A inteligência artificial (IA) evoluiu de forma exponencial nos últimos anos, atingindo públicos dos mais variados, inclusive pessoas leigas. O o às ferramentas está cada vez mais facilitado, o que faz com que elas cheguem, inclusive, às mãos de adolescentes e crianças, o que, na visão de especialistas, pode ser um perigo. Para mitigar os impactos desse o fácil, as escolas podem ter um papel importante: o de desenvolver senso crítico ao trazer o tema para dentro da sala de aula.

Essa é a visão do CEO da plataforma de solução educacional AZ, Sandro Bonás. O assunto IA na Educação foi, inclusive, tema de sua palestra no Minas Summit, que acontece em Belo Horizonte nesta quinta e sexta-feira (5 e 6 de maio). Sandro lembra que o assunto IA precisa ser tratado com cuidado e seriedade, principalmente quando se trata de crianças e jovens. “Os grandes grupos que estão liderando essa corrida de IA têm interesse econômico, né? E o interesse da escola é formação”, comenta. “Quando a gente fala de crianças, o perigo é maior. Nós estamos falando de dados, de privacidade e de segurança. Os modelos IA que a gente conhece não foram feitos para as crianças, eles foram feitos para os adultos”, argumenta.

Sandro lembra que, ao ar ferramentas de IA, todos estão expostos a riscos, principalmente quando envolve a troca de dados sensíveis. E aqui entra o papel da escola, como forma de dar conhecimento aos alunos sobre esses riscos. “O letramento em IA, para mim, é a parte mais importante do papel da escola. Isso que aconteceu ontem em Belo Horizonte se dá porque o assunto da IA não está sendo discutido na escola. Não como ferramenta, mas sua implicação ética. Esse é papel da escola”, comenta, lembrando o caso de uso de IA por alunos de uma escola particular em BH que criaram falsos “nudes” a partir de fotos de colegas.

Esse é um exemplo, na visão do especialista, da falta de noção do potencial que a IA tem. “A gente não pode entrar numa luta de ‘ah, o aluno está usando IA para colar’, esse é o menor dos fenômenos”, rebate.
 
“A gente pode falar dos efeitos da inteligência artificial e os impactos na sociedade desde os 6 aninhos. Essa pauta já vem sendo trazida pela OCDE, pela UNESCO, por alguns organismos internacionais para ajudar os governos e as escolas a discutir a IA sob essa ótica do letramento”, argumenta. “Se a gente não fizer isso com as crianças, elas vão estar vulneráveis para manipulação, para criar deepfakes, que é o que aconteceu em BH”, completa.

E para a inserção do assunto dentro da escola não bastaria apenas promover debates sazonais, palestras, cursos. O ideal, segundo Sandro, é colocar o tema dentro do planejamento escolar. “A gente precisa que isso permeie o currículo de maneira interdisciplinar na escola. Há espaço na carga horária escolar, no dia a dia de aula e, por isso, a gente vai ter que fazer primeiro o letramento dos professores, do ambiente escolar, para poder também chegar ao estudante”, pontua. “Se não fizer isso, esses jovens formados não vão ser capazes de lidar com o potencial que a IA vai ter”, frisa.

Desigualdade social 2k3657

Além disso, esse letramento, na visão de Sandro, precisa ser trabalhado na educação como um todo, englobando serviço público e privado, além de ser um debate necessário na esfera governamental. “Você imagina uma escola privada, por exemplo, que coloque letramento IA no seu currículo, e um aluno formado numa escola pública que não teve o a isso. O nível de competição vai ser tão brutal para esse aluno que teve o letramento IA e usa a tecnologia, que a gente vai ampliar ainda mais as desigualdades sociais no nosso país e globalmente”, diz. “Acho que essa é uma preocupação governamental, mas não vejo isso acontecendo de maneira muito intensa no Brasil.”