Nos últimos anos, a sustentabilidade e a sigla ESG (ambiental, social e governança) dominaram o discurso empresarial, prometendo uma revolução na forma como as corporações operam e impactam o mundo. Contudo, quando a balança financeira desequilibra, a verdade vem à tona: muitas empresas apenas promovem políticas ESG como estratégia de marketing, sem um compromisso real com suas práticas.

Exemplos como Toyota, Honda, Microsoft, Google, Apple e Amazon destacam essa tendência ao abandonar pautas ESG e a chamada agenda "woke". Essas corporações, diante de desafios financeiros e de mercado, preferem se posicionar como empresas íveis a todos, colocando a rentabilidade acima de suas promessas ambientais. Esse movimento exige reflexão. O ESG e a agenda "woke" buscaram padronizar comportamentos, ignorando que as pessoas e os negócios possuem características únicas.

O contraste fica evidente ao observar realidades locais. Pense no pequeno agricultor de café no interior de Mato Grosso ou no criador de suínos no norte de Minas Gerais. Esses empreendedores estão preocupados em manter suas operações viáveis, e não em alinhar suas atividades a agendas ESG ou "woke". Para eles, o dia a dia é pautado por resultados práticos, não por políticas de sustentabilidade que pouco influenciam suas vidas e negócios. Isso levanta uma questão importante: o ESG é relevante para todos os setores ou deve ser adaptado às diferentes realidades empresariais?

Natura resiste e mantém foco em sustentabilidade 213a68

Esse dilema entre sustentabilidade e lucratividade é exemplificado pela Natura, uma das poucas empresas brasileiras listadas no ranking Global 100, que avalia as corporações mais sustentáveis do mundo. A Natura reafirmou publicamente seu compromisso com práticas ESG, mesmo enfrentando desafios financeiros significativos. Em 2022, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 8,92 bilhões, resultado de fatores como a recuperação judicial da Avon nos EUA. Apesar disso, manteve sua postura firme, contrariando a tendência de outras gigantes que abandonaram suas metas ambientais, como McDonald’s e Meta.

Porém, essa posição não vem sem custos. Quando pressionadas por resultados financeiros, muitas empresas enfrentam dificuldades em justificar práticas ESG que não geram retorno imediato. No caso da Natura, a correlação entre sustentabilidade e lucros é complexa. Enquanto ações socioambientais fortalecem a reputação e a fidelidade do consumidor a longo prazo, elas frequentemente são limitadas por desafios econômicos, especialmente em momentos de crise.

O mercado corporativo transformou a sustentabilidade em um setor técnico e profissionalizado, com departamentos dedicados e relatórios detalhados. No entanto, essa profissionalização tem seus limites. A sustentabilidade, quando subordinada ao lucro, deixa de ser um valor inegociável e a a ser apenas mais uma variável no balanço. Isso cria um dilema: como equilibrar a pressão por rentabilidade com a necessidade de ações climáticas profundas?

A Natura, ao reafirmar seus compromissos ESG em meio à crise, desafia esse paradigma. Mas é preciso perguntar: as empresas podem realmente ser sustentáveis quando confrontadas com pressões financeiras? Ou devemos repensar nosso modelo para que o planeta não dependa da boa vontade dos acionistas?