Ao contrário do que é visto em alguns outros países, a questão nuclear no Brasil não é voltada aos armamentos de destruição em massa. Após o ataque de Israel ao Irã nessa quinta-feira (12 de junho), com a justificativa de impedir que Teerã adquira bomba atômica, especialistas apontam que, em solo brasileiro, o investimento é voltado para diversas outras áreas, com impactos positivos.

Vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Antonio Muller destaca que, no país, a aplicação está voltada para a indústria, a medicina, a agricultura, a energia elétrica, entre outros, trazendo uma série de benefícios. 

“A energia nuclear é uma energia limpa de ampla aplicação, e o Brasil tem muita capacitação no assunto. Podemos também destacar o uso na dessalinização da água, nos radiofármacos, entre outros”, diz ele.

O Brasil tem, atualmente, duas usinas: Angra I, que está em funcionamento desde 1985, e Angra II, em funcionamento desde 2001, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Ambas são gerenciadas pela Eletronuclear. Já a Angra 3 ainda não está em operação, devido a entraves políticos e econômicos. Além disso, o país tem a oitava maior reserva de urânio do mundo, sendo que a Austrália detém a maior.

Diretor técnico da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan),  Leonam Guimarães lembra que a Constituição do Brasil proíbe qualquer uso não pacífico de energia nuclear. Além disso, o país é parte do Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Portanto, o que se tem hoje, segundo ele, é apenas um uso para o desenvolvimento da nação, sendo que esse tipo de energia corresponde a 2,7% da energia elétrica gerada no Brasil.

“A energia nuclear é limpa, não gera gases de efeito estufa e tem um papel importante na descarbonização da economia. No mundo, pode substituir as usinas à carvão e, no Brasil, as hidrelétricas”, diz ele.

Os entraves, segundo Guimarães, ficam por conta do fato de toda atividade nuclear estar sob responsabilidade da União. “O setor precisa de investimentos, e, nessa realidade, a possibilidade de expansão fica restrita. São necessários altos investimentos e existe um longo prazo de maturação. Na minha opinião, é necessária a participação privada”, avalia ele.

Conforme o diretor técnico da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares, é necessário separar tudo o que está acontecendo em relação ao Irã e Israel e o que acontece no Brasil. “O Brasil sempre foi exemplar, e nunca teve nenhum desvio no uso da energia nuclear”, destaca ele.

Controvérsias

Em 2023, a Eletronuclear chegou a ser multada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Isso porque houve o despejo de água contaminada com substâncias radioativas no mar, pela usina Angra I. Na ocasião, especialistas chegaram a apontar que o Brasil não precisava de energia nuclear e poderia investir em energia solar, hidrelétrica e eólica. Além disso, foi destacado que o custo seria de três a cinco vezes mais alto do que em outros tipos de energia.