20 anos da tragédia

Fiscais do trabalho exibem filme ‘Servidão’ em memória da chacina de Unaí 4f1859

Evento do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho de Minas Gerais marca 20 anos da tragédia e a mobilização da categoria por melhorias das condições de trabalho 3n294y

Por O Tempo
Publicado em 23 de janeiro de 2024 | 16:12
 
 
Longa documental retrata casos de escravidão no Norte do Brasil Foto: Reprodução/Youtube/GAYA Filmes

A Delegacia Sindical do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho de Minas Gerais (Sinait DS/MG) realiza, nesta quinta-feira (25), um evento em memória dos 20 anos da tragédia em Unaí, que instituiu o “Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo” (28). A celebração também marca a mobilização da categoria pelo descumprimento do acordo firmado, em 2016, com o Governo Federal, que previa uma série de melhorias das condições de trabalho e a regulamentação do Bônus de Eficiência e Produtividade. 

Na ocasião, após um coquetel de abertura com debate, será exibido o documentário “Servidão”, dirigido por Renato Barbieri e Neto Borges, que chega às salas de cinema na mesma data. Narrado pela cantora Negra Li, o filme retrata o trabalho escravo contemporâneo no Brasil, com depoimento de trabalhadores rurais escravizados no Norte do país. 

O evento acontece às 19h30, no Cine Belas Artes (rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes).

Assista ao trailer do filme: 1c4l1t

Trabalho paralisado 1j103g

Desde 11 de janeiro, a fiscalização de denúncias de trabalho análogo à escravidão em Minas Gerais está paralisada, sem data para voltar a campo, assim como em outros 19 estados do país. “Nossa mobilização não é de hoje, é uma luta constante pela reconstrução e valorização da carreira, que há anos vem sendo sucateada, e que tem atuado sob condições precárias de trabalho”, declara Marcelo Campos, Auditor-Fiscal do Trabalho.

“Acima de tudo, nossa reivindicação tem como objetivo garantir um cenário adequado para a atuação do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho, o que resultará em um serviço de proteção efetivo ao trabalhador brasileiro. A tragédia de Unaí é um triste episódio. Toda ação fiscal é tensa, e quando há interdição de máquinas e equipamentos, embargos de obra, constatação de trabalho análogo ao de escravo, a fiscalização fica mais tensa, naturalmente”, diz.

Segundo Marcelo Campos, os auditores-fiscais do trabalho lidam ainda com falta de estrutura e condições dignas para exercer suas funções. Há um déficit no número de profissionais em MG – o menor dos últimos 30 anos. Apesar do anúncio da liberação do concurso público com 900 vagas para auditor-fiscal, segundo o auditor, o problema não será totalmente solucionado.

Hoje existem 1.912 auditores ativos no Brasil, mas a Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomenda uma média de oito mil profissionais em relação à população economicamente ativa (segundo o IPEA, entre setembro e outubro de 2023 o número de trabalhadores chegou a 99,4 milhões). “A carreira de auditor-fiscal do trabalho é típica de Estado, compõe seu núcleo estratégico, com atribuições e deveres distintos, além de direitos e prerrogativas que têm sido cumpridos apenas parcialmente”, frisa. 

Campos acrescenta que nas Superintendências Regionais do Trabalho faltam servidores de apoio – Minas Gerais conta com apenas um motorista prestes a se aposentar –, viaturas e rádios para comunicação, os valores de indenização de transporte estão defasados e os equipamentos estão ultraados/sucateados. 

Apesar dos poucos recursos, Campos acrescenta que em 2023, só em Minas Gerais foram realizadas 117 ações fiscais, com 651 trabalhadores em condições análogas à de escravo resgatados; além de 212 ações de fiscalização e 325 crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil.

Além das ações de trabalho escravo, a categoria também trabalha no combate à informalidade e em prol de diversos direitos trabalhistas. “Entre as atividades sistemáticas que efetuamos, verificamos condições dos equipamentos e máquinas, uso adequado de dispositivos de proteção individual e coletiva, manipulação de substâncias químicas, estabilidade de barragens e cavas de mineração e outros procedimentos que garantam um ambiente de trabalho seguro e saudável e a sustentabilidade das empresas”, finaliza Marcos Botelho, Auditor-Fiscal do Trabalho. 

Relembre a tragédia de Unaí 6t2h4a

Há 20 anos, os auditores fiscais do trabalho, Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares e Nelson José da Silva, e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram assassinados na zona rural de Unaí (MG) durante uma ação de fiscalização. Os irmãos Norberto e Antério Mânica, mandantes do crime, foram sentenciados por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, mediante pagamento de recompensa em dinheiro e sem possibilidade de defesa das vítimas.

José Alberto de Castro, preso no dia 14 de setembro de 2023, em Brasília, e Hugo Pimenta foram condenados por intermediarem o crime e contratarem os pistoleiros Erinaldo Vasconcelos, Rogério Allan e William Miranda, que foram condenados em 2013 e estavam presos desde 2004.

Norberto Mânica e Hugo Pimenta são considerados foragidos. Antério Mânica se apresentou na sede da Polícia Federal em Brasília, no dia 16 de setembro de 2023; depois de ficar preso no complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, foi transferido para a Penitenciária de Unaí, no dia 24 de novembro.

MTE também promoverá ações 5v730

Como parte da semana de mobilização e em memória dos 20 anos da chacina em Unaí, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) promoverá na próxima sexta-feira (26), das 10h às 15h30, na Praça Sete, atendimento à população referente à CTPS digital, seguro-desemprego, abono salarial, intermediação e demais orientações trabalhistas.

E às 15h30, no mesmo dia, será realizada na sede da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE MG (avenida Afonso Pena, 1.316, 10º andar, Centro), uma solenidade de do Pacto de Minas pela erradicação do trabalho análogo à escravidão e pelo trabalho decente e seguro em Minas Gerais.