Médicos na Faixa de Gaza estão doando o próprio sangue para salvar pacientes depois que dezenas de palestinos foram mortos a tiros enquanto tentavam obter ajuda humanitária, informou nesta quinta-feira (5) a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A declaração foi feita num momento em que a Fundação Humanitária de Gaza (FHG), responsável por entregar a ajuda em Gaza, tem sido criticada por organizações internacionais devido a caos e mortes durante a distribuição de mantimentos. Em Genebra, cerca de cem funcionários da MSF protestaram nesta quinta em frente à sede da ONU contra a fundação, apoiada pelos Estados Unidos e por Israel.
"As pessoas precisam do básico para viver. E elas precisam disso com dignidade", disse o diretor-geral da MSF na Suíça, Stephen Cornish, à agência de notícias Reuters durante o protesto. "Ataques mataram dezenas. Eles [palestinos] foram deixados sangrando no chão."
Ainda segundo Cornish, funcionários de um dos hospitais onde a MSF opera em Gaza tiveram de doar sangue pois, segundo ele, a maioria dos palestinos está "muito malnutrida" para ajudar os feridos.
Nos últimos dias, dezenas de palestinos foram mortos e centenas ficaram feridos ao tentar ar os pontos de distribuição de comida, cuja logística está a cargo da FHG. A distribuição começou na semana ada, após Israel afrouxar um bloqueio de quase três meses à entrada de mantimentos em Gaza.
Desde o início da operação de distribuição, ao menos 102 palestinos foram mortos e cerca de 500 ficaram feridos, de acordo com autoridades locais. Imagens e relatos de testemunhas apontam que forças israelenses abriram fogo contra multidões famintas. O Exército de Israel, por sua vez, atribui a violência ao grupo terrorista Hamas. Já na última terça-feira (3), quando 27 pessoas morreram, as forças israelenses itiram que soldados atiraram em suspeitos que se aproximavam de suas posições.
Sob pressão, a FHG não distribuiu ajuda nesta quarta (4). A fundação disse ter pedido ao Exército israelense novas orientações para o "tráfego de pedestres de forma a minimizar a confusão ou riscos de escalada" perto de posições militares, que desenvolva orientações mais claras e que faça treinamentos para apoiar a segurança de civis.
Já nesta quinta, a FHG disse que os quatro pontos de distribuição mantidos pela fundação em Gaza não operaram na véspera porque eram necessários trabalhos de manutenção e reparos. Afirmou também que vai abrir mais dois locais para a entrega de ajuda, sem, entretanto, especificar quando e onde.
As Nações Unidas não estão participando do novo esforço. Segundo autoridades israelenses, a fundação verifica se as famílias atendidas têm envolvimento com o Hamas antes de distribuir a comida, o que violaria princípios humanitários de neutralidade e imparcialidade.
A ONU afirma ainda que o grupo coloca civis em perigo, forçando-os a caminhar por quilômetros para obter alimentos em locais arriscados. Também argumenta que a estratégia pode facilitar o plano israelense de deslocar a população do norte de Gaza, já que todos os pontos de distribuição estão no sul do território.