Célia Xakriabá

É preciso olhar para o que a mineração mata e desmata

Destruição de rios e terra afeta a todos, não só os indígenas

Por Célia Xakriabá
Publicado em 27 de abril de 2023 | 07:00

Estamos no nosso Abril Indígena, o mês do maior encontro dos nossos povos, que é o Acampamento Terra Livre. E aqui em Brasília, junto a representações de todos os biomas, também pautamos Minas Gerais.

Temos uma grande diversidade de povos indígenas no Estado de Minas Gerais, conflitos territoriais e muitas questões urgentes. Talvez, a mais prioritária delas, seja a nossa luta contra a devastação da mineração. Sempre falo do que aconteceu com os parentes Krenak após o crime de Mariana.

Urgência da questão indígena

Se um povo perde o seu rio, ele perde um parente. Perde a sua cultura. Perde o seu alimento, a sua tradição. Matar o Watu é matar um pouco dos Krenak. O que fazer diante disso? Como evitar a queda do céu, se matamos rios, matamos povos, matamos a cultura e o meio ambiente?

E é pela urgência de tratar a questão dos povos indígenas de Minas Gerais, que escolhemos, em meio a maior mobilização indígena de Minas Gerais, realizar uma audiência pública na Comissão Externa de Brumadinho e Mariana para levar o caso do povo Krenak.

Projeto de destruição

Se estamos ecoando em marcha de que o futuro indígena é agora, precisamos pensar que futuro é esse. Precisamos responsabilizar o Estado de Minas Gerais por seguir apoiando um projeto de destruição. Precisamos perguntar ao Zema se ele acha que o futuro dele existirá sem planeta.

O meu apelo na Câmara dos Deputados tem sido a lembrança a todos os parlamentares que nos matar é também matar a humanidade. Se o governador acha que a violência e a mineração é um assassinato apenas aos indígenas e aos povos e comunidades tradicionais ele se engana.

Essa visão limitada faz com que esqueçam que se a gente é assassinado em um projeto programado de ecocídio, eles morrerão com o veneno que chega às suas mesas. Eles serão vítimas da água contaminada. Serão vítimas das mudanças climáticas.

Clamor pelo Watu

Somos os primeiros a terem sido golpeados desde 1500, mas é preciso lembrar que a destruição chegará para todos e todas se não mudarmos a forma de se relacionar com as nossas águas gerais, nossas montanhas gerais. Se não lembrarmos que o Cerrado e a Mata Atlântica são biomas que sustentam também o nosso país. Se a Amazônia é o pulmão do mundo, o Cerrado são as veias.

Clamamos hoje pelo povo Krenak, pelo nosso Watu, mas também por todos os povos indígenas de Minas Gerais e do Brasil. Se não fizermos um combate coletivo ao garimpo, à mineração e à destruição, não haverá vida. Não temos planeta B. A hora de reverter isso é agora. A saída e o futuro são indígenas. Coletivizar esse compromisso é lutar pela vida na Terra.

Compromisso coletivo

Nós sabemos que a Terra é parente. É avó, é irmã, é mãe. Se somos responsáveis por preservar 80% da biodiversidade do planeta é porque sabemos disso. Ou mudamos a forma de nos relacionarmos com a Terra, ou não teremos mais Terra.

A mineração mata. Talvez vocês não vejam isso imediatamente como nós, mas esse problema é coletivo. O compromisso também precisa ser. Com a força dos nossos ancestrais e dos nossos cocares seguimos segurando o céu.

Até quando será possível?