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Infância e revolução em Manoel de Barros
Em ?Memórias Inventadas ? A Segunda Infância?, poeta revê a meninice com inteligência e artesania.
Perto de completar 90 anos, o que ocorre em 19 de dezembro, o poeta mato-grossense Manoel de Barros vai cada vez mais reinventando a sua meninice prazerosamente.
Instigado a escrever suas memórias em forma de poemas, ele publicou em 2003 "Memórias Inventadas " A Infância", o que seria o primeiro livro de uma trilogia, mas depois chegou à conclusão que não seria capaz de fazer os dois outros volumes enfocando a mocidade e a velhice.
Preferiu continuar esquadrinhando aquele tempo de boas peraltices ("Cresci brincando no chão, entre formigas").
É assim que chega às livrarias "Memórias Inventadas " A Segunda Infância", pela Editora Planeta, livro que vem em formato de uma caixa e lá dentro uma fita laranja enlaça 17 textos em folhas de uma espécie de papelcartão soltas. Acompanhando os textos, delicadas iluminuras criadas por Martha Barros, filha do poeta.
A leitura dos poemas pode indicar o tempo da mocidade (por exemplo quando fala da descoberta do sexo: "Fui morar numa pensão na rua do Catete./ A dona era viúva e buliçosa/ E tinha uma filha Indiana que dava pancas./ Me abatia"); pode indicar também o adulto ("O filósofo Kiekkgaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer"); mas o que respira no conjunto é a visão do menino, ou antes, do homem infante ("Eu resolvi voltar quando infante por um gosto de voltar. Como quem aprecia de ir às origens de uma coisa ou de um ser").
Esta aí a chave de "A Segunda Infância". O olhar do homem para o tempo de menino é ao mesmo tempo brejeiro e inebriante, artesanal e clássico, rasteiro e profundo. Mescla precisão e inventividade na escolha da palavras.
E talvez queira dizer que essa sua opção de retorno à infância é uma renúncia ao mundo urbano e uma tentativa de "humanizar o tempo!" ("Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão; eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas").
O novo livro é o Manoel de Barros de sempre, com as peraltices literárias de quem o conhece, do autor que escapa da mesmice com versos que causam continuamente novo encantamento. Pois como diz ele na pele de um professor, "O que eu não gosto é de uma palavra de tanque, estagnada. Quisera um idioma de larvas incendiadas".
AGENDA " "Memórias Inventadas " A Segunda Infância", poemas de Manoel de Barros, Editora Planeta, 80 págs,, R$ 34.