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Belo Horizonte recebe 'A Última Entrevista de Marília Gabriela' neste fim de semana
Espetáculo, que tem também Theodoro Cochrane no elenco, será no Sesc Palladium com direito a sessão extra; confira bate papo com mãe e filho
A jornalista, atriz e apresentadora Marília Gabriela estará em Belo Horizonte nos dias 26 e 27 de abril para sua “Última Entrevista”, desta vez como entrevistada, de frente com seu caçula, Theodoro Cochrane. Com texto assinado por Michelle Ferreira e direção de Bruno Guida, a peça foi sucesso de crítica e bilheteria nas temporadas realizadas em São Paulo e Rio de Janeiro.
Na capital mineira, a expectativa é grande, tanto que foi aberta sessão extra no Sesc Palladium, no domingo, às 16h, e restam pouquíssimos ingressos. Trata-se de uma comédia dramática que apresenta a dualidade entre realidade e ficção, envolvendo temas em voga, como feminismo, etarismo e conflitos geracionais. Confira a entrevista com os atores:
Theodoro, como é que é ser filho de Marília Gabriela? Há um exercício de tentar se desvincular ou se vincular a ela?
Theodoro Cochrane: Existe esse exercício, sim, de tentar me desvincular. Eu sempre falo que eu e meu irmão lidamos com isso na infância de maneiras distintas. Meu irmão tinha orgulho no colégio e falava: “Você sabe quem é minha mãe?”. Ele gostava disso. Eu odiava. Se alguém descobrisse que eu era filho dela, eu saía correndo, chorando, me escondia. Eu não gostava de ser filho dela. Quer dizer, eu gostava de ser filho dela, mas eu não gostava que as pessoas me vissem assim. E durante muito tempo eu sofri com isso. Continuo sofrendo, mesmo com essa peça.
Marília Gabriela: Ué? Ele é um sucesso nessa peça. É como se, de repente, tivessem descoberto definitivamente a existência dele em si, o talento dele...
TC: Olha que maravilhoso. Com 46 anos, minha mãe falando que “descobriram a minha existência”. Olha como era a minha cabeça. Com 46 anos, ela falando pra mim que eu tô ando a existir. Até então, eu não existia?
MG: É descobrir a peça. Existir como você, íntegro, inteiro.
TC: Ah, porque antes eu não era íntegro, é isso?
Marília, a construção da peça é mais difícil ou mais fácil com o filho? É o seu filho que está ali contigo no palco ou é o ator?
MG: Faço distinção. Sempre fui apaixonada pelo talento do Theodoro. Ele é realmente um cara afinado com artes em geral, fantástico. Foi um prazer tão grande poder contracenar com ele e ver a forma como a plateia reage a ele, encantada. Eu acho que descobriram o Theodoro e todo o talento dele nessa peça. Ele está extraordinário. Não estou vendendo a peça nem o filho, estou só fazendo um comentário.
Qual é a proposta desse espetáculo? Que história vocês contam?
TC: A gente chama o nosso espetáculo de “pistas falsas”. Você tem a impressão de que é uma peça de teatro contemporâneo, meio conceitual. De repente, a gente dá uma puxadinha de tapete, e vira uma comédia. Quando você está embarcando na comédia, vira drama; quando está virando drama, vira musical; depois tragédia; e volta a ser comédia de novo. Entregamos vários estilos para abordar um tema universal: a relação mãe e filho e tudo que ela envolve, desde iração até frustração e autoaceitação. Começa com o fetiche pela Marília Gabriela e pelo filho dela e pelas famosidades que a gente tem curiosidade de ver. E a para algo mais arquetípico mesmo de mãe e filho.
MG: Acredito que, pelo menos até agora, para surpresa da plateia, todos se identificam.
TC: A gente tira a limpo uma relação de mãe e filho. Falamos de várias questões, como homofobia, etarismo, morte, projeções, frustrações, culpa. Ao mesmo tempo, é a última entrevista da Marília Gabriela.
O texto do espetáculo é superatual, traz um dinamismo social de linguagem. Quando ele foi escrito?
TC: No final de 2023 e início de 2024. Foi pela Michele Ferreira, superautora, atriz, que fez Escola de Arte Dramática. Ela se deu superbem com a gente, entendeu muito nossa linguagem. Fez um trabalho de roteirização a partir de entrevistas comigo, com a minha mãe e com nós dois, além de acompanhar ensaios durante um mês. O etarismo e outros assuntos não são novos para nós, sempre foram questões importantes para a gente. Sempre me incomodou preconceito com envelhecimento, com sexualidade, origem, inteligência, todas essas coisas.
A você também, Marília?
MG: Sempre me incomodou o mal-estar do meu filho com essa situação. Eu sempre me senti um pouco culpada; é louco isso, mas eu fui uma mãe culpada por ser quem eu sou, ou pelo que me tornei, e como isso influenciou a vida dos meus filhos, de fato.
TC: Voltando ao tema específico do etarismo, a gente percebe que não tem como não falar disso. Minha mãe está com 76 anos, eu com 46. Ela sente mais o etarismo. Eu já sinto na minha pele. Acho que é uma coisa contemporânea, as pessoas estão vivendo mais, ficando mais velhas. Eu estava escrevendo sobre isso outro dia. Hoje em dia tem um limbo. Eu faço parte desse limbo. Temos pessoas cada vez mais velhas e mais jovens, ativas no diálogo, na exposição das próprias ideias. Na internet, cada vez mais jovens estão lá com canais, emitindo opiniões. E cada vez mais pessoas velhas estão lá, permanecendo ativas e contribuindo para a sociedade. Pessoas mais velhas permanecem ativas, contribuindo para a sociedade. E eu, cada vez mais jovem, entendeu? É importantíssimo ter consciência da importância de cada grupo etário na cultura e no mundo hoje.
MG: Eu vou fazer 77 em maio.
TC: Ela fica fazendo essa gracinha de falar a idade. Sabe que, quanto mais ela envelhece, me envelhece também, pelo amor de Deus! Ainda temos tempo. Ela tem 30 anos a mais do que eu.
MG: É o contrário! Como mãe, penso na distância grande entre nós. Estamos subindo juntos. Se você envelhece, eu envelheço junto, pelo amor de Deus!
Marília, o que o teatro representa para você?
MG: Primeiro, um sonho realizado. Sempre fui fascinada por teatro a ponto de viajar anualmente para Nova York para ver todos os espetáculos de teatro lá. E, no Brasil, sempre acompanhei com encantamento. Então, quando surgiu a proposta, com o Gerald Thomas, no ano 2000, me deu um medinho, uma insegurança. Os filhos me deram a maior força. A loucura da louca aqui é que eu falei: ‘só faço se for monólogo’. Então eu estreei no teatro fazendo monólogo. Por quê? Pedantismo? Não. Medo de atrapalhar os outros. Não queria estragar o trabalho de quem estivesse em cena comigo. Comecei fazendo um monólogo e realmente eu gostei do trabalho, da sensação, da reação da plateia e de dizer as coisas que eu consegui dizer até agora nas peças que eu fiz. E essa peça é coroação de uma viagem teatral, porque estou ao lado do meu filho, que me dá um orgulho imenso. E eu o iro enquanto trabalho.
TC: Essa relação que ela tem com o teatro é muito legal de ver. Já faz 25 anos que ela está nessa aventura teatral, que a rejuvenesce, porque ela se sente muito feliz fazendo. Acho que ela encontrou no teatro o que sentia quando começou a fazer entrevistas. Eu percebi ela muito mais brilhante, exuberante em casa e no próprio palco. É um lugar que você vê que ela realmente se sente realizada.
Serviço
O que. “A Última Entrevista de Marília Gabriela”
Quando. Sábado (26) às 21h e domingo (27) às 16h e às 19h
Onde. Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro)
Quanto. Ingressos entre R$ 19,80 e R$ 110,00, à venda no Sympla.