CONSCIÊNCIA

Preconceito que envolve exame barra diagnósticos de câncer de próstata

Toque retal avalia tamanho, forma e textura da próstata do paciente

Por Jonatas Pacheco
Publicado em 07 de junho de 2024 | 05:00

Um dos exames indicados para pacientes com sintomas de câncer de próstata, o toque retal investiga se a doença está presente de fato. Apesar de simples e rápido, o procedimento ainda é um tabu para alguns, porque é considerado invasivo: o médico introduz no ânus do homem um dedo, protegido por luva lubrificada, para apalpar as partes posterior e lateral da próstata e avaliar tamanho, forma e textura da glândula.

“É essencial quebrar esse preconceito, esse medo, e ir à consulta com o urologista para o diagnóstico precoce (se for o caso)”, explica Rafael Fernandes, oncologista no Hospital Alberto Cavalcanti.

Ele ressalta que, muitas vezes, por preconceito ou receio, o homem deixa de ir à consulta com o médico, que seria essencial, e também não se submete ao exame. “A pessoa pode ter sintomas ou alguma doença em fase inicial que vai avançar e que não vai ser diagnosticada”, reforça o médico.

No caso do comerciante Giovani Vieira, que aos 45 anos queria ter um filho com a agora ex-mulher e fez exames preventivos, alterações no resultado do PSA e, posteriormente, no exame de toque retal levaram o urologista que o acompanhava a optar pela intervenção cirúrgica. O diagnóstico positivo do câncer de próstata veio já durante a gestação da filha, Manuela, hoje com 7 anos.

“Ver minha filha dando os primeiros os e falando as primeiras palavras me dava muita força para vencer a doença. Percebi que ela foi um presente para o momento que eu vivia”, conta.

O comerciante está curado e rea a própria experiência em palestras, nas quais alerta sobre a necessidade de combater esse mito sobre o toque retal. “Tento mostrar para meus amigos a importância de ir ao médico, de realizar os exames que forem necessários. Muitas vezes, rola brincadeira, mas, com meu exemplo de cura, consigo mostrar que, quanto antes descobrirmos a doença, mais chances de sobreviver”, conta.

"O câncer não bate à porta nem toca campainha. Chega chegando, chutando a porta. Por isso é muito importante que os homens se conscientizem, quebrem preconceitos e façam acompanhamento com um urologista. Se for diagnosticado, não desista. É possível vencer”, completou Giovani.

Acompanhamento frequente

Em casos sem histórico familiar, homens a partir dos 50 anos devem consultar um urologista para verificar a saúde da próstata anualmente. “Assim como a mulher precisa ter o cuidado em relação à mama, o homem tem que ter com a próstata”, aconselha Eliney Faria, urologista do Hospital Felício Rocho, em BH.

Sem consenso

Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde não recomendam o toque retal a homens sem sinal de câncer de próstata. Especialistas disseram ao Super, porém, não haver consenso sobre a indicação do rastreamento.

Rede pública oferece tratamento gratuito

O acompanhamento com urologista e também o tratamento, em casos de diagnóstico de câncer de próstata, podem ser feitos pela rede pública. As Unidades Básicas de Saúde (UBSs), presentes em todas as cidades mineiras, são a porta de entrada para os procedimentos.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos e radiológicos, além de procedimentos cirúrgicos e tratamento em hospitais habilitados em oncologia. 

Se há diagnóstico por biópsia, a Secretaria Municipal de Saúde de origem do paciente deve enviar a documentação do caso à Comissão Municipal de Oncologia da cidade de referência, para avaliação e encaminhamento para marcação de primeira consulta na alta complexidade.

Em Belo Horizonte há sete hospitais habilitados para atendimento oncológico pelo SUS: Alberto Cavalcanti, Hospital da Baleia, Hospital das Clínicas, Santa Casa, Hospital Luxemburgo, Hospital São Francisco de Assis e Hospital Felício Rocho.

Histórico familiar é relevante

Além da idade, outros fatores podem aumentar o risco de câncer de próstata. Um deles é o histórico familiar. A orientação de especialistas é que homens cujo pai ou irmão teve a doença antes dos 60 anos tenham atenção maior para a enfermidade e realizem acompanhamento com urologista a partir dos 40 anos.

O sedentarismo é outro fator de risco. “Minha recomendação para os homens é que pratiquem exercício físico regularmente, dessa forma evitando o sedentarismo. E também evitem fumar e consumir alimentos processados e com gordura animal em excesso. Basicamente, tenham uma vida saudável e consultem um médico regularmente”, orientou Rafael Fernandes, oncologista do Hospital Alberto Cavalcanti.

Também há estudos científicos que mostram que os tumores de próstata em homens negros aparecem mais precocemente e também com maior agressividade, como ressaltou Eliney Faria, urologista do Hospital Felício Rocho.