DIA DA ÁFRICA

Africanos criam rede de apoio e resistência cultural em Belo Horizonte 

A Afrodiáspora, comunidade criada por africanos na capital, promove encontros, acolhimento e difusão da cultura do continente

Por Milena Geovana
Publicado em 25 de maio de 2025 | 05:00

Embora a cultura africana tenha influenciado a língua, a culinária, a religião e os costumes do Brasil, a população brasileira ainda conhece pouco sobre a África. Essa é a percepção do guineense Ivan Santin, que vive há 12 anos em terras brasileiras. “Muitas pessoas aqui não sabem que o meu país é, de fato, um país. Muita gente ainda considera a África como um só lugar, e não um continente”, afirma.

Ele não está sozinho: essa visão é compartilhada por outros africanos que vivem em Belo Horizonte. Foi para desmistificar os estereótipos que muitos brasileiros ainda têm sobre a África, e também para se fortalecer como estrangeiros longe de casa, que surgiu a Afrodiáspora, uma comunidade africana formada na capital mineira. Por meio de eventos, palestras e encontros, o grupo se reúne periodicamente, especialmente no Dia da África, para mostrar a diversidade dos países do continente.

Mais do que um movimento, a Afrodiáspora é também uma associação. Além de apresentar uma outra perspectiva sobre o continente africano, a iniciativa busca fortalecer os laços entre africanos que vivem em BH. A inspiração veio da antiga Casa África, espaço cultural que funcionou na cidade entre 2007 e 2018, fundado por Ibrahima Gaye, à época um estudante senegalês vivendo no Brasil.

A Casa África também era um ponto de encontro entre africanos e brasileiros e um espaço de promoção da cultura africana. “Muita gente aqui tem uma visão distorcida da África. E é por isso que muitos de nós, quando chegam ao Brasil, se sentem motivados a mostrar a cultura dos seus países”, explica Joel Nsumbo, engenheiro civil e um dos fundadores da Afrodiáspora. Ele mora no Brasil há 16 anos e veio para estudar.

Com o fechamento da Casa África, muitos africanos que viviam na cidade perderam esse ponto de encontro que facilitava trocas com pessoas de outras nacionalidades. Sentindo falta daquele espaço de convivência, uma nova geração decidiu resgatar a união que o antigo espaço proporcionava. “Era um lugar onde a gente se sentia em casa”, conta o engenheiro de produção e DJ Henderson Rodrigues, de 34 anos. Assim como Joel e tantos outros africanos, ele veio de Angola em 2009 para estudar no Brasil.

Hoje, a Afrodiáspora segue o mesmo princípio da antiga Casa África: aproximar pessoas. A proposta é conectar brasileiros e africanos. Isso acontece principalmente por meio de eventos, que também servem como ponto de chegada para quem ainda não conhece a comunidade. “A festa é uma forma de estarmos juntos. Mesmo sendo de países diferentes, conseguimos trocar ideias, falar de planos, pensar o futuro e compartilhar nossa cultura”, destaca Henderson.