Célia Xakriabá

Celebramos investimentos na BR–135

Essa vitória é nossa. É do povo!

Por CÉLIA XAKRIABÁ
Publicado em 17 de agosto de 2023 | 07:16

Quando falamos da urgência de preservar, demarcar e garantir os nossos territórios, falamos de um projeto de futuro para toda a humanidade. Em Minas Gerais, temos uma imensa diversidade entre os povos indígenas, temos centenas de comunidades quilombolas e uma grande resistência na luta do povo do campo. A defesa da terra é uma das nossas prioridades, mas como falar disso sem considerar as dificuldades de o a esses territórios? Trago aqui o exemplo do nosso querido Norte de Minas, onde temos o meu povo Xakriabá, com 12 mil indígenas e cerca de 300 comunidades quilombolas. 

No Norte de Minas, travamos há anos uma luta intensa por melhorias na BR–153, que é o principal o ao povo Xakriabá e a diversas comunidades e povos tradicionais. Na última semana, com a retomada do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, tivemos a vitória da inclusão da nossa BR entre os investimentos previstos. Vitória que é nossa, que é da luta e que é urgente. 

Ainda em fevereiro, uma das primeiras ações do nosso mandato foi justamente um ofício ao Ministério dos Transportes pedindo intervenções para a BR–135. E agora, com a retomada de investimentos pelo governo Lula, o Norte de Minas e as nossas montanhas gerais conseguem vitórias. 

Serão mais de R$170 bilhões investidos em nosso Estado. E não adianta agora, em nosso momento de celebrar e cobrar ainda mais avanços, esse governo do Estado – que vai na contramão das Minas e do Brasil que queremos – dizer que fez pelo nosso povo e tentar capitalizar com a nossa vitória. Sempre digo que a luta é o quarto poder. E é à luta que devemos agradecer todo e qualquer avanço anunciado dentro do PAC e outros programas que retornam com o governo Lula. 

Não sei se a palavra “oportunismo” apenas é suficiente para falar de tamanha afronta aos que estão no chão da luta pela vida, por Minas e por um futuro. Enquanto o governador garante verbas enormes para a estrada que dá o ao sítio da sua família, fomos nós que sempre estivemos na articulação e cobrando o a quem de fato precisa. Não cairemos no discurso fajuto de que um governo estreito e sem diálogo teve participação nas verbas que chegam do governo federal. 

Sim, faço a defesa de que sempre devemos legislar e governar para todos e todas e seguirei propondo saídas pelo diálogo e buscando garantias para Minas Gerais. Isso independe de quem governa Minas. No entanto, dentro de todo e qualquer republicanismo, precisamos nomear as coisas, temos obrigação de celebrar quem olha pelo nosso povo. Essa pessoa não é Romeu Zema. 

Enquanto ele aplica políticas que favorecem seus amigos milionários e investe recursos públicos em benefício próprio e de seus familiares, estamos aqui perguntando: quando teremos investimentos na nossa educação? Quando faremos um debate real sobre a destruição pela mineração? Quando é que entenderemos que o dinheiro de reparação dos crimes da Vale não pode ser usado em obras megalomaníacas, que provocam novos crimes ambientais? Quando é que teremos políticas específicas para os povos indígenas e comunidades tradicionais? Quando faremos o debate sobre todo o retrocesso desse Regime de Recuperação Fiscal? Quando é que olharemos para os servidores públicos do Estado? Quando pararemos de pensar em uma política ambiental que só destrói e falaremos em preservação e futuro?

Não podemos curar o mal com a mesma enfermidade. Se dizemos sempre que faltam apenas cinco minutos para salvar o planeta, com a política aplicada em Minas Gerais, talvez não haja mais tempo. Esta é a realidade do nosso Estado. 

Sim, celebramos todo e qualquer investimento que nos leve adiante. Sim, a BR–135 é uma vitória enorme para o meu povo. Sim, queremos comida no prato, queremos água limpa e direitos garantidos. E, sim, sabemos exatamente o caminho e por onde am as nossas conquistas. E esse caminho, infelizmente, não é o escolhido pela política de Zema.

Somos o povo que resiste pela força da luta e do cantar. E, antes desse Brasil da coroa e das Minas dos engravatados, sempre tivemos e teremos o Brasil do nosso cocar. 

CÉLIA XAKRIABÁ é deputada federal (PSOL-MG)