O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) instaurou um procedimento preliminar para investigar o fechamento, por tempo indeterminado, do bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), localizado na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Por meio da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde, o órgão informou à reportagem de O TEMPO, nesta quinta-feira (9 de janeiro), que enviará um ofício à presidência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), solicitando esclarecimentos sobre a transferência da equipe de saúde e dos pacientes do HMAL para o Hospital João XXIII. A Fhemig terá um prazo de 48 horas para apresentar a resposta.
Este é o terceiro órgão público a tomar medidas em relação ao fechamento do bloco operatório que, segundo o governo de Minas, ocorreu para "manutenção dos equipamentos". Nessa quarta-feira (8), o Ministério do Trabalho e Emprego também se pronunciou, convocando uma reunião com o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, representantes da Fhemig e trabalhadores do Hospital Maria Amélia Lins. O encontro está marcado para segunda-feira (13).
Já a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi o primeiro órgão a oficiar o Estado sobre a situação. A transferência das cirurgias do HMAL para o João XXIII sobrecarrega o pronto-socorro com mais 200 cirurgia mensais. Um dos médicos, que não será identificado, descreve a situação como “caótica”, com cancelamentos de cirurgias e ausência de previsão para reagendamento – o que pode resultar em uma espera de meses.
“No Amélia Lins, é comum termos uma escala fixa semanal. Em um dia, realizamos de 12 a 15 cirurgias. São casos agendados que precisam ser feitos dentro de um prazo. Desde que fomos transferidos para o João XXIII, essa escala não se mantém. Em alguns dias, metade das cirurgias é cancelada sem aviso prévio aos pacientes”, denuncia o cirurgião. Confira relato completo clicando AQUI.
Peças estragadas teriam motivado fechamento do bloco cirúrgico
A Fhemig informou que o intensificador de imagens "e outros equipamentos essenciais para a realização de cirurgias" foram danificados no bloco operatório do Amélia Lins. Por esse motivo, segundo a instituição, foi necessário fechar a ala para revisão. Os servidores denunciam que o bloco foi completamente esvaziado: móveis e equipamentos foram recolhidos, e as portas permanecem trancadas.
"Esse intensificador de imagens ter estragado não inviabiliza todas as cirurgias. Algumas ainda são possíveis de serem realizadas no Amélia Lins, não explica ter que fechar o bloco inteiro", critica a técnica de enfermagem do HMAL, Angélica Silva Manso Sampaio, de 40 anos. Ela foi uma das profissionais que participou de manifestação na porta do hospital nessa quarta-feira (8 de janeiro).
A técnica de enfermagem denuncia que a mudança de rotina tem prejudicado pacientes e trabalhadores. "Nós fomos remanejados de um dia para o outro, e aconteceu a sobrecarga. Cirurgias estão sendo canceladas. Muitas enfermeiras estão tendo crise de ansiedade. No João XXIII, é porta-aberta, urgência e emergência, nunca se sabe quando vai acontecer um desastre, e, por isso, com o pronto-socorro sobrecarregado, ele pode colapsar", alerta.
+ Fechamento do bloco cirúrgico do HMAL: entenda
Apesar das denúncias de demora no atendimento, a Fhemig crava que os procedimentos levados ao João XXIII “são de baixa complexidade e curto tempo de internação, entre 24 e 48 horas” e que “não houve nenhum prejuízo para os pacientes”. “Após a cirurgia, o paciente retorna para o HMAL para recuperação até o momento da alta. O Hospital João XXIII possui 8 salas em seu bloco cirúrgico, com capacidade plena para atender às demandas do próprio hospital e as encaminhadas pelo Hospital Maria Amélia Lins, sem qualquer prejuízo assistencial”, afirmou.
Em assembleia, trabalhadores formam comissão para pressionar Fhemig
Os trabalhadores da saúde do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL) se reuniram na tarde dessa quarta-feira (8 de janeiro) em uma assembleia para discutir o fechamento do bloco cirúrgico. Durante o encontro, foi formada uma comissão de funcionários encarregada de redigir um ofício direcionado à diretoria da Fhemig, solicitando a normalização dos atendimentos.
Os trabalhadores esperam que, até a próxima quarta-feira (15 de janeiro), a manutenção do bloco operatório seja concluída. Uma nova reunião está agendada para essa mesma data.
O que diz a Fhemig na íntegra?
"A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) reitera que o Hospital João XXIII, com oito salas em seu bloco cirúrgico, tem plena capacidade para atender casos de urgência, assim como os pacientes com cirurgias eletivas vindos do HMAL, e reforça que os usuários serão atendidos normalmente, sem prejuízo algum.
Informamos ainda que, durante um procedimento no HMAL, foram danificados o intensificador de imagens e outros equipamentos essenciais para a realização de cirurgias. Por isso, o bloco foi fechado para revisão.
Ressaltamos que o Hospital Maria Amélia Lins realiza somente cirurgias de baixa complexidade, classificadas como eletivas; ou seja, são programadas de acordo com a avaliação clínica do paciente e a capacidade operacional das unidades hospitalares.
Somente nos últimos dois anos, foram investidos R$ 31 milhões no Complexo Hospitalar de Urgência, do qual os dois hospitais fazem parte, com amplo investimento em equipamentos de ponta para o João XXIII, referência em politraumas, queimaduras e intoxicações."