MC Poze do Rodo, 26, foi preso na última quinta (29) no Rio de Janeiro por suspeitas de apologia do tráfico e envolvimento com a facção Comando Vermelho. Com cerca de 15 milhões de seguidores nas redes sociais, ele carrega, em seu nome artístico, a favela em que cresceu.
Confira abaixo, o que se sabe sobre a prisão e a investigação a respeito do funkeiro.
Quem é o MC Poze do Rodo?
MC Poze do Rodo é o nome artístico de Marlon Brendon Coelho Couto Silva, 26, cantor e compositor nascido na favela do Rodo, em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro. Ele ganhou notoriedade no cenário do funk carioca no fim dos anos 2010. Entre as suas músicas mais conhecidas estão "Os Coringas do Flamengo", "Diz Aí Qual É o Plano?", "Me Sinto Abençoado", "Madrugada É Solidão", "A Cara do Crime" e "Essência de Cria".
Por que MC Poze do Rodo foi preso?
O cantor foi preso sob suspeita de apologia do crime e envolvimento com a facção criminosa Comando Vermelho. O estopim para a prisão foi um vídeo em que ele canta a música "Tropa do General" (2019), em um baile na Cidade de Deus, no dia 17 de maio. A letra tem xingamento a facções rivais ao Comando Vermelho, faz alusão a armas e ao símbolo da facção --o número dois com os dedos. Na plateia, havia homens com fuzis que, segundo a polícia, seriam traficantes.
Dois dias após o baile, o policial da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) José Antônio Lourenço foi morto com um tiro na cabeça na mesma favela, que é um dos principais redutos da facção.
O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, afirmou que o papel de MC Poze do Rodo no Comando Vermelho é enaltecer a facção. "Os moradores não conseguem ter seu descanso no final de semana porque vem essa ideologia, essa narcocultura do Comando Vermelho travestida de música para enaltecer a facção. E ele [Poze] estava lá cumprindo esse papel. Essa é a função dele na facção criminosa CV."
A Polícia Civil diz que ele realizava shows em áreas dominadas pela facção, com a presença de traficantes armados e que suas músicas e joias faziam alusão à organização criminosa.
Onde e como ocorreu a prisão?
MC Poze do Rodo foi detido em sua residência, em um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. A prisão foi efetuada por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, que cumpriram um mandado de prisão temporária expedido pela 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá.
O fato de os agentes usarem algemas em Poze e o conduzirem descalço e sem blusa à Cidade da Polícia gerou críticas nas redes sociais. Em resposta, a polícia publicou um vídeo em que diz que "algemar ou não depende da conduta, do risco de fuga e não da cor da pele". Nas novas imagens divulgadas, Poze já estava com chinelos e blusa.
Quais são as evidências apresentadas pela polícia?
A investigação está sob sigilo. As autoridades destacam que MC Poze do Rodo realizava apresentações em locais controlados pelo Comando Vermelho, onde traficantes armados garantiam a segurança dos eventos. Além disso, vídeos do show na Cidade de Deus mostram a presença de homens armados, e as joias do cantor supostamente fazem alusão à facção criminosa. A polícia vai pedir a quebra do sigilo dos telefones apreendidos.
Qual é a situação atual de MC Poze do Rodo?
Após audiência de custódia, a Justiça do Rio de Janeiro manteve a prisão temporária do cantor por 30 dias. No ingresso ao sistema prisional, ele declarou identificar-se com o Comando Vermelho, segundo a Seap (Secretaria de istração Penitenciária), e foi encaminhado para Bangu 3, onde estão detentos da facção. A Seap o classificou com grau de periculosidade médio.
Houve manifestações públicas sobre a prisão?
A prisão de MC Poze do Rodo gerou debates sobre a criminalização do funk e a relação entre cultura e crime. Alguns políticos e figuras públicas se pronunciaram, destacando a necessidade de diferenciar a expressão artística da apologia do crime. Motoqueiros realizaram um protesto em frente a uma cadeia onde o MC estava, mas foram dispersados.
Qual é o histórico de controvérsias envolvendo o cantor?
MC Poze do Rodo já enfrentou outras controvérsias, incluindo uma prisão em 2019 por apologia do crime durante um show em Mato Grosso, e a Operação Rifa Limpa, em 2023, que investigou sorteios ilegais promovidos pelo cantor e pela esposa. Outros dois inquéritos estão em andamento: um sobre tortura e cárcere privado contra o ex-empresário, que acusa Poze de agressões após o sumiço de um cordão de ouro; e outro sobre a reclamação de vizinhos devido ao barulho durante uma festa em sua casa na madrugada.
O que diz a defesa de MC Poze do Rodo?
A defesa de MC Poze do Rodo nega as conclusões da investigação e afirma que houve uso indevido de algemas, além da apreensão de joias que já haviam sido liberadas ao artista pela Justiça.
Em nota, também criticou a exposição da prisão: "A exposição cinematográfica de uma prisão temporária, cujo objetivo ideal é garantir investigação, cujo sigilo e lisura --próprios do interesse de um serviço público, que deve ser conduzido com inteligência-- foram completamente escanteados com a realização de coletivas de imprensa e entrevistas sobre dados da investigação que sequer foram revelados no pedido cautelar".