Quem busca um emprego quer boas condições de trabalho, com salários atrativos e benefícios. Mas quem oferece a vaga também enfrenta dificuldades. Na avaliação do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, os empresários enfrentam muita burocracia istrativa, o que acaba comprometendo o planejamento do futuro. “Não sobra tempo para pensar em como aumentar a lucratividade, como remunerar melhor ou como trazer benefícios para o colaborador”, afirma.
Esse é um desafio enfrentado por Welbert Vital, 30, que sempre sonhou em abrir um negócio. Há três anos, ele pediu as contas e, com o acerto do antigo trabalho, inaugurou a NutriVital, loja que vende produtos naturais, como chás, cereais, condimentos e suplementos.
Quando decidiu investir no sonho, ele sabia que não seria fácil, e o tempo dedicado às burocracias diárias é um dos pontos que mais pesam. “Quando você empreende, acaba que, no início, você faz de tudo. Tem que istrar, repor, limpar e atender”, conta. Welbert explica que, com essas “pequenas” tarefas diárias, os donos de negócios presenciais não conseguem se dedicar a demandas que não envolvam esse dia a dia da loja.
O empreendedor reconhece que, se não fossem essas obrigações, ele teria mais condições de investir no planejamento do futuro de seu negócio. O problema, ressalta ele, é que muitas vezes falta tempo para buscar conhecimentos específicos de istração, e a lacuna dessa capacitação prejudica o desenvolvimento do empreendimento. “Eu nunca tive um negócio antes e penso em estudar mais sobre isso. Hoje eu estou focado em aperfeiçoar o meu aprendizado em nutrição, que é o que estou cursando. Mas, futuramente, preciso fazer um curso de gestão de negócio ou istração, porque tenho e, só que não tenho o conhecimento de como istrar melhor”, relata.
A carência de formação sobre gestão é um desafio muito comum entre outros microempreendedores e empresas de pequeno porte. Segundo a pesquisa “Empreendedores Iniciais”, realizada pelo Sebrae Minas em 2022, 74% dos empresários têm a percepção de que possuem um grau de conhecimento sobre gestão de empresas baixo ou médio.
Não saber fazer bom uso das redes sociais é outro ponto apontado como defasagem. De acordo com o estudo “Digitalização nos Pequenos Negócios”, feito pelo Sebrae Minas em 2025, cerca de 44% dos empreendedores gostariam de aprender mais sobre essa área. “Às vezes, eu fico sem norte sobre o que fazer ou sobre o que publicar”, afirma Welbert.
A soma de todas essas dificuldades contribui para que hoje ele não consiga investir na contratação de um funcionário, o que aliviaria a sua carga com as demandas diárias e lhe daria mais tempo para planejar. “No momento, eu só não tenho um funcionário porque não tenho condições financeiras de pagar um salário”, conta Welbert, que, apesar das dificuldades, não se arrepende da decisão de empreender. “Vale a pena. Quem está atrás do sonho não pode desistir nunca”, enfatiza.
Além das demandas istrativas que sequestram o tempo que os empreendedores poderiam utilizar para planejar o crescimento dos negócios, muitos donos de micro e pequenos empreendimentos se queixam das cargas tributárias. Obstáculo que pode impactar a oferta de trabalho, uma vez que consome recursos que poderiam ser aplicados em novas contratações. Três em cada dez micro e pequenos empresários (34%) apontam os impostos como uma grande dificuldade, segundo dados da pesquisa “Empreendedores Iniciais”.
Hoje, as microempresas e empresas de pequeno porte pagam os impostos de acordo com o faturamento anual acumulado, e o valor varia conforme a atividade realizada. O setor de comércio, por exemplo, paga de 4% a 19% em tarifas. Já no setor de serviços, a taxa pode chegar a 33%.
Na visão da economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG) Fernanda Gonçalves, esses setores estão entre os que mais sofrem com as tributações. “Esse peso não fica só para o empresário e acaba sendo reado para o funcionário, com salários menores, e para o consumidor, com preços mais altos. E isso contribui para a inflação e impacta todo o mercado”, explica Fernanda.
Segundo a economista, as condições tributárias restringem a capacidade de oferecer benefícios e salários maiores, o que se reflete na rotatividade dos funcionários e em toda a economia. “Se não temos trabalhadores para atuar na indústria, no comércio e nos serviços, isso gera uma série de consequências para o país, porque precisamos dessas pessoas para girar a economia”, analisa.
Na opinião do presidente da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva, a solução pode ar por reavaliar os ganhos e reduzir as margens de lucro – alternativa que é mais difícil quanto menor é a empresa. “A gente trabalha muito com o empregador para que ele tenha esta conscientização. Muitos já estão reduzindo a sua rentabilidade e reando isso para os trabalhadores. Mas até que ponto? Como fazer isso de forma sustentável? Porque, na empresa, também está a vida do empresário”, questiona.
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