GRIPE AVIÁRIA

Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo; saiba os principais compradores

Em função da identificação da circulação do vírus H5N1, causador da doença, China e União Europeia suspenderam as compras dos produtos brasileiros por 60 dias

Por Simon Nascimento e Nubya Oliveira
Publicado em 16 de maio de 2025 | 16:35

A confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja do Rio Grande do Sul deixou o mercado brasileiro e internacional em alerta, já que o Brasil é o maior exportador de carnes de frango do mundo. Em função da identificação da circulação do vírus H5N1, causador da doença, China e União Europeia suspenderam as compras dos produtos brasileiros por 60 dias. Não há riscos a humanos

O impacto é grande, já que a China, especificamente, é o principal destino das exportações do Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do total de 5,16 milhões de toneladas de carnes de frango enviadas a outros países em 2024, mais de 562 mil toneladas, 17,65% do total, desembarcaram na China.

Em seguida, no segundo lugar no ranking de compradores, estão os Emirados Árabes Unidos, que adquiriram mais de 455 mil toneladas. A União Europeia, que aplicou embargo à carne de frango brasileira, é a sétima maior compradora, com 231.890 toneladas. As transações brasileiras ao exterior no ano ado somaram US$ 9,93 bilhões, segundo a ABPA. 

Com a descoberta do caso de gripe aviária, um levantamento preliminar realizado pela consultoria Safras & Mercado projetou que o volume de exportações do Brasil nos próximos meses pode ter uma queda em torno de 15% a 20%. A projeção é justificada porque o Rio Grande do Sul, o terceiro maior exportador do país, está suspenso de comercializar o produto.

“Suspendemos o Rio Grande do Sul das exportações, cumprindo o protocolo, mas o restante do Brasil continua com o fluxo comercial normal", disse nesta sexta-feira (16/5) o ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro.Em razão disso, estima-se que o Estado gaúcho tenha prejuízos significativos. 

“A China importa mais de 40 mil toneladas mensais do RS, uma fatia de mais de 10% das exportações brasileiras. Em primeira análise, haverá maior disponibilidade de produto no mercado doméstico, com potencial para recuo das cotações ao longo de todas as etapas da cadeia produtiva”, enfatiza o analista de Safras & Mercado, Fernando Iglesias. 

Além de enviar a carne para o território chinês, o RS ainda embarca mensalmente em torno de 8,37 mil toneladas para os Emirados Árabes; 7,6 mil para a Arabia Saudita; e 2,16 mil toneladas para o Japão. Segundo Iglesias, apesar da gravidade do caso, a estrutura atual dos acordos comerciais firmados pelo Brasil tem permitido uma abordagem mais flexível por parte de alguns parceiros internacionais. 

“Países como Japão e os integrantes do Oriente Médio podem restringir a compra temporariamente apenas do Rio Grande do Sul, ou mesmo das áreas específicas em que a doença foi identificada, mantendo abertas as importações de outras regiões brasileiras,” explica. 

O caso 

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou nesta sexta-feira (16/5) a detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade em uma granja de aves comerciais no Rio Grande do Sul. A detecção, que pode levar a embargos comerciais, ocorreu no município gaúcho de Montenegro, de 64 mil habitantes, e é o primeiro foco da doença registrado em sistema de avicultura comercial no país, disse a pasta, em comunicado.

O ministério disse que está tomando as medidas necessárias para conter e erradicar o foco, além de realizar a comunicação oficial à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), aos parceiros comerciais do Brasil e outros.

"As medidas de contenção e erradicação do foco previstas no plano nacional de contingência já foram iniciadas e visam não somente debelar a doença, mas também manter a capacidade produtiva do setor, garantindo o abastecimento e, assim, a segurança alimentar da população", explicou o comunicado.

O que é o H5N1, causador da gripe aviária?

É uma variante do vírus da gripe comum, integrante da família influenza. A variação H5N1 é comum em aves.

Qual a letalidade em aves? 

Extremamente alta, segundo o professor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP Paulo Eduardo Brandão. O vírus é transmitido rapidamente, e o número de mortes costuma ser ainda maior em granjas, que concentram muitos animais em um espaço pequeno.

O vírus é novo? 

Não. Um ancestral dele é conhecido desde 1996 por infectar gansos. No Brasil, há registro de casos em animais silvestres desde 2023.

É seguro consumir carne de frango e ovos? 

Sim. Comer produtos de um animal contaminado não transmite o vírus para humanos.

Humanos podem ser contaminados? 

A forma de transmissão da influenza é via gotículas aerossóis de espirros e fezes. Assim, há uma pequena chance de isso acontecer por meio do contato direto com animais vivos contaminados ou locais de criação.

Outros animais podem ser infectados? 

Nos Estados Unidos, já houve registro de infecção de bovinos, e pessoas contraíram a doença após contato com o gado. No Chile, houve contaminação de leões marinhos.

O que fez o governo brasileiro? 

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) decretou emergência zoossanitária por 60 dias no município de Montenegro (RS). A pasta também trabalha no rastreio da produção do estabelecimento onde foi confirmado o caso.

Por que o vírus pode gerar embargos comerciais? 

Os países têm políticas de suspensão de importações de lugares onde houve detecção de gripe aviária para evitar a entrada do vírus em zonas livres da doença.

A situação pode sair do controle? 

Sim. Para a veterinária especialista em zoonoses Paula Giaffone, os Estados Unidos são um exemplo negativo. "Nos EUA, a situação está realmente complicada, o vírus se espalhou por granjas, atingiu rebanhos leiteiros e é encontrado até em testes de água, nos sistemas de distribuição de água."

Há reflexos para o consumidor? 

A gripe aviária já levou ao sacrifício de mais de 120 milhões de aves nos Estados Unidos e é um dos principais fatores responsáveis pela alta no preço dos ovos no país.