4o Pelotão de Fronteira

Presença mais do que necessária em terras indígenas

Referência para comunidades que vivem na floresta, militares também têm atuação com viés humanitário, inclusive com atendimento 24h para casos de saúde e odontologia

Por Aline Diniz
Publicado em 14 de fevereiro de 2023 | 23:30

Mulheres e homens do Exército brasileiro que servem na unidade do 4º Pelotão Especial de Fronteira, localizado na região de Surucucu, a 360 quilômetros de Boa Vista, são para milhares de indígenas que vivem em áreas mais remotas, ao lado das equipes que integram a Sesai (Secretaria Especial de Saúde) Surucucu, uma referência quando o pedido de ajuda aperta ou a saúde está debilitada. 

 

Com a comunicação restrita, pois grande parte deles não fala a língua Yanomami quando é destacado para a localidade, os profissionais de saúde se viram como podem. O médico e segundo tenente Lucas Eduardo Thomas Marques está no pelotão desde abril de 2022 e conta que no início a interação foi complicada. “Não conhecia as palavras direito, nem a formação de frases. Então, fazia mímica. Conforme me aproximei, consegui aprender algumas palavras para realizar as consultas”, conta. 

 

Segundo ele, o pelotão sempre prestou esse apoio à Sesai nos casos mais graves. “Nesse último ano, o que percebi foi uma maior incidência de casos de pneumonia, desidratação e desnutrição, além de traumas por arma branca, como pedaços de pau”, conta. 

 

Para a dentista Helen Almeida, 31, tenente baseada em Surucucu há um ano, houve aumento de casos de dor de dente entre os indígenas. “Eles batem aqui no portão do 4 Pelotão de Fronteira ou são encaminhados pela Sesai e eu que atendo. As dores geralmente são causadas por cáries, que têm chegado em estágio agravado. Nosso foco, como dentista, sempre é a preservação do dente, só que nos casos que temos recebido, às vezes é preciso fazer uma extração e a recuperação é acompanhada aqui ou pelo Sesai”, diz. Helen comenta que o aumento de cáries entre os Yanomami têm como causa a alimentação. “Antigamente, a alimentação era mais saudável, pois a caça e a pesca eram mais rotineiras. Hoje, eles têm comido mais alimentos processados e com conservante.” 

 

Viés humanitário

 

O comandante do  4º Pelotão Especial de Fronteira, tenente Luiz Fernando Seixas, frisa que o trabalho dos militares tem viés humanitário. “Em nossas operações, amos pelas comunidades, paramos, checamos se há alguma necessidade mais urgente de atendimento médico  e odontológico. Nosso pelotão conta com um médico e uma dentista, 24h.” Sobre as cestas básicas, Seixas comenta que os fardos são montados em Boa Vista e lançados por aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB). “Nossa equipe recolhe as cestas, traz para o pelotão e as distribuímos, de acordo com a demanda das comunidades indígenas, listada pelo agente da Funai”, conta.

 

E as comunidades mais próximas acabam se aproximando. “Chamam para conversar e jogar bola no campo que tem aqui na frente. É uma troca de experiências - eles nos ensinam, a gente ensina um pouco também. É um ganho muito grande para cada um de nós, principalmente quem saiu da cidade e veio para esse local tão isolado”, acrescenta o comandante. 

 

Apoio diverso

 

O médico tenente João Satrapa explica que servidores do Exército apoiam as comunidades de várias maneiras. Uma delas é por meio do Programa Força no Esporte (Profesp), praticado nos pelotões de fronteira de forma a integrar militares e, principalmente, as crianças. “Nesses eventos, além do esporte em si, aproveitamos para rear instruções de higiene. De forma lúdica, quando visitamos as comunidades, levamos medicamentos, cestas básicas, encaminhamentos para a Sesai. O atendimento do médico é muito diverso e sempre chega algum indígena para a gente atender. Casos mais graves a gente sempre intervém, faz remoção, atua na estabilização do paciente. É missão todo dia, toda hora”, revela.