Uma bibliotecária viciada em referências literárias e filmes de arte e um turrão empenhado em ser o típico “hetero-pop” estão perdidamente apaixonados e não conseguem viver um sem o outro. A “qualidade do texto e a vontade de falar de amor” motivou o ator e diretor Alexandre Toledo, idealizador da Cia. da Farsa, a embarcar em “O Submarino”, peça de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa (1947-2023), que aborda a conflituosa relação entre Rita e César. No palco, Toledo é acompanhado pela atriz Taís Avlis, enquanto a direção cabe a Sérgio Abritta, parceiro de longa data, na quinta contribuição que realizam juntos. O espetáculo estreia nesta sexta (31), em BH.
“É uma história que já vimos milhares de vezes, pera o teatro, os romances, as fotonovelas da minha época e filmes clássicos da comédia romântica”, constata Toledo, que cita “Sintonia de Amor”, “Harry e Sally – Feitos Um para o Outro” e “Um Lugar Chamado Notting Hill” como exemplos marcantes. “Eles perseveram no amor, é uma história de idas e vindas. Casam, separam, voltam, separam de novo, mas nunca perdem o amor que têm um pelo outro”, diz.
Em tempos de “relações tão abaladas”, sobretudo durante a pandemia, que registrou alto número de divórcios porque, segundo Toledo, “as pessoas aram a conviver mais e a não se ar”, ele considera essa perseverança uma “grande mensagem”. “É como diz aquela música do Nando Reis que o Jota Quest gravou: ‘o amor pode estar do seu lado’”, cantarola, sem traço de timidez.
Para compor seu personagem, Toledo se inspirou no francês Jonathan Cohen, estrela da série “Negócios de Família”, da Netflix, depois de um mergulho de mais de um mês em trabalhos de mesa com Abritta, tendo como faróis os mestres Lee Strasberg (1901-1982) e Constantin Stanislavski (1863-1938), um ucraniano e o outro russo, respectivamente. “Mas a maior parte a gente tira é da gente mesmo”, garante Toledo.
“Somos um manancial de muitas histórias, recalques, medos e alegrias, que estão todas arquivadas em algum lugar do inconsciente que a gente tenta ar. Não é porque é uma comédia que não haja preparo”, complementa ele, que, de início, pensou “nos amores e relações que viveu” para utilizar tais lembranças em proveito da criação.
Divertir para refletir
Em 1997, jornais de todo o país anunciavam que Miguel Falabella se rendia à comédia romântica, após décadas dedicado ao escracho do Besteirol, movimento que catapultou à fama gente como Pedro Cardoso, Guilherme Karan (1957-2016) e Mauro Rasi (1949-2003).
Foi durante uma viagem que Toledo se embrenhou em textos de Falabella e Rasi, os mais celebrados dramaturgos daquela geração. “Achei os do Falabella mais engraçados”, ite. A montagem original trazia Zezé Polessa ao lado de Falabella. Toledo e Abritta realizaram mudanças pontuais, que correspondem, “no máximo, a 5% do texto, o resto da trama está inteirinha no palco…”.
Toledo alega que, “termos que eram encarados com certa naturalidade nos anos 90, hoje em dia não são mais aceitos”. Por conta disso, uma agem “terrivelmente racista, zombando de uma manifestação religiosa de matriz afro-brasileira muito forte”, se transformou numa piada com “cartas, tarô, vidente”, que “pode até ser incorreta, mas não ofende as pessoas diretamente em relação à raça e religião”, pontua o ator.
Nessas horas, ele considera o gênero da comédia romântica ideal, pela capacidade de “buscar a reflexão e divertir ao mesmo tempo”. “A peça fala de algo sério que é a relação de um casal, mas tem a leveza da comédia. Brinca-se com vários assuntos, inclusive em relação aos problemas sexuais do casal, mas com respeito”, conta Toledo.
De certa feita, em outra encenação, ele e sua trupe distribuíram papeizinhos na entrada para saber a opinião da plateia acerca de uma “versão bem livre” da célebre peça “Entre Quatro Paredes”, de Jean-Paul Sartre (1905-1980), quando uma pessoa escreveu: “Se quisesse pensar, eu tinha ficado em casa”, recorda Toledo, aos risos. “Muitas vezes, as pessoas têm medo de ir ao teatro por acharem que ele trata de coisas muito sérias, ou você tem o oposto, que é a comédia rasgada, sem compromisso”, constata o artista, que procura equilibrar-se na corda-bamba do ofício…
Serviço.
O quê. Peça “O Submarino”, com Alexandre Toledo e Taís Avlis
Quando. Desta sexta (31) e sábado (1), às 20h; e domingo (2), às 19h
Onde. Teatro de bolso do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro)
Quanto. De R$20 (meia) a R$40 (inteira), pelo site www.sympla.com.br ou na bilheteria