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Tratar bebês reborn como crianças reais é risco para a saúde mental? Especialista explica
Vídeos virais de rotina de bebês reborn ganharam as redes nos últimos dias e foram alvos de críticas
Os Bebês reborn, bonecos hiper-realistas que simulam crianças de verdade, voltaram a ser assunto nas redes sociais nos últimos dias, após vídeos de “rotina” com eles viralizarem e serem alvos de críticas. Um desses virais foi gravado pela mineira Yasmin Becker, que coleciona bebês reborn e levou um deles para o hospital, simulando um atendimento de urgência. O vídeo levantou muitos questionamentos sobre o tratamento de bonecos como se fossem crianças reais. No caso de Yasmin, tratou-se apenas de uma brincadeira para seus seguidores, segundo a influenciadora. No entanto, o assunto acende um alerta para algo além da brincadeira: até onde é considerado mentalmente saudável tratar os bonecos como se fossem bebês reais?
Especialistas explicam que o uso de objetos, como os bebês reborn, pode ser benéfico para tratamentos de traumas de infância, por exemplo. “Vínculos seguros nos primeiros anos são fundamentais para a saúde mental futura. A ausência desses vínculos pode repercutir na vida adulta com dificuldades de relacionamento, baixa autoestima e transtornos como ansiedade e depressão”, contextualiza a psicóloga e terapeuta de EMDR Carla Campos.
Ela lembra que, na infância, a mente ainda está organizando os limites entre o real e o imaginário, e brincar é essencial para o desenvolvimento da consciência. Já na vida adulta, o imaginário pode ter um bom uso terapêutico, quando há um objetivo específico. “O cérebro realmente responde a estímulos imaginários de maneira muito semelhante aos estímulos reais — esse é um achado consolidado nas neurociências”, conta.
Entretanto, quando a pessoa usa o imaginário como um refúgio, substituindo vínculos reais e fugindo da realidade, há muitos riscos, segundo Carla Campos. “Em pessoas com estrutura de personalidade mais frágil — como nos transtornos dissociativos, borderline ou em traumas complexos precoces — a linha entre fantasia e realidade pode se dissolver, dificultando a autonomia psíquica e social”, afirma. “O imaginário é uma ferramenta poderosa para a saúde mental, mas pode desencadear distúrbios psiquiátricos”, alerta.
A psicóloga explica que os bebês reborn também podem ser utilizados como recursos terapêuticos em casos como luto, por exemplo. “Em adultos que vivenciaram perdas gestacionais, luto por filhos ou solidão extrema, eles [os bebês reborn] podem representar um instrumento de elaboração emocional. Estudos recentes apontam que seu uso pode ajudar, por exemplo, pacientes com Alzheimer a resgatar memórias afetivas e manter-se emocionalmente conectados”, comenta. “Em casos de Alzheimer, pode reduzir sintomas de agitação e ansiedade. No luto, pode representar uma etapa de elaboração simbólica. Mas não substitui psicoterapia, relações significativas ou vínculos reais”, salienta.
Nesses casos, o objeto funciona apenas como um instrumento da terapia. Ou seja, o vínculo com o boneco não pode substituir a interação humana. “Em casos de traumas complexos, especialmente vivenciados na infância – como abuso sexual, negligência ou abandono – o apego excessivo a bebês reborn pode cristalizar padrões dissociativos, dificultando a reintegração da pessoa ao mundo real e ao convívio social saudável”, diz.
“Na atualidade, marcada por relações líquidas e uma sociedade cada vez mais digitalizada, os vínculos humanos profundos tornam-se escassos. Isso contribui para a busca de substitutos simbólicos, como os bebês reborn”, diz a especialista, que reforça que muitos autores alertam, porém, que a saúde emocional depende da sintonia entre seres humanos. “Sem isso, há o risco de reforçar um isolamento afetivo disfarçado de consolo”, alerta.