Conhecida por organizar um grupo de extrema-direita chamado 300 do Brasil, que ficou acampado na Esplanada dos Ministérios em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal (STF), Sara Giromini, que adotou o codinome Sara Winter, agora diz estar no México, casada com um cidadão norte-americano, atuando como “conferencista internacional”, analista política, escritora e professora. A cerimônia que marcou a união, segundo ela, aconteceu no último sábado (14).

No entanto, em se tratando de Sara Winter, é difícil crer em todas as informações que ela publica em suas redes sociais. Sua vida é marcada por controvérsias, mudanças bruscas de posicionamento político e de histórias fantásticas contadas pela própria. Muitas vezes, sem qualquer comprovação.

A paulista, que já integrou o Femen, mais fomoso, polêmico e agressivo grupo feminista do mundo, diz, entre outras coisas, ter recebido teinamento militar na Ucrânia, feito um aborto e se convertido ao conservadorismo em 2015, após dar à luz um menino.

A partir de então, Sara ou a defender causas cristãs, fazer palestras contra aborto e até a ocupar cargo no governo de Jair Bolsonaro, no Ministério da Mulher e dos Direito Humanos, chefiado por Damares Alves, com quem morou e chamava de “mãe”.

Sara liderou ataques ao STF, Congresso e prisão

Ao ser exonerada, Sara trocou os modelitos conservadores, marcados por saias longas, camisas discretas, laços na cabeça e sapatos novos em tons claros, por vestimentas militares. Fundou os 300 do Brasil e convocou bolsonaristas a lutarem a favor do governo e contra o STF e o Congresso Nacional.

Com apoio de parlamentares e empresários bolsonaristas, o grupo montou dois acampamentos. Primeiro, no gramado da Esplanada dos Ministérios, em frente ao Congresso. Depois, ao lado do Ministério da Justiça.

Para chamar a atenção, em  meio aos ataques contra as instituições, promovidos pelo próprio Bolsonaro, seus filhos e ministros, Sara organizou uma série de atos na Praça dos Três Poderes. 

Em uma noite, vestidos com fardas militares, os 300 – que na verdade nunca chegou a ter tal número de integrantes – marcharam com tochas em frente ao STF, pedindo o fechamento da Corte. Fogos de artifícios foram lançados contra o edifício-sede do tribunal.  

Sara foi além. Após sofrer busca e apreensão da Polícia Federal, autorizadas pelo ministro do STF, ela gravou vídeo pregando desobediência civil e chamando Alexandre de Moraes para “trocar socos”. E ainda disse que iria perseguí-lo.

Sara e outros bolsonaristas acabaram presos por federais no início de junho de 2020. Todos eram (e ainda são) acusados de participar de um grupo organizado que espalha notícias falsas contra as instituições, o fechamento do Congresso e a destituição dos ministros do STF e, no caso de alguns, até a volta da ditadura militar.

Sara Winter anunciou casamento com outro, há dois anos

Depois de ar 10 dias em um presídio feminino de Brasília, Sara voltou para casa com tornozeleira eletrônica e uma série de restrições, o que incluía viagem sem autorização judicial, encontro com os demais investigados e participação nas redes sociais. 

Figurando entre os investigados no inquérito dos ataques às instituições democráticas, ela anunciou, em junho de 2020, logo após ser solta, pelas redes sociais, o noivado com um colega de militância dos 300, a quem jurou amor eterno. 

"Depois da tormenta vem a paz. Hoje fui oficialmente pedida em casamento e, claro, ao homem da minha vida, disse sim", escreveu Sara. "Tentaram me destruir, mas me construíram 10 vezes mais forte. Enquanto uns babam de ódio, eu transbordo de amor. O casamento fica para o próximo fim de semana", acrescentou.

Ativista anunciou rompimento com Bolsonaro e atacou Damares

Menos de seis meses depois, dizendo ter sido traída e esquecida pelo presidente, seus filhos e ministro, Sara voltou aos holofotes ao anunciar um rompimento com o governo e o bolsonarismo.

"Não sei mais quem ele (Bolsonaro) é. O homem que eu decidi entregar meu destino e vida para proteger um legado conservador", escreveu no Instagram, em uma série de publicações em que atacava Bolsonaro.

Em uma sequência de vídeos postados na função stories do Instagram, Sara chorou e disse estar com depressão. "Eu vou ter que levantar e resolver meus problemas. E não tem Bolsonaro para ajudar e não tem Damares para ajudar", falou. 

“Se ele pedir para os bolsonaristas comerem merda, as pessoas vão comer”

Uma semana depois, em entrevista à revista Istoé, Sara reforçou a desilusão com o presidente. Entre os motivos, apontou a censura dentro do bolsonarismo, a falta de apoio e uma dívida de mais de R$ 3 milhões, referente à processos judiciais. 

A ativista se disse arrependida de ter feito o acampamento dos 300. "Não tem mais como defender Bolsonaro. Mas se ele pedir para os bolsonaristas comerem merda, as pessoas vão comer", disse em entrevista. 

Sara não revelou quem teve a ideia dos ataques ao STF e ao Congresso. Afirmou que a iniciativa do acampamento partiu dela e do blogueiro bolsonarista Osvaldo Eustáquio – preso à mesma época  – e "que se transformou numa histeria coletiva". 

Sara apontou Zambelli, Kicis e Heleno como apoiadores dos 300 do Brasil

No entanto, Sara contou que diversos parlamentares, como Daniel Silveira (PTB-RJ), Carla Zambelli (PSL-SP), Sargento Fahur (PSL-PR) e Bia Kicis (PSL-DF) foram muito presentes na organização do acampamento. Também citou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança (GSI), general Augusto Heleno.

Segundo a ativista, Zambelli era quem mais interagia com o acampamento. Também teria partido de Zambelli o direcionamento dos protestos contra Rodrigo Maia, então presidente da Câmara e apontado como adversário de Bolsonaro, apesar de não ter levado adiante nenhum pedido de impeachment do presidente. 

A atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Bia Kicis, tinha o papel de ajudar na estrutura da organização, segundo Sara. A deputada teria cedido um assessor de seu gabinete para acompanhar as reuniões com a Secretaria de Segurança do Distrito Federal. 

Além disso, durante a entrevista, ela disse que a influência do presidente Bolsonaro sobre o grupo era direta, mas que ele não poderia ser o "protagonista para não sofrer represálias".

Sara agora diz ser conferencista internacional e estar morando no México

Agora, conforme seus mais recentes posts nas redes sociais, em que ela só fala e escreve em espanhol ou inglês, Sara Winter se coloca como uma das maiores ativistas latino-americana contra o aborto e uma “conferencistas internacional”, além de professora, analista política, professora e escritora.

Foi pelo Instagram que, na última sexta-feira (13), ela afirmou estar morando em Cancún, o famoso balneário mexicani, e anunciou que iria se casar no sábado (14) com um norte-americano.

Em seu perfil na rede social,  Sara publica tirinhas debochando do feminismo e fotos com o homem que diz ser seu noivo.

“É, gente, estou [me] casando e estou em Cancún”, disse a brasileira em um vídeo em um restaurante ao lado do homem, antes de se mostrar falando espanhol com um funcionário do estabelecimento.

Ela prometeu publicar fotos da cerimônia, o que não havia acontecido até a manhã desta terça-feira (17).

Sara anuncia "treinamento para líderes conservadores"

Em seu novo momento, Sara afirma estar fazendo uma série de palestras pela América Latina. Fala em "treinamento para líderes conservadores". 

Nas redes sociais, ataca o aborto defende o armamento das mulheres contra a violência sexual. Também divulga pensamentos de seu mentor, o escritor Olavo de Carvalho, o guru do bolsonarismo.

"Sabe o tempo que você gasta em dezenas de grupos de direita discutindo à toa? Tire uma hora a cada 15 dias pra fazer uma ação de caridade concreta a alguém que realmente precisa por estar em uma situação de vulnerabilidade. Não busque só a reeleição de um presidente (que sim, é válida e necessária), mas também a salvação da sua alma", escreveu em no Instagram.

Em outro vídeo, Sara diz ter participado, por videoconferência, de uma audiência pública no Parlamento do Congresso Estadual de Puebla, estado do México, para defender a sua tese pró-vida. Os parlamentares de Puebla discutem a legalização do aborto.

Sara pede dinheiro para livros e indenização judicial

Ela, que diz manter uma “livraria on-line”, não perde a oportunidade de oferecer livros de escritores conservadores, como Olavo de Carvalho. 

Também oferece cursos para o público em geral e assessoria política. Afirma ter diversos políticos da América Latina como clientes, mas alega não poder dizer nomes por causa de cláusula de confidencialidade.

Sara ainda fornece dados bancários para contribuições, alegando que precisa de R$ 16 para pagar a indenização à antropóloga Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB), que chamou de 'maior abortista brasileira'.

Curiosamente, o perfil de Sara Winter no Instagram tem o fechado para internautas em Brasília. Alguns desconfiam que seja para o ministro Alexandre de Moraes não tomar conhecimento sobre o que ela anda fazendo e, principalmente, dizendo. 

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