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Banco Central mantém a taxa básica de juros em 10,5% e pausa sequência de reduções

Decisão sobre Selic já era aguardada pelo mercado financeiro por causa de expectativas de aumento da inflação

Por Cinthya Oliveira
Atualizado em 19 de junho de 2024 | 20:00

Conforme o aguardado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, de forma unânime, manter a taxa básica de juros do Brasil em 10,5%, encerrando o ciclo de reduções iniciado em agosto de 2023. Nas últimas sete reuniões, a autoridade monetária realizou sete cortes de 0,5 ponto percentual na Selic, e um corte de 0,25 p.p., na última reunião, em maio. 

A decisão foi motivada por expectativas inflacionárias, devido à desvalorização do Real, e pelas crescentes preocupações com o equilíbrio das contas públicas. Atualmente, o  Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para o acumulado em 12 meses, está em 3,93%, valor que está dentro da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central, que tem limite máximo de 4,5%. 

Sobre o cenário externo, o Copom afirma que existe uma "incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países". 

Já sobre o cenário brasileiro, o comitê afirma que há riscos de aumento da inflação, devido a pressões globais, uma resiliência no aumento de preços no setor de serviços, uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada. "O comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária".

Nos comunicados da última reunião, em maio, o Copom não havia informado o que faria nos encontros seguintes. Na edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, já havia a indicação de que a taxa básica continuaria em 10,5% ao ano até o fim de 2024. Há um mês, a estimativa era de que a Selic encerrasse o ano em 10%.

Desagrada governo e setores

A decisão de manter a taxa em 10,5% certamente desagrada o governo federal. Nesta terça-feira (18), o presidente Lula criticou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista à rádio CBN. “Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está. Então, é preciso baixar a taxa de juro compatível com a inflação. A inflação está totalmente controlada”, afirmou Lula. 

A notícia também deve desagradar parte dos setores produtivos do país. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) continua defendendo uma maior redução na taxa de juros para fomentar os investimentos. 

“A interrupção dos cortes da Selic é motivo de preocupação, pois a política monetária ainda se apresenta restritiva, o que desencoraja investimentos e afeta negativamente a capacidade produtiva do país. Os resultados dessa política contracionista já são sentidos na economia: a expectativa é de um crescimento econômico mais moderado em 2024 (2,0%) em relação a 2023 (2,9%). Além disso, a indústria, segmento importante para a geração de emprego e renda, vem sendo impactada duramente pelos juros em níveis elevados”, argumentou a Fiemg por meio de nota. 

Já o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais – Fecomércio MG, Nadim Donato, considerou acertada a decisão de manutenção da Selic. “É imprescindível melhorar nossa gestão das despesas, a eficácia na utilização dos recursos e a produtividade do Estado. Assim, aumentaremos nossa efetividade e melhoraremos os gastos sociais, possibilitando um crescimento sem inflação”, disse o empresário. “Acreditamos ser imprescindível um diálogo entre as forças políticas e empresariais que trace diretrizes e tomadas de decisões, criando as condições necessárias para que prevaleça a estabilidade inflacionária e tenhamos um crescimento vigoroso”.

Para a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), é preciso equilibrar política fiscal com a monetária para manter o crescimento das vendas no comércio. “O compromisso em equilibrar as finanças públicas, reduzir gastos e aumentar as receitas ajudaria a manter as boas expectativas com a melhora na intenção de consumo das famílias, recuperação da renda e queda do endividamento. Como se sabe, a redução dos juros é um dos incentivadores do consumo e da economia. Por esse motivo, é também um anseio dos setores produtivos, sobretudo do comércio”, analisa o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva. 

Quem atua no mercado financeiro comemora a decisão do Copom. Segundo Marcelo Bolzan, CGA, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, "o mercado vai receber bem a decisão e o comunicado. Amanhã devemos observar queda no dólar e nos juros futuros, enquanto que a bolsa deve abrir em alta refletindo maior otimismo com a política monetária".

O que é a taxa Selic?

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas istrativas.

Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.

(Com Agência Brasil)