Missão Yanomami: viagem ao fundo de uma tragédia
Equipe de O TEMPO viajou mais de 7.000 km para o interior da Terra Indígena Yanomami para tentar compreender o sofrimento e a morte de um povo ameaçado pelo garimpo ilegal, pelas doenças e pela violência

A Amazônia é uma terra de superlativos. Em seus 6,7 milhões de km², a floresta retira da atmosfera 340 milhões de toneladas de CO2. Mesmo dos céus, é difícil ver os limites até onde vai a Terra Indígena Yanomami (TIY), que tem 96,5 mil km². Mas é no fundo dos pequenos olhos negros das crianças Yanomami no Hospital de Campanha instalado na Casa de Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista, que se consegue perceber a dimensão da tragédia que se abate sobre seu povo.
Os olhos, cheios de inocência e doçura, sorriem ao primeiro encontro. Brincam sem sossego com aquelas pessoas tão diferentes que chegaram de longe, carregando cadernos, gravadores e câmeras, registrando tudo que ouvem e veem. O olhar dessas crianças transmite a esperança de que tudo vai ar. Mas, mesmo tão jovens, são olhos de quem sofre.
Nos últimos quatro anos, mais de 500 crianças indígenas iguais a elas morreram de malária, pneumonia, gripe ou fome, levadas pelo convívio forçado com a ganância e a violência do garimpo ilegal, que mata, destrói, contamina rios e envenena as relações familiares das comunidades Yanomami em busca de ouro. Uma doença que se alastra há mais de cinco décadas e que somente no último dia 20 de janeiro levaram à decretação de Emergência em Saúde Pública pelo governo federal e à abertura de um inquérito que investiga a gestão de Jair Bolsonaro por genocídio e omissão de socorro.
Como entender essa situação? Como explicá-la? Essas duas perguntas motivaram a mobilizar seus esforços e enviar os jornalistas Aline Diniz, Lucas Morais, Flávio Tavares e Fred Magno em uma jornada de mais de 7.000 km ida e volta até Boa Vista e Surucucu, dentro da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Aline, Lucas, Flávio e Fred empenharam olhos, ouvidos e talento para levar os leitores até onde o alimento tão necessário cai dos céus, lançado pelos aviões da FAB ou entregue nas aldeias por helicópteros do Exército. Onde médicos do SUS ou das Forças Armadas dão o primeiro atendimento e, em frações de segundo, tomam decisões que representam a diferença entre a morte e a vida.
No meio da selva, ao lado do garimpo, nas ONGs ou nos hospitais, os Yanomami relatam histórias de tristeza e dor, mas nunca de vingança. Diferentemente dos não indígenas, eles não se agarram à terra como propriedade ou ao tempo como sequência de dias e anos. Parecem não se apegar ao ado ou ao futuro. O tempo e o local, para os Yanomami, são o aqui e o agora. E aqui e agora é que nós temos que nos comprometer a pôr um fim à tragédia dos Yanomami.