Em cinco anos, Izabela Souza, 23, já trabalhou em três lugares diferentes. Ela já foi operadora de caixa, recepcionista de uma clínica oftalmológica e, atualmente, trabalha como atendente de uma loja de peças automotivas. Viver várias experiências profissionais faz parte do perfil de quem tem entre 16 e 30 anos. Praticamente, uma em cada três pessoas da geração Z prefere trabalhar em diversos lugares a fazer carreira em uma única empresa. Os dados são da pesquisa “Perspectivas Intergeracionais no Mercado de Trabalho”, realizada pela DATATEMPO/FECOMÉRCIO MG, em fevereiro de 2025, em Belo Horizonte e na região metropolitana.
A pesquisa mostra que, enquanto 29,9% da geração Z quer variar de emprego, entre os millennials o percentual cai quase pela metade (16,8%). “É muito interessante ar por várias experiências em empresas diferentes, pois a gente aprende um pouquinho em cada lugar. Não daria conta de trabalhar no mesmo lugar, como o meu pai, que trabalha há 30 anos na mesma função em um condomínio”, compara Izabela.
Segundo Anderson Sant’Ana, professor da Escola de istração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp), esse comportamento da geração Z é um reflexo da transformação do mercado de trabalho a partir de mudanças sociais, econômicas e tecnológicas. Se antigamente as pessoas queriam se aposentar na mesma empresa onde trabalharam por boa parte da vida, hoje a ideia de fazer carreira perdeu força. “A gente era do berço ao túmulo. Se você perdesse o emprego, ficava mal, sujava a sua carteira. Hoje já não é mais possível isso. Às vezes, o indivíduo vai ter, ao longo da vida de trabalho, sete trajetórias ocupacionais. Esse é o número médio que alguns estudos têm indicado”, afirma.
A alta rotatividade, mais comum entre os jovens, nem sempre é bem vista dentro de empresas, onde o quadro de funcionários costuma ser multigeracional. Se os mais novos enxergam isso como busca por aprendizado, para os mais velhos acaba soando como falta de compromisso. O olhar diferente para a mesma questão não acontece só em relação ao tempo de permanência. A pesquisa DATATEMPO/FECOMÉRCIO MG mostra que, para a geração Z, o preconceito é a maior dificuldade de se relacionar com colegas mais velhos, apontado por 33,3% dos entrevistados de 16 a 30 anos. Já para millennials (33,3%), geração X (25%) e baby boomers (100%), o maior obstáculo é a divergência de ideias.
Na avaliação de Sant’Ana, esses conflitos estão diretamente relacionados com o encurtamento dos ciclos de geração, que, junto com o aumento da expectativa de vida, imprimem uma nova configuração ao mercado de trabalho. “Pela primeira vez, a gente tem que conviver simultaneamente com gerações diferentes. Antes a gente se aposentava ou morria. As pessoas iam sendo recrutadas, ajustadas ao modelo da organização, à cultura, viravam gerentes e até diretores. Então nós nunca tivemos que lidar com a diferença”.
O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH- MG), David Braga, ressalta que, por trás dessas discordâncias, há outro ponto: é comum uma geração sempre achar que tem mais razão do que a outra. “A geração Z está sendo o alvo de rótulos, questões estão sendo levantadas, mas é importante analisar que qualquer geração que surge vai ser alvo de estereótipos, tal qual foi quando os millennials entraram no mercado de trabalho, com muitos questionamentos. E assim será sempre que entrar uma nova geração”, analisa Braga, destacando que se trata de um grande desafio de gestão.
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