// Declare Variables const envs = { 'default': {'name': 'developer', 'domain': 'aem-dev.otempo.com.br', 'staticdomain': 'static-p111452-e1082694.adobeaemcloud.com'}, 'aem-dev-otempo-com-br': {'name': 'developer','domain': 'aem-dev.otempo.com.br', 'staticdomain': 'static-p111452-e1082694.adobeaemcloud.com'}, 'aem-stage-otempo-com-br': {'name': 'stage','domain': 'aem-stage.otempo.com.br', 'staticdomain': 'static-p111452-e1142373.adobeaemcloud.com'}, 'otempo-com-br': {'name': 'production','domain': 'otempo.com.br', 'staticdomain': 'static-p111452-e1142340.adobeaemcloud.com'}, 'www-otempo-com-br': {'name': 'production','domain': 'otempo.com.br', 'staticdomain': 'static-p111452-e1142340.adobeaemcloud.com'} }; const envkey = (window.location.hostname).replaceAll('.','-'); let env = envs['default'] if(typeof envs[envkey] != 'undefined'){ env = envs[envkey]; } const themeCss = document.createElement('link'); themeCss.rel = 'preconnect'; themeCss.href = env.staticdomain; document.head.appendChild(themeCss);
ADICIONAL

Tragédia de grande escala cria déficit habitacional paralelo

Desastres em Mariana e no RS são exemplos de danos às moradias

O medo de ver a própria casa destruída pelo rompimento de uma barragem atormentou Luciana Euzebio por 37 anos. Até que aconteceu. Em 5 de novembro de 2015, a mulher, agora com 46 anos, foi forçada a deixar às pressas o lar onde cresceu com a família, ao ouvir gritos que anunciavam o colapso da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana, na região Central de Minas. “Não deu tempo de pegar nada, só correr. Foi um desespero total, um terror”, relembra. Entre as memórias do antigo distrito de Bento Rodrigues, destruído pelo mar de lama, persiste o sentimento de perda do lar.

Após o desastre, Luciana precisou viver em imóvel alugado por quase nove anos, até receber uma nova casa, em outubro de 2024. Ainda assim, apesar de ter ado décadas sob a ameaça de uma barragem e anos morando de aluguel, a história dela não foi considerada nos números de déficit habitacional. De acordo com Raquel Ludermir, gerente de Incidência em Políticas Públicas da Habitat Brasil, “quem acabou de perder a casa em desastres ambientais” não é contabilizado nas estatísticas oficiais. Isso sugere que o número de pessoas sem moradia adequada pode ser ainda maior.

Apenas entre 2010 e 2022, inundações, enxurradas e alagamentos deixaram desabrigados ou desalojados 20.687 moradores da Grande BH e do Colar Metropolitano, conforme dados do Atlas Digital de Desastres Naturais, publicado em 2024. Com os avanços das mudanças climáticas, fenômenos extremos devem ameaçar cada vez mais pessoas, alerta o sociólogo e demógrafo Roberto do Carmo, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Entre abril e maio deste ano, uma enchente sem precedentes na história do Rio Grande do Sul fez com que mais de 600 mil pessoas precisassem deixar suas casas. A catástrofe climática causou 172 mortes. “Devemos ter eventos climáticos cada vez mais intensos e recorrentes. amos do ponto de discutir mitigação e precisamos, urgentemente, discutir adaptação”, alerta o sociólogo Roberto do Carmo.

Em cidades cada vez mais impermeabilizadas devido aos processos de canalização de córregos e de crescimento desordenado, os desastres naturais ameaçam principalmente as comunidades em situação de maior vulnerabilidade, analisa o Plano de Habitação de Interesse Social da Região Metropolitana. “As pessoas que ocupam áreas inadequadas à urbanização são as mais expostas e afetadas pelos desastres e suas consequências, tanto quando ocorre o evento como no pós-desastre, na fase de recuperação, demandando intervenções de políticas públicas integradas à gestão de risco”, diz o documento, que embasa o governo na análise do problema no Estado.

Deslocamento forçado é dor para famílias

Os móveis novos e a cozinha planejada da casa que recebeu há cerca de um mês não fazem com que Luciana Euzebio se sinta tão em casa quanto antes. Enquanto descansa no sofá, são constantes as lembranças do antigo Bento Rodrigues, lugar de onde nunca imaginou que precisaria sair até o rompimento da barragem. “Mudou muito. Fico feliz por ter minha casa, mas a vizinhança não é a mesma, o local não é o mesmo. Leva tempo até nos adaptarmos aos novos vizinhos e costumes”, relata.

O deslocamento forçado por desastres é ainda mais doloroso para aqueles que não têm condições de financiar a mudança com recursos próprios, explica o sociólogo e demógrafo Roberto do Carmo. Segundo ele, essa situação afeta ainda mais as pessoas em maior vulnerabilidade social. “Para famílias de baixa renda, as redes de vizinhança são essenciais. Geralmente, elas precisarão do apoio do Estado ou das empresas responsáveis pelos desastres para se mudarem”, analisa. O especialista ressalta a importância do papel do poder público nesse processo. “Em deslocamentos forçados, é fundamental preservar as redes de apoio, manter os vizinhos próximos. Esse mapeamento precisa ser planejado e executado para reduzir o impacto da mudança”, aponta.

Espera de 20 anos

Enchentes. Duas décadas. Esse é o tempo que a diarista Rute Heloisa, 53, esperou para receber um novo apartamento no bairro Cidade Industrial, em Contagem, na Grande BH. Ela precisou deixar a casa onde cresceu com a família, na mesma região, devido às enchentes constantes. “Era todo ano. A água vinha e levava tudo: geladeiras, móveis. Tenho poucas fotos de quando eu era pequena”, relembra. Rute poderia ter recebido a moradia da prefeitura antes se tivesse aceitado morar em outra região. Mas romper os laços não era opção. “Eu não queria sair de perto. É uma área boa. Mesmo quando morei de aluguel, enquanto o apartamento não saía, sempre fiquei nessa área”, conta. 

*Essa matéria compõe o caderno especial Habitar, com reportagem de Gabriel Rezende, Gabriel Rodrigues, José Vítor Camilo, Juliana Siqueira, Raissa Oliveira, Raquel Penaforte e Tatiana Lagôa; edição de Karlon Aredes e fotos de Alex de Jesus, Fred Magno, Thomás Santos e Flávio Tavares.