Privatização

Grupo Comporte oficializa 'compra' do metrô de Belo Horizonte

Empresa já entrou em contato com o sindicato dos metroviários; assembleia está marcada para esta sexta-feira (24)

Por Gabriel Rezende e Juliana Siqueira
Publicado em 23 de março de 2023 | 17:29

O Grupo Comporte formalizou, nesta quinta-feira (23), a aquisição da totalidade das ações da Companhia Brasileira de Trens Urbanos em Minas Gerais (CBTU-MG) e da Veículo de Desestatização MG Investimentos (VDMG). Isso significa que, a partir de agora, a empresa é a detentora do direito de operação da concessão do serviço sobre trilhos em Belo Horizonte e em Contagem. 

A informação foi confirmada pela empresa. O Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro) informou ter recebido um comunicado interno da CBTU. 

"Assumir esta nova gestão em Minas é motivo de orgulho para o Grupo Comporte, que nesta quinta-feira formalizou a aquisição da totalidade das ações da VDMG e CBTU-MG, tornando-se assim seu proprietário e detentor do direito de operação da concessão do serviço de transporte metroviário nas cidades de Belo Horizonte e Contagem", diz trecho do comunicado interno.

Os servidores também disseram que foram procurados pelo Grupo Comporte para uma reunião na manhã desta sexta-feira (24), dia em que também está prevista uma assembleia da categoria.

As tratativas para do contrato de privatização do metrô de Belo Horizonte foram conduzidas junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A CBTU-MG, o Governo de Minas e o BNDES ainda não se manifestaram publicamente sobre o assunto. Contudo, a assessoria da Casa Civil confirmou a do contrato e disse que não há informação de quando ocorrerá a publicação no Diário Oficial da União (DOU).

O metrô de Belo Horizonte voltou a operar na última segunda-feira (20) após 34 dias de paralisação total. O ato foi uma manifestação dos metroviários, que pedem garantia de estabilidade de 1.600 empregos após a privatização do serviço.  

'Não aceitaremos calados', diz sindicato 

Diretor do Sindimetro, Pedro Vieira disse que os servidores, estão mobilizados. "A informação da venda sem que seja considerada alguma alternativa de manutenção dos empregos representa um grave problema. Não aceitaremos calados a perda dos nossos empregos", disse. 

Pedro também afirmou que a do contrato "desconsiderou completamente" a recomendação do Ministério Público do Trabalho (MPT), que havia pedido que fosse apresentada uma alternativa para manutenção dos empregos até esta sexta-feira. 

"Até o momento não há resposta, seja do governo federal ou dos compradores, sobre o destino dos empregados", afirmou. 

“Graças a Deus”, diz especialista

Especialista em transporte, Silvestre Andrade afirma que a privatização deverá ser muito positiva para a população. De acordo com ele, finalmente as pessoas poderão ter um serviço que “merecem” e “precisam”, já que o metrô de Belo Horizonte “padece de raquitismo há anos”.

“Graças a Deus”,  diz ele, ao falar sobre a privatização. “Apesar de todos os projetos, nunca houve a expansão do metrô. Os planejamentos são desde a década de 1970, do século ado! Muita discussão foi feita, várias vezes ouvimos que obras teriam início, mas não foi o que aconteceu”, afirma ele.

Com a privatização, as expectativas, segundo Andrade, são de que diversas melhorias ocorram. Ele cita como exemplo a construção de pelo menos mais uma linha, ligando os bairros Barreiro e Calafate, na região Oeste de Belo Horizonte.

Ainda conforme o especialista, as perspectivas são também de que haja a modernização dos veículos e do sistema de sinalização e de segurança do metrô.

“Com as mudanças, pode-se obter, inclusive, a redução do tempo de viagem entre os trens. O sistema do metrô de Belo Horizonte é antigo. É preciso algo mais sofisticado”, afirma ele.

As estações também deverão ar por reformas e melhorias, segundo Silvestre, inclusive com adaptações de mobilidade. “Foram muitos anos de espera e agora as obras irão iniciar”, diz.

Privatização do metrô

Com lance único de R$ 25,75 milhões, o Grupo Comporte — que reúne empresas de transporte rodoviário e urbano de ageiros, cargas e turismos — venceu o leilão de concessão do metrô de Belo Horizonte, realizado em 22 de dezembro na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

Com o resultado, a empresa se compromete a revitalizar a linha 1 e a criar a linha 2 ao longo dos próximos 30 anos. Para que as melhorias saiam do papel, há previsão de investimentos de R$ 3,7 bilhões. A maioria dos recursos sairá de cofres públicos: cerca de R$ 2,8 bilhões serão desembolsados pelo governo federal e R$ 440 mil pelo governo estadual. O restante será de responsabilidade da empresa.

O metrô era gerido pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa pública. Para o leilão, foi criada a CBTU Minas Gerais (CBTU-MG). O grupo vencedor comprou a CBTU-MG e obteve a concessão do governo estadual para operar o serviço público de transporte metroviário de ageiros na região metropolitana de Belo Horizonte pelos próximos 30 anos.

Grupo Comporte 

Fundado pelo empresário Constantino de Oliveira — conhecido como Nenê Constantino —, o Comporte funciona desde 2002 em vários setores do transporte no Brasil. O grupo é dos donos as linhas aéreas Gol, e presta serviço em cidades como Patrocínio e Formiga, em Minas Gerais, mas concentra atividades no interior de São Paulo.

Conforme relatório financeiro apresentado em 2021, o grupo registrou prejuízo líquido de R$ 36 milhões na comparação com 2020, com EBITDA de R$ 169 milhões no ano. No documento, a empresa classificou o período como “desafiador” devido à pandemia.