Fórmula-1

Dia para ficar na memória

A Fórmula-1 completou 50 anos desde sua primeira realização no país, em 1972. Com direito a uma manhã ensolarada e com público recorde, os que tiveram o privilégio de ir a Interlagos assistiram uma corrida acirrada e com muita emoção

Por Raimundo Couto
Publicado em 16 de novembro de 2022 | 00:00

Foi em uma conversa informal durante um almoço que comentei com o diretor de comunicação e VP do Instituto Renault, o engenheiro Caique  Ferreira, que tive o privilégio de ter assistido a primeira corrida da Fórmula-1 no Brasil. Caique, um apaixonado por competição, e em especial pela mais importante categoria do automobilismo mundial, lembrou que a prova de 2022 seria emblemática, afinal celebraria 50 anos de Brasil. “Estamos programando um pequeno grupo para nos acompanhar em Interlagos, como você esteve na primeira, o que acha de participar desta que completa cinco décadas?” Convite prontamente aceito, ei, a partir daí, a imaginar o turbilhão de sensações em estar no Paddock Club da Apline F1 Team, escuderia da Alpine, uma marca que pertence a Renault, assistindo “in loco” o GP-Brasil 2022.

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Tensão no caldeirão

É quase impossível descrever a emoção que senti nesse último fim de semana, ao pisar em Interlagos, templo sagrado do automobilismo brasileiro e relembrar minha primeira vez, há exatos 50 anos, na prova da Fórmula 1 que homologou o autódromo para ser credenciado a fazer parte do calendário oficial da então FIA, entidade que organizava os GPs. A prova em São Paulo alternou algumas vezes com a do Rio de Janeiro, em Jacarepaguá, que mesmo tendo como moldura a cidade maravilhosa, ficava devendo o DNA de competição que só Interlagos é capaz de reproduzir.  

A primeira vez

Era uma quinta-feira, dia 30 de março, do distante ano de 1972 que tive meu primeiro contato com o mundo das competições quando acompanhei meu pai a São Paulo para assistir a primeira prova da Fórmula 1 promovida no Brasil. Confesso que com dez para onze anos de idade a viagem de avião me entusiasmava mais do que a programação que nos aguardava na capital paulista, mas ao retornar já havia sido picado pelo mosquito da adrenalina que só as corridas proporcionam. Na verdade, meu pai, jornalista especializado na cobertura da indústria automobilística, que aquela época começava a dar os largos para o que se transformou nos dias hoje, foi convidado para assistir a este inédito e importante evento como profissional de imprensa.

O grande dia

Lembro-me pouca da programação, apenas que em sua maior parte era inadequada a uma criança de minha idade, com exceção do grande dia, uma quinta-feira de março, em que pela primeira vez um carro de Fórmula-1 rasgaria as retas do circuito de Interlagos.  A arquibancada reservada aos convidados ainda era de madeira e o autódromo estava lotado, um prenúncio que viria a se confirmar, a paixão do brasileiro por automobilismo, mais especificamente pela categoria máxima, a F-1. Tudo parecia monótono, muito sol, muito barulho, muita poeira e muita gente, até que Emerson Fittipaldi, com sua Lotus, preta e dourada, assume a ponta e se mantem na liderança durante quase toda prova.

Torcida

Faltando poucas voltas para a bandeirada final, chegando da reta principal, a suspensão quebra, Emerson entra no boxe e o segundo colocado, o argentino Carlos Reutemann com uma Brabham, assume a ponta e vence a corrida. Mesmo sem ganhar foi grande a emoção de torcer pela primeira vez. Nascia ali uma iração especial pelo piloto que abriu as portas para que tantos brasileiros tivessem oportunidade de mostrar seu valor nas pistas mundo afora. Acabei seguindo a mesma profissão do meu pai e como jornalista tive a oportunidade de alguns encontros com Emerson, sempre solícito e carismático. Estive em outras corridas de F-1, mas a deste fim de semana teve um simbolismo diferenciado. Cinquenta anos depois foi indescritível a emoção de estar ali, relembrar daquele garoto de dez anos, sempre de mãos dadas como meu pai, meu mestre e exemplo. Foi mesmo um fim der semana para não ser esquecido e ficar para sempre em minha memória.