Estratégia

Crimes do “novo cangaço” em MG caíram 92% em quatro anos

Polícia mineira monitora bandos paulistas que usam explosivos para atacar agências bancárias. Corporação associa resultados à criação de delegacia especializada

Por Pedro Nascimento
Publicado em 21 de setembro de 2021 | 03:00

Cenas de ataque a bancos e caixas eletrônicos, como as que ocorreram no fim do mês ado em Araçatuba (SP), se tornam cada vez mais raras em Minas Gerais. Desde 2016, os crimes do chamado “novo cangaço” caíram 92%, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG). Os números mostram que, de janeiro a junho deste ano, aconteceram quatro ataques a bancos com explosivos. No mesmo período de 2016, houve 157. E, naquele ano todo, foram 252.

Segundo a Polícia Civil, a queda nos registros desse tipo de crime nos últimos anos está relacionada à criação da Delegacia Especializada em Investigação e Repressão ao Roubo a Banco, em 2018. O delegado João Prata, que comanda os trabalhos da unidade, afirma que Minas Gerais estava na rota do crime organizado, especialmente das quadrilhas de São Paulo, que agiam preferencialmente em cidades do interior próximas do limite entre os dois Estados. Mas a situação se inverteu após um mega-assalto em Uberaba, no Triângulo, ocorrido em 27 de junho de 2019.

“Aquele episódio foi um divisor de águas no combate a esse tipo de crime em Minas Gerais, pois ali a polícia e o Judiciário conseguiram dar uma resposta rápida à atuação dos criminosos. Do bando de 25 pessoas, conseguimos capturar dez imediatamente. Eles já foram julgados”, disse o policial.

A condenação dos criminosos – em sua maioria ligados à facção Primeiro Comando da Capital (PCC) – ocorreu em setembro do ano ado, e as penas, somadas, ultraam 1.500 anos de prisão. Além de identificar quem cometeu o crime, a investigação da corporação revelou que o arsenal usado no Triângulo veio de ouro país, o Paraguai.

Foco em São Paulo

Para o delegado João Prata, não há dúvida de que as principais “cabeças” por trás desse tipo de ataque estão em São Paulo. Por isso, a delegacia monitora constantemente pessoas que têm ligação com esses crimes e que porventura deixam a prisão ou fogem do radar das autoridades. 

“Nesse tipo de ataque, é comum o envolvimento de criminosos contumazes, por isso a nossa preocupação”, disse o policial civil. 

No entanto, ainda segundo ele, o principal desafio é tentar identificar todos os responsáveis, uma vez que os bandos têm particularidades que dificultam a atuação da polícia. 

“Para fazer esse tipo de crime, são necessárias muitas pessoas. Tanto para fazer a contenção quanto para fazer o transporte, a logística... Então dificulta um pouco, porque eles são divididos em células, e muitas delas não se comunicam nem se conhecem, apesar de fazerem parte da mesma organização criminosa, exatamente para dificultar as nossas investigações”, detalhou João Prata.

Federação de bancos investiu em segurança

Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a queda nos registros de crimes é fruto, principalmente, dos investimentos do setor em tecnologia e capacitação de pessoal. “Tanto as agências quanto os postos de atendimento contam com sistemas de capturas de imagens, câmeras de visão noturna, sistemas de reconhecimento facial e sensores que identificam situações fora do comum que possam indicar a ação de bandidos, como aumento repentino de temperatura na agência ou movimentação dos caixas eletrônicos”, informou a entidade por meio de nota.

Ainda de acordo com a Febraban, o número de assaltos a bancos e de ataques a caixas eletrônicos tem mostrado queda acentuada desde o ano de 2014, quando 3.584 ocorrências foram registradas no país. Em 2020, os casos totalizaram 434, um recuo de 879% em nível nacional.

A entidade também acredita que a colaboração com as autoridades foi decisiva para identificar e punir os responsáveis pelo tipo de crime chamado “novo cangaço”. 

Polícias de todo o Brasil colaboram

Para ajudar na identificação dos criminosos, a Polícia Civil tem um robusto banco de dados, que se soma à apuração de policiais do país, disse o delegado. 

“Uma informação, por menor que seja, pode ajudar a identificar uma pessoa que de repente foi presa no Nordeste. Daí, puxando essa ficha, as equipes de lá conseguem comprovar que ela esteve em Minas, participou de ataques aqui, e isso pesa em uma condenação”, explicou João Prata. 

Cada detalhe importa na hora de analisar a cena do crime e o modo de ação dos bandidos, finalizou o titular da Delegacia Especializada em Investigação e Repressão ao Roubo a Banco.

VIOLÊNCIA EM QUEDA
Registros de roubos a bancos e lotéricas com uso de explosivos nos últimos anos em Minas Gerais
ANO (JANEIRO A DEZEMBRO) / QUEDA EM RELAÇÃO AO PERÍODO ANTERIOR
2016: 252
2017: 191 - 24,21%
2018: 95 - 50,26%
2019: 28 - 70,53%
2020: 14 - 50%

92% foi a redução total desde 2016


ANO (JANEIRO A JULHO) / QUEDA EM RELAÇÃO AO PERÍODO ANTERIOR
2016: 157
2017: 118 - 24,84%
2018: 54 - 54,24%
2019: 26 - 51,85%
2020: 12 - 53,85%
2021: 4 - 66,67%

(FONTE: OBSERVATÓRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA/REDS/SEJUSP)