VELHO CONTINENTE

Entenda como Trump e clima motivam União Europeia a preparar cidadãos para '72 horas de uma crise'

O aviso à população foi feito, nas redes sociais, pela comissária europeia para Gestão de Crises, Hadja Lahbib


Publicado em 03 de abril de 2025 | 06:00

A União Europeia tem reforçado, nas últimas semanas, uma estratégia para preparar a população do bloco para situações de crise climáticas. O movimento tem incentivado as pessoas a estocarem alimentos, água e ter uma espécie de ‘kit de emergência’ para uso durante 72 horas em eventualidades. Além da preocupação com episódios relacionados ao clima, a ação também tem como pano de fundo uma preocupação com o avanço de guerras na Europa. 

O aviso à população, inclusive, foi feito, nas redes sociais, pela comissária europeia para Gestão de Crises, Hadja Lahbib. "O que tem na minha bolsa?", perguntou Lahbib no início do vídeo publicado no Instagram e no X. "Primeiro, meus óculos. Super importante se quiser ver o que está acontecendo. Depois, meus documentos, em uma pasta à prova d'água."

Ela prossegue com os demais itens: lanterna, fósforos ou isqueiro, para o caso de falta de luz; água, um canivete suíço, medicamentos de uso constante, barras de cereais, dinheiro em espécie, um carregador de celular, um baralho ou algum jogo para ar o tempo, um rádio e pilhas. "Isso é tudo de que você precisa para sobreviver às primeiras 72 horas de uma crise", completou a comissária, colocando todos os itens em uma pequena mochila.

A presença de alguns itens, como o rádio e o dinheiro em espécie, demonstra uma tensão com uma possibilidade de ruptura das redes digitais de comunicação, provocada por ciberataques. "Em uma crise, dinheiro vivo é rei", diz Hadja Lahbib, no vídeo promocional do Instagram. À AFP, Lahbib disse que trata-se de uma "estratégia para preparação e gestão de crises ligadas à guerra". 

A comissária disse à agência que a União Europeia vai apoiar todos os países que integram o bloco na criação da chamada ‘bolsa de resiliência’, pensando na autonomia dos cidadãos por 72 horas. O pacote de propostas inclui também um "dia nacional de preparação" em toda a UE para garantir que a medida seja eficaz em todos os países do bloco.

"Saber o que fazer em caso de perigo ou ter diferentes cenários prontos também ajuda a evitar o pânico", disse Lahbib, que lembrou que, durante a pandemia do coronavírus, muitas pessoas "correram às lojas para comprar papel higiênico". A intenção é "desenvolver algo mais harmonizado" entre os países do bloco. "Trata-se de coordenar melhor, de um apoio melhor aos países em suas estratégias", observou Lahbib.

A iniciativa da União Europeia se junta ao que já foi feito por alguns países europeus, como Suécia, Noruega e Finlândia, que distribuíram aos cidadãos manuais com recomendações. A França está preparando uma cartilha semelhante.

Guerras no radar 

Apesar da tensão climática, conflitos militares também preocupam a União Europeia. O continente já convive, desde fevereiro de 2022, com a guerra entre Rússia e Ucrânia que já resultou na morte de 12 mil civis, de acordo com balanço da Organização das Nações Unidas (ONU). Especificamente sobre os russos, há um temor de que, em um conflito com as tropas militares de Vladimir Putin, os países europeus não recebam o apoio dos Estados Unidos, por meio do presidente Donald Trump. 

Até junho, segundo o jornal parisiense Libération, milhões de lares ses receberão uma cartilha do governo, com cerca de 32 páginas. O conteúdo da cartilha estaria em fase de aprovação pelo gabinete do primeiro-ministro François Bayrou. Os preparativos vêm sendo feitos em sigilo por um órgão chamado Secretaria-Geral da Defesa e da Segurança Nacional.

O manual se inspira em livretos semelhantes distribuídos nos países escandinavos. Porém, ao contrário destes, onde a ameaça de invasão russa parece mais plausível, devido à proximidade geográfica, a cartilha sa não faz referência a guerra ou atentado terrorista. Distribuído a 2,2 milhões de lares em novembro, o manual sueco, um livreto de capa amarela intitulado "Em Caso de Crise ou de Guerra", vai muito além de um kit.

O conteúdo aconselha como se proteger em caso de ameaça militar ou invasão: como encontrar um abrigo ou uma zona de segurança, e como se deslocar. Propõe uma lista de frequências de rádio para se informar por canais oficiais, em caso de apagão da internet. E ensina até a purificar água e preparar refeições com recursos escassos.

"Vivemos uma época confusa. A guerra está grassando em nosso mundo. O terrorismo, os ciberataques e as fake news são utilizadas para nos prejudicar e nos influenciar", diz o texto introdutório do livreto, que pode ser baixado gratuitamente em formato PDF. Na França, não é raro encontrar material de divulgação com instruções para situações de emergência como essas. Na porta de muitos museus, há cartazes informando como agir em caso de ataque terrorista.

No site do governo francês já existe uma página listando os objetos a estocar em casa como kit de sobrevivência. Além dos itens sugeridos no kit da Comissão Europeia, os ses recomendam incluir agasalhos e cópias das chaves importantes. No evento de lançamento do kit, os representantes da Comissão Europeia lembraram que os confinamentos provocados pela pandemia de Covid-19 deixaram uma lição. 

(*Com AFP e Estadão Conteúdo)