as demonstrações públicas de afinidade entre eles.

(Mayara Paixão/Folhapress)