Em meio às tendas de lona instaladas ao lado da Casa de Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista, levantadas para auxiliar a ampliação do atendimento aos Yanomami, o Hospital de Campanha erguido pelo Exército começou a funcionar no fim de janeiro, quando a tragédia vivida pelos indígenas veio à tona. Agora, uma nova unidade hospitalar está prestes a começar a ser erguida, na região de Surucucu, para limitar as remoções para Boa Vista, que está a 354 km das comunidades mais remotas.
Porém, para começar as obras, o Exército precisa finalizar a reparação da pista de pouso em Surucucu, bastante avariada, para que os materiais necessários cheguem até o local, já que só podem ser transportados por aeronaves maiores.
Entre pacientes e acompanhantes ainda internados na Casai e no Hospital de Campanha, ainda havia cerca de 600 pessoas até o início do mês. Apesar de todo o drama, em 6 de fevereiro crianças brincavam com o que encontravam pelo chão, enquanto irmãos, pais e mães lutavam, lá dentro, pela própria sobrevivência. A maioria estampava sorriso no rosto e corria em meio aos profissionais de imprensa que rondavam a Casai, à espera da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
É dessa inocência dos pequenos Yanomami que exala a esperança de dias melhores para essa população, que levou décadas para ter os pedidos de socorro ouvidos.
Muitos pacientes já tiveram alta, mas as dificuldades logísticas para o retorno à terra indígena tornam o processo mais lento: a única pista que recebia aviões de maior porte nas imediações da Unidade Básica de Saúde Indígena de Surucucu a por reparos realizados pelo Exército, com previsão de conclusão em três semanas.
Na região, três unidades de saúde menores estão fechadas por causa dos conflitos com garimpeiros, o que sobrecarrega o polo-base Surucucu, que atende, em média, de 60 a 70 pessoas por dia e chegou a ser comparado pelo secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, a um campo de concentração. As demandas de remoção e atendimentos atingem níveis elevados — só em janeiro foram retirados mais de 220 indígenas.
“Estamos sofrendo com muitas fragilidades, a questão da desnutrição e da malária, que é um agravo e muito preocupante, e hoje o nosso distrito busca alternativas junto ao Ministério da Saúde e demais pastas para encontrar estratégias e solucionar os problemas”, diz o apoiador de saúde do DSEI Yanomami de Roraima Thiago Bonates.
O 4º Pelotão Especial de Fronteira fica localizado na região de Surucucu, onde está uma das bases de saúde indígena. Este local é um dos mais importantes pontos da FAB na região e também do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS), pois é referência para 14 mil indígenas e 150 comunidades do Território Indígena Yanomami, distante 354 km de Boa Vista.
Mulheres e homens do Exército brasileiro que servem no 4º Pelotão Especial de Fronteira, localizado na região de Surucucu, a 354 km de Boa Vista, são, para milhares de indígenas que vivem em áreas mais remotas, ao lado de um dos polos-base da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), uma referência quando o pedido de ajuda aperta ou a saúde está debilitada. Um médico e uma dentista ficam na base 24 horas.
O médico e segundo-tenente Lucas Eduardo Thomaz Marquez está no pelotão desde abril de 2022 e conta que, no início, a interação foi complicada. “Não conhecia as palavras direito nem a formação de frases. Então, fazia mímica. Conforme me aproximei, aprendi algumas palavras para realizar as consultas”, conta.
“Nesse último ano, percebi maior incidência de casos depneumonia, desidratação edesnutrição, alémde traumas por arma branca, como pedaços de pau”, Lucas Eduardo Thomaz, Médico e segundo-tenente no PEF
Segundo ele, o pelotão sempre prestou esse apoio à Sesai nos casos mais graves. “Nesse último ano, percebi maior incidência de casos de pneumonia, desidratação e desnutrição, além de traumas por arma branca, como pedaços de pau”, revela.Para a dentista Helen Almeida, 31, tenente baseada em Surucucu há um ano, houve aumento de casos de dor de dente entre os indígenas. “As dores geralmente são causadas por cáries, que têm chegado em estágio agravado. É devido à alimentação, que antes era mais saudável, pois a caça e a pesca eram mais rotineiras. Hoje, eles têm comido alimentos com conservante”, diz.