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SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Eleição sem Bolsonaro?

Ao aceitar a denúncia contra Jair Bolsonaro, o STF sedimenta o entendimento de que a eleição de 2026 ocorrerá sem o ex-presidente na lista de candidatos

Por Marcio Coimbra
Publicado em 02 de abril de 2025 | 06:00

Ao aceitar a denúncia contra Jair Bolsonaro, o STF sedimenta o entendimento de que a eleição presidencial de 2026 ocorrerá sem a presença do ex-presidente na lista de candidatos. A inelegibilidade já era uma realidade diante de decisão já emanada pelo TSE, entretanto a trilha aberta na semana ada fortifica esse caminho e afasta praticamente de forma definitiva a candidatura do capitão.

Bolsonaro, entretanto, tem um ativo valioso na arena política: votos. Algo que se tornou importante não somente pela habilidade de eleger representantes, mas pela capacidade de produzir em profusão um milionário Fundo Partidário e Eleitoral, aquilo que faz a máquina e as campanhas funcionarem. No modelo adotado pelo Brasil pós- Lava Jato, que proibiu as doações empresariais, a quantidade de deputados se tornou a conta mais importante de qualquer partido, pois seu resultado é aquilo que indica qual fatia do bolo ficará com cada agremiação.

Neste jogo, o bolsonarismo tornou-se moeda valiosa. Em um primeiro momento, elegeu hordas de deputados, na esteira de seu líder em 2018. Inúmeros nomes desconhecidos aram a orbitar o cenário político. Em 2022, o fenômeno se repetiu. Aqueles que romperam com Bolsonaro foram punidos pelo eleitor, já aqueles que optaram pela fidelidade canina foram agraciados com votações robustas. Bolsonaro, que havia sido o responsável direto pela eleição de 52 deputados pelo PSL em 2018, ajudou a eleger 99 no PL em 2022.

A força do bolsonarismo se tornou um ativo tão potente em termos eleitorais que muitos deputados tradicionais, já conhecidos do eleitor, abraçaram o ex-presidente como forma de garantir seus mandatos. Alguns migraram para seu partido; entretanto, outras siglas encontraram na aliança com o bolsonarismo uma forma de crescer e criar maior envergadura política. Republicanos, Progressistas e até setores do União Brasil embarcaram nesse caminho.

Tudo isso se relaciona com as eleições de 2026. Com Bolsonaro inelegível, o desenho deste cenário se tornou algo delicado, que precisa ser estudado com atenção, sob pena de perda de fatias importantes de Fundo Partidário e Eleitoral no próximo ciclo. Mais do que isso, ainda é possível contar com a variável da eventual prisão de Bolsonaro, possível de acontecer diante do julgamento que ocorrerá no STF.

Bolsonaro diz que segue candidato e que manterá seu nome na disputa até o final, ou melhor, até o julgamento de sua candidatura pelo TSE, que, em condições normais de temperatura e pressão, seguramente será impugnada, assim como ocorreu com Lula em 2018. Nessa conjuntura, resta saber quem será o seu companheiro de chapa, aquele que herdará a candidatura e poderá levar seu movimento adiante. Esse será o nome responsável por impulsionar as candidaturas proporcionais e eventualmente vencer a disputa pelo Planalto. Muitos consideram que, nesse cenário, o bolsonarismo pode, inclusive, se fortalecer ainda mais. A conferir.

Fato é que tudo indica uma eleição sem Bolsonaro na lista de candidatos presidenciais, porém isso está longe de ser uma eleição sem Bolsonaro. Seu nome, dentro ou fora da disputa, vai balizar cada etapa do pleito de 2026.