As indústrias do aço e do alumínio no Brasil manifestaram preocupação com a elevação das tarifas de importação pelos Estados Unidos de 25% a 50%. A elevação foi determinada pelo presidente Donald Trump e pode, segundo a indústria brasileira, gerar instabilidade aos setores e agravar uma situação já delicada.
Em notas, o Instituto Aço Brasil e a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) manifestaram preocupação com a medida implementada pelo presidente norte-americano. De acordo com o Aço Brasil, o aumento da taxa a todos os países, exceto o Reino Unido, agrava as condições de um setor que, atualmente, conta com um excedente de 620 milhões de toneladas de matéria-prima.
“A medida intensifica práticas protecionistas e compromete a estabilidade do comércio internacional de aço. Em 2024, os Estados Unidos importaram 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, sendo 3,4 milhões de toneladas provenientes do Brasil. Os dados evidenciam que a demanda por esse insumo não será suprida internamente de forma imediata, tornando a imposição de tarifas adicionais prejudicial, tanto para exportadores brasileiros, quanto para setores industriais norte-americanos”, diz o instituto.
A entidade pede uma atuação do governo federal para restabelecer o acordo bilateral entre EUA e Brasil, vigente desde 2018. A parceria permitia a exportação do aço brasileiro à indústria norte-americana em um sistema de cotas, sem cobranças adicionais. “Reafirmamos a disposição da indústria brasileira do aço em contribuir para a construção de um ambiente de comércio internacional pautado por regras claras, previsibilidade e respeito mútuo”, diz.
Brasil deve dar resposta estratégica, diz Abal
A Associação Brasileira do Alumínio, por sua vez, afirmou que espera uma resposta estratégica e calibrada do governo brasileiro. Segundo ela, a decisão de Trump amplia o cenário de incertezas, além de reforçar a importância de instrumentos de defesa comercial. A entidade citou a necessidade de uma visão de longo prazo para reposicionar o Brasil nas cadeias globais.
“A medida é anunciada em um cenário de crescente instabilidade nos mercados internacionais, marcado por disputas comerciais, reconfigurações geopolíticas e desafios sistêmicos para a indústria de base em todo o mundo. Mais do que uma decisão isolada, o anúncio sinaliza uma nova realidade global, em que a volatilidade se torna constante e impõe riscos adicionais às cadeias produtivas”, diz a associação em nota.
O momento, conforme o setor de alumínio, exige cautela e precisão na adoção de medidas emergenciais, como o reforço dos instrumentos de defesa comercial e ajustes tarifários para conter práticas desleais e desvios de comércio. “Não se trata de atribuir responsabilidade a governos ou lideranças específicas. A realidade é que estamos diante de um cenário em que medidas protecionistas coexistem com agendas industriais mais coordenadas. Nesse contexto, proteger apenas um elo da cadeia é insuficiente se o país permanece vulnerável na produção dos insumos que a sustentam”, ponderou.
A Abal citou que o Brasil dispõe de ativos estratégicos para enfrentar a realidade de medidas protecionistas, como a 4ª maior reserva de bauxita, a 3ª maior produção global de alumina e uma cadeia produtiva verticalizada, com elevada taxa de reciclagem e investimentos crescentes em energia limpa. “Estima-se que até 90% do alumínio primário produzido nos EUA tenha o DNA brasileiro”, frisou.
A entidade citou que mantém diálogo com o governo brasileiro e autoridades internacionais para assegurar condições justas de competição “e garantir o devido reconhecimento do papel estratégico do alumínio nacional na economia de baixo carbono”.