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Plano Safra: governo Lula vai buscar TCU para tentar reverter suspensão de linhas de crédito

Contratações foram congeladas por falta de recursos no Orçamento do governo federal

Por Folhapress
Publicado em 21 de fevereiro de 2025 | 11:02

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai buscar o TCU (Tribunal de Contas da União) para tentar reverter a suspensão das linhas subsidiadas do Plano Safra 2024/2025, cujas contratações foram congeladas por falta de recursos no Orçamento.

Segundo o Ministério da Fazenda, a interrupção foi necessária porque o custo para bancar a equalização das taxas de juros das linhas ficou maior em um momento de alta da Selic —que amplia a diferença em relação à taxa cobrada do produtor, elevando a fatura do subsídio bancado pelo governo.

Na manhã desta sexta-feira (21), a Fazenda informou, em nota, que o ministro Fernando Haddad "encaminhará ofício ao Tribunal de Contas da União em busca de respaldo técnico e legal para a imediata retomada das linhas de crédito com recursos equalizados do Plano Safra 24/25". O comunicado não esclarece o que o governo vai pedir ao TCU no ofício.

A Fazenda afirma que as linhas foram suspensas "por necessidade legal", devido à não aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2025 pelo Congresso Nacional. Na quinta-feira (20), a pasta disse que, na votação do Orçamento, fará "os ajustes necessários, diante do impacto gerado pelas novas estimativas relacionadas à taxa Selic". A apreciação só deve ocorrer depois do Carnaval.

A suspensão atinge todas as linhas, exceto aquela destinada a ações de custeio no âmbito do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Nas linhas subsidiadas, o governo banca uma parte do custo do empréstimo para que os produtores consigam tomar os recursos a uma taxa menor do que a Selic. Com isso, o Plano Safra 2024/2025 ofereceu taxas de juros de 8% ao ano para custeio e comercialização, e entre 7% e 12% ao ano para investimentos.

O plano, porém, foi elaborado quando a Selic estava em ciclo de queda. Em seu lançamento, no início de julho do ano ado, a taxa básica já havia caído a 10,50% ao ano. O subsídio que o Tesouro banca equivale ao diferencial entre as taxas.

O custo aumentou porque, desde setembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central vem elevando a taxa básica, que já está em 13,25% ao ano e deve subir a pelo menos 14,25% ao ano.

O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio), divulgou um vídeo no Instagram dizendo que a frente solicitou informações para os ministérios da Agricultura e da Fazenda e chamou o secretário de política agrícola do Mapa, Guilherme Campos Júnior, para ir à FPA explicar a medida.

"É um prejuízo importante de realizar operações em um momento tão necessário para a nossa agricultura", disse Lupion.
Em nota, a Frente afirmou que a falta de responsabilidade fiscal do governo e a desvalorização da moeda levaram à alta da Selic, e que a suspensão do plano pode levar a um aumento no preço dos alimentos.

"Itens da cesta básica, como proteínas e ovos, têm seus custos de produção diretamente afetados, já que as rações utilizadas são produzidas a partir de grãos, culturas impactadas pela falta de recurso", disse a entidade.

No final de janeiro, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já havia indicado que o aumento na taxa básica de juros acendeu um alerta dentro do governo. Na ocasião, ele se reuniu com o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e disse que o governo buscava soluções alternativas para a elaboração do Plano Safra 2025/2026.

Segundo ele, o Executivo discute instrumentos para tentar conciliar a oferta de linhas subsidiadas com o espaço disponível no Orçamento, o que pode incluir taxas de juros diferenciadas por tipo de cultivo.

Esse é um mecanismo que já existe no âmbito do Pronaf, mas o governo estuda replicá-lo no Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural). Outras possibilidades, segundo ele, seriam ampliar o uso das LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) para financiar a agropecuária (o título oferece isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos dos investidores, o que contribui para baratear o custo de quem toma os recursos emprestados) e incentivar maiores captações externas. O ministro também citou a modernização do seguro rural entre as discussões. (IDIANA TOMAZELLI)