A data era 21 de abril de 1985. Às 22h29, o porta-voz da Presidência à época, Antônio Britto, foi até a sala de imprensa do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, para fazer o anúncio que gerou um clima de comoção instantânea entre milhões de brasileiros: após 38 dias internado, morreu Tancredo Neves, primeiro presidente civil a ser eleito depois de 21 anos de ditadura.
Vítima de uma doença cujo diagnóstico e tratamento até hoje são sinônimos de polêmica – um lemiona infeccionado, anteriormente descrito como uma diverticulite –, o presidente foi internado na véspera da posse e morreu sem assumir o cargo para o qual foi escolhido de forma indireta pelo Colégio Eleitoral. Na descrição de quem conviveu de perto com o político, Tancredo era um homem de perfil conciliador e estrategista, preocupado em garantir que o Brasil voltasse a ser uma democracia, após anos sob o rígido domínio dos governos militares.
“No hospital, sua única preocupação era o país. Ciente da grande frustração popular e das dificuldades que José Sarney (PMDB) poderia estar enfrentando, ditou-me uma carta para ser encaminhada ao presidente em exercício e que pudesse ajudar a legitimá-lo, naquele momento, no exercício da Presidência da República. Foi o último documento que ele assinou”, escreveu o hoje senador Aécio Neves (PSDB), neto de Tancredo, em um artigo publicado na edição especial de 45 anos da revista “Veja”. Aécio era assessor do avô àquela época.
ados 30 anos da morte de Tancredo, amigos e aliados contam histórias das últimas horas do presidente que marcou, mesmo sem chegar ao poder, o início da transição democrática no Brasil.
Indireto
Eleição. Na eleição de 1985, Tancredo foi escolhido por meio de votação indireta no Colégio Eleitoral. O primeiro presidente civil eleito pelo povo após a ditadura foi Fernando Collor, em 1989.