Apesar do aumento da taxa básica de juros e da alta nos preços de alguns produtos e serviços, o consumo das famílias em Minas Gerais deve crescer e atingir o valor de R$ 837,2 bilhões em 2025. A estimativa é do Índice de Potencial de Consumo (IPC Maps) e, de acordo com a nova pesquisa, o consumo deve representar um crescimento real de 3,37% em comparação com o ano ado, quando foi de R$ 742,1 bilhões. 

Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing Editora e responsável pela pesquisa, a melhoria dos níveis de emprego com carteira assinada proporcionou uma garantia de renda ao trabalhador, refletindo diretamente na escalada dos valores de consumo. Em Minas Gerais, foram gerados quase 140 mil novos postos de trabalho com carteira assinada em 2024, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Somente em abril deste ano, foram 29.083 novos empregos com carteira assinada no Estado.

“A estabilidade faz com que os trabalhadores se sintam mais confiantes em consumir produtos de maior valor e o medo de parcelar também fica menor. A expectativa é que Minas seja responsável por 10,27% do consumo nacional neste ano, número maior que os 10,15% do ano ado. Parece pouco, mas isso representa cerca de R$ 10 bilhões a mais rodando na economia do Estado”, analisa o especialista. Atualmente, a taxa de desocupação no Brasil é de 6,6%.

O jovem Ruan Ferreira de Almeida, 18, é a prova de que o mercado formal pode aumentar o potencial de consumo. Nascido no interior de Minas, ele se mudou para BH para morar com a irmã e, há pouco mais de um mês, conseguiu seu primeiro emprego de carteira assinada como ajudante de produção na rede de supermercados Verdemar.

“Essa garantia de renda fixa me permite realizar alguns planejamentos. Uma das minhas metas é morar sozinho e já tenho comprado alguns móveis. Também quero me estabelecer na cidade para cursar uma faculdade de ciências biológicas futuramente. O emprego nos dá perspectiva de futuro”, afirma. 

De acordo com Leandro Pinho, superintendente de RH do Verdemar, em 2025 a rede já realizou cerca de mil contratações - boa parte delas impulsionada pela maior loja da marca, inaugurada em janeiro deste ano no Belvedere, na região Centro-Sul de BH. “Nosso ritmo de contratação é sempre grande, pois sempre precisamos de colaboradores para as novas unidades ou para repor vagas”, garante.  

Ruan com Leandro Pinho, superintendente de RH do Verdemar: "empresa contratou mais de mil só neste ano". Foto: Alex de Jesus/O Tempo 

Além dos novatos, quem já está há mais tempo no mercado também tem conseguido migrar de modelo de contratação. A web designer Caroline Borges, 35, atuou por meses como PJ e teve a oportunidade de sua carteira na mesma empresa. Contratada como CLT há mais de um ano, ela comemora esse o na carreira. 

“Para mim, foi super benéfico. Mensalmente, eu até perco um pouco de renda por conta dos descontos. Porém, vale a pena ter direito a 13º, FGTS e seguro-desemprego. Ainda faço alguns trabalhos freelancer para tirar um dinheiro extra, mas ter a segurança de um salário fixo é fundamental”, afirma. 

BH é destaque no país

O estudo mostra também que Belo Horizonte é a cidade com maior potencial para consumo em Minas neste ano, com previsão de quase R$ 130 bilhões, seguida de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e Contagem, na região metropolitana. No Brasil, a capital mineira fica na quarta posição, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. 

“No último ano, BH ganhou participação no consumo nacional, aumentando de 1,54% para 1,59%, o que difere da média das capitais, que perderam participação entre 2024 e 2025. A hipótese mais provável para este ganho de participação é o aumento de empregos com carteira assinada, que pode ter sido mais forte do que nos outros Estados”, analisa Pazzini.

Só no setor da construção civil, por exemplo, Belo Horizonte gerou 5.349 vagas de carteira assinada no primeiro trimestre deste ano - representando 61% do total de empregos gerados na cidade neste período. Os números são do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).

Na avaliação de Pazzini, o consumo poderia ser ainda maior, “se não fosse a alta carga tributária que incide sobre os produtos”, e é preciso atenção às taxas de juros e à alta da inflação. “Por enquanto, isso ainda não é um problema. Mas, caso esse cenário se torne mais instável, as pessoas vão diminuir o consumo. A maioria dos brasileiros não quer contrair dívidas e correr o risco de sujar seu nome”, diz. 

Abertura de empresas 

Outro motivo para o otimismo em relação ao consumo neste ano foi a abertura de 123.238 empresas em MG entre abril de 2024 e 2025 - número 4,9% maior em relação ao período anterior. Pazzini aponta que, desta vez, o crescimento foi puxado principalmente pelas Microempresas (MEs) em detrimento dos Microempreendedores Individuais (MEIs), cuja quantidade basicamente se manteve. 

“Isso é um reflexo do aumento do emprego formal. Muitos trabalhadores recorreram ao MEI quando precisavam gerar renda e deixaram essa categoria após conseguir um trabalho de carteira assinada. Tudo faz parte de uma cadeia virtuosa. Mais empresas abrindo, mais empregos sendo gerados e mais trabalhadores consumindo”, avalia. 

Maiores despesas

A pesquisa também aponta que, em Minas Gerais, as principais despesas das famílias estão concentradas em habitação, manutenção de veículos próprios e alimentação dentro e fora dos domicílios. Somados, estes setores concentram quase R$ 382 bilhões dentro do total projetado para consumo pelos mineiros no levantamento. 

No caso da habitação, a previsão é de R$ 177 bilhões. Outro número que chama atenção diz respeito aos gastos com veículos próprios, estimados para R$ 90 bilhões. Pazzini aponta que este segundo segmento vem crescendo desde a pandemia. “Muitas pessoas ficaram desempregadas e descobriram o potencial das corridas por aplicativo ou do serviço de entregas para gerar renda e sustentar suas famílias”, aponta. 

Consumo no Brasil deve bater R$ 8 trilhões 

Já no Brasil, o consumo das famílias em 2025 deverá injetar até R$ 8,2 trilhões na economia. O montante deverá representar um crescimento real de 3,01% em relação a 2024, que registrou um consumo de R$ 7,3 trilhões. Os cálculos foram feitos levando em consideração a expectativa de crescimento de 2% do PIB nacional para o ano. 

Ranking das cidades com maior potencial de consumo em MG*:

  • 1º - Belo Horizonte (R$ 129,7 bilhões)
  • 2º - Uberlândia (R$ 38,1 bilhões)
  • 3º - Contagem (R$ 31,2 bilhões)
  • 4º - Juiz de Fora (R$ 27,4 bilhões) 
  • 5º - Uberaba (R$ 17,5 bilhões) 
  • 6º - Betim (R$ 16,4 bilhões) 
  • 7º - Montes Claros (R$ 16,2 bilhões)
  • 8º - Divinópolis (R$ 11,2 bilhões)
  • 9º - Ribeirão das Neves (R$ 10,6 bilhões)
  • 10º - Ipatinga (R$ 10,4 bilhões)

Fonte: IPC Maps 2025*

Categorias com maior potencial de consumo em MG*:

  • 1º - Habitação (R$ 177 bilhões)
  • 2º - Outras despesas (R$ 137 bilhões)
  • 3º - Veículo próprio (R$ 90 bilhões)
  • 4º - Alimentação no domicílio (R$ 69 bilhões) 
  • 5º - Alimentação fora do domicílio (R$ 47 bilhões) 
  • 6º - Materiais de construção (R$ 32 bilhões) 
  • 7º - Plano de saúde e tratamento dentário (R$ 31 bilhões)
  • 8º - Medicamentos (R$ 27 bilhões)
  • 9º - Higiene e cuidados pessoais (R$ 23 bilhões)
  • 10º - Educação (R$ 21 bilhões)

Fonte: IPC Maps 2025*