O biólogo e youtuber Átila Iamarino - que se tornou ainda mais conhecido dos brasileiros por conta de seus vídeos sobre a pandemia de Covid-19 - vai estrear uma campanha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de combate às informações falsas nas eleições municipais deste ano.
Em uma live sobre fake news produzida pelo TSE em junho e conduzida pelo presidente do Tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, Iamarino foi um dos convidados e falou sua experiência no combate a informações falsas sobre pandemia de Covid-19. "As fake news, as notícias falsas, eu diferencio como notícias que são criadas intencionalmente, disseminadas intencionalmente, e feitas para obscurecer a verdade", disse na ocasião. Foi a partir desse evento virtual que surgiu o convite para a participação na campanha do TSE.
Segundo nota divulgada no site do TSE, a campanha “Se for fake news, não transmita” tem como objetivo “abordar a disseminação de notícias falsas no dia a dia da sociedade, com ênfase no impacto negativo desse fenômeno nos processos democrático e eleitoral brasileiros”. A campanha deve ser veiculada no rádio, na televisão, na internet e em todas as redes sociais do TSE, mas ainda sem data definida.
Esse trabalho de combate a informações falsas tem sido realizado pelo TSE já há algum tempo e, para o processo eleitoral deste ano, o TSE já criou, desde agosto de 2019, o Programa de Enfrentamento à Desinformação com Foco nas Eleições 2020. Essa iniciativa reúne 49 instituições, entre partidos políticos, entidades públicas e privadas, associações de imprensa, plataformas de mídias sociais, serviços de mensagens e agências de checagem.
Porém, as eleições deste ano podem representar um desafio ainda maior no trabalho de combate a informações falsas já que as campanhas eleitorais tendem a se concentrar na internet - por conta das medidas de isolamento social impostas pela pandemia de coronavírus. “O peso das fake news aumenta a partir do momento em que o corpo a corpo vai estar desfavorecido”, avalia o professor de direito eleitoral da PUC Minas e da Faculdade Arnaldo e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral, João Andrade.
Ele também avalia que o foco maior deve estar na prevenção às fake news, uma vez que disseminadas o prejuízo pode não ser revertido. Ele ressalta que há meios jurídicos para se buscar a reparação mas que, nem sempre, são eficazes. “Por exemplo, se um candidato foi ofendido ou caluniado por uma fake news que foi compartilhada por milhões de seguidores do candidato adversário e ganha o direito de resposta na Justiça, como garantir que isso será compartilhado pelo mesmo número de pessoas? O juiz vai deferir o pedido mas não há meios efetivos para tornar isso possível”, explica.
Por outro lado, ele avalia que grandes empresas de comunicação e que, comumente, são importantes veículos de disseminação e propagação de fake news também estão atentas a isso. “Eu vejo iniciativas maiores de empresas, como o Facebook e o Twitter, de banirem contas falsas. E a gente tem visto isso até em contas relacionadas pessoas importantes da República. Então, me parece que os próprios sites e aplicativos estão tomando medidas para inibir em isso, medidas paralelas à via jurídica”.
O especialista se refere a medidas adotadas, por exemplo, pelo Twitter que recentemente baniu contas da ativista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, do ex-deputado Roberto Jefferson, dos blogueiros Allan dos Santos e Bernardo Küster, e dos empresários Luciano Hang e Edgard Corona e Otávio Fakhoury - quase todos ligados ao presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido).
O Twitter também apagou duas publicações da conta oficial do presidente Jair Bolsonaro, onde ele aparecia em vídeos em meio a aglomerações em Brasília e falando contra as medidas de isolamento social impostas pelos prefeitos e governadores no país. O mesmo vídeo também foi excluído da conta do presidente no Facebook e no Instagram - ambas redes da mesma empresa.. "Removemos conteúdo no Facebook e Instagram que viole nossos Padrões da Comunidade, que não permitem desinformação que possa causar danos reais às pessoas", disse a empresa em nota.