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Festival celebra centenário da Escola de Música UFMG e propõe encontros musicais inéditos

Evento gratuito reúne artistas como Fernanda Takai, Renegado, Nath Rodrigues, Júlia Guedes, Marcelo Dai e Silas Prado

Por Alex Bessas
Publicado em 30 de maio de 2025 | 07:00

De origem iorubá, a palavra “Agô” expressa um pedido de licença, respeito e reverência, enquanto “Asé” é usada para se referir à força, poder, energia vital e capacidade de realização. E “Jazz”, claro, representa a capacidade de improvisação. Três expressões que, em conjunto, têm significados alinhados a valores que ressoam nas raízes da música mineira e, agora, são usados para nomear um festival: o Agô Jazz Asé, que, unindo gerações, celebra os 100 anos da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (EM/UFMG) nesta sexta-feira (30), no Teatro Francisco Nunes, no interior do Parque Municipal de Belo Horizonte.

A escolha do nome, portanto, reflete o cuidado com o qual a curadoria foi pensada. Segundo Pedro Alexandrino Martins, produtor executivo do festival, a seleção de artistas teve como norte a diversidade sonora e o estímulo aos novos encontros. “Queríamos valorizar essa qualidade da improvisação musical mineira”, explica. A ideia era abrir espaço tanto para nomes consolidados quanto para novas vozes que dialogam com diferentes vertentes da música instrumental e popular.

Entre os encontros proporcionados pelo evento está o de Fernanda Takai e a banda Máquina do Mundo Ensamble, formada por professores da Escola de Música UFMG. A artista, conhecida por seu trabalho com o Pato Fu e por sua carreira solo, sobe ao palco ao lado de músicos acadêmicos para um espetáculo que já mexe com as expectativas de quem vem trabalhando por essa realização. “É um encontro que normalmente não acontece”, comenta o rapper Renegado, um dos artistas convidados e também membro da curadoria do festival, assinada também por Mauro Rodrigues, flautista e docente na federal. “A magia dessa noite está exatamente nisso: são encontros inusitados. Vamos misturar repertórios, fazer do palco um lugar de troca entre as nossas músicas”, descreve.

A proposta é também aplicada ao show que Renegado planeja para a ocasião, quando sobe ao palco ao lado da multi-instrumentista Nath Rodrigues. “Estamos pensando num formato bem diferente do que estou acostumado a fazer. Acho que vai ser uma surpresa para geral, e ainda tem uma novidade, porque nesse dia, 30 de maio, vai ser o lançamento do primeiro single do meu novo álbum, ‘MargeNow’”, detalha, fazendo suspense sobre o novo trabalho previsto para julho deste ano – “posso adiantar que quem curte a minha música vai ficar feliz comigo nesse novo marco. Inclusive, acho que é isso, acho que é um marco de uma nova era do meu trabalho”.

Voltando ao Agô Jazz Asé, Renegado diz ver no evento uma oportunidade de redefinir os papéis entre academia e cultura popular. “É um avanço quando a gente tira a escola desse lugar do erudito inalcançável e traz uma pitada de popular, de ível”, celebra, lembrando que, além da apresentação de Takai com o Máquina do Mundo Ensamble e do dueto dele com a Nath Rodrigues, o festival tem outras atrações, como o flautista e saxofonista Silas Prado, que recentemente lançou seu primeiro álbum, “Obrigado, Mestre”, em homenagem ao maestro Letieres Leite e à ancestralidade afro-mineira, e a cantora e pianista Júlia Guedes, uma das promessas da nova cena musical mineira, que se apresenta ao lado do multi-instrumentista Marcelo Dai, que tem chamado atenção por sua expressividade em palco.

A DJ Black Josie abre a programação às 17h, preparando o terreno para as cerca de cinco horas de música divididas entre dois blocos, com um intervalo estratégico – “para as pessoas circularem, comer algo, tomar uma bebidinha”, explica Pedro Martins.

Construção

Esse line up, conta Renegado, é fruto de um processo iniciado ainda no fim de 2024. “Foi um presente ser convidado não só para tocar, mas também para ajudar na curadoria. Tenho curtido muito esse outro lado da mesa, de observar os novos talentos, sugerir nomes, pensar em encontros”, lembra, comemorando a escolha do Teatro Francisco Nunes para sediar o festival. “É um dos palcos mais lindos da cidade. Estou feliz de fazer parte disso”, elogia.

Pedro Martins Alexandrino, por sua vez, projeta vida longa ao projeto. “Nossa expectativa é agradar o público com uma música de qualidade, proporcionando grandes encontros em uma noite gostosa. E, além disso, queremos que esta seja a primeira de muitas edições”, reconhece, sublinhando que muitos dos artistas que se apresentam no festival aram pela centenária Escola de Música da UFMG. “Para nós é uma honra fazer essa agenda e fazer parte dessas comemorações com uma instituição tão importante”, ressalta, enquanto se mostra entusiasmado com as misturas e improvisações que o evento deve propiciar.

A própria história da Escola de Música UFMG, aliás, reforça essa confluência entre tradição e inovação. Fundada em 1925 como Conservatório Mineiro de Música, a instituição tornou-se parte da universidade em 1962 e, desde então, vem ampliando sua atuação em diversas frentes: da composição à musicoterapia, ando pela regência, performance e música popular. Com cursos de graduação, mestrado e doutorado, a escola é uma referência nacional na área e conta com uma infraestrutura que inclui biblioteca especializada com mais de 27 mil títulos, estúdios de gravação, laboratórios de pesquisa e o selo fonográfico “Minas de Som”, além de projetos de extensão que aproximam a universidade da comunidade.

SERVIÇO:
O quê. Festival Agô Jazz Asé
Quando. Nesta sexta (30), a partir de 17h
Onde. Teatro Francisco Nunes (avenida Afonso Pena, s/n, centro)
Quanto. Gratuito. Ingressos disponíveis no Sympla