CONTENÇÃO DE DESPESAS

Deputados rejeitam mudança no BPC e aprovam último projeto do pacote de corte de gastos

Projeto de lei aprovado pela Câmara rejeita alterações no BPC, mas mantém mudança na política de reajuste do salário mínimo

Por Lara Alves
Publicado em 19 de dezembro de 2024 | 20:58

BRASÍLIA A Câmara dos Deputados encerrou nesta quinta-feira (19) a votação do trio de medidas que compõem o pacote de corte de gastos do Governo Lula (PT). As três vão à análise do Senado, que começou a votá-las no início da noite, a três dias do início das férias dos deputados e senadores. 

A última etapa da votação do pacote consistiu na aprovação de um projeto de lei que, em seu ponto central, muda a política de valorização do salário mínimo. Hoje, ele é reajustado a partir da soma da inflação do ano anterior com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. A proposta do governo, acatada pela Câmara, enquadra o reajuste aos limites do arcabouço fiscal — restringindo o crescimento de despesas a 2,5% acima da inflação.

O relator do projeto, deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), desidratou a proposta original do Governo Lula, retirando dela pontos polêmicos. O primeiro deles trata do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que não angariou sequer o apoio da bancada do PT na Câmara. 

A versão pretendida pelo Planalto previa mudanças nas regras de o ao BPC, pago a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda. O texto previa que as rendas de cônjuges que não moram na mesma casa e de irmãos, filhos e enteados que dividem o mesmo lar, valeriam como critério para concessão do benefício. A proposta também indicava que a renda de um beneficiário que recebe o BPC contasse como critério de exclusão para evitar que outro morador da casa tivesse o ao auxílio. 

O relator retirou esse trecho do texto, permitindo, portanto, que duas pessoas da mesma família recebam o BPC. Outra mudança feita por Bulhões diz respeito ao Fundo Constitucional do Distrito Federal. Ele é um valor pago pela União ao DF para serviços de segurança pública, educação e saúde sendo reajustado a partir da Renda Corrente Líquida da União. O Ministério da Fazenda sugeriu a mudança do critério, prevendo o reajuste pela inflação, o que economizaria cerca de R$ 15 bilhões — pelos cálculos da equipe econômica. 

A bancada do Distrito Federal e a vice-governadora Celina Leão (PP) se mobilizaram e intensificaram as articulações nessa quarta-feira (18) para evitar a mudança. A negociação surtiu efeito, e o relator também excluiu esse ponto do projeto.

Pacote de cortes 

O pacote é imprescindível, segundo o ministro Fernando Haddad, para garantir o equilíbrio das contas públicas e também responder à pressão do mercado. A especulação em torno do rumo econômico do país e a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) justificando o aumento da Selic impactaram diretamente na alta do dólar. A esperança é que a aprovação do conjunto de medidas no Congresso Nacional acalme a indisposição. 

Aliados do Planalto articulam a votação do pacote no Senado para a sessão de quinta-feira (19). A pressa se justifica diante da perspectiva de início do recesso legislativo. Na prática, os parlamentares têm até sexta-feira (20) para concluir a votação do pacote no Congresso. 

Além do projeto de lei, os deputados também as outras duas matérias que compõem o pacote. A primeira é um projeto de lei complementar, que cria travas para ajustar o ritmo de crescimento das despesas do governo e prevê a possibilidade de bloqueio das emendas parlamentares, mas apenas as não obrigatórias. O texto ainda permite o uso da sobra de cinco fundos para pagar a dívida pública. 

Depois, eles aprovaram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que trata de alterações no abono salarial, nos supersalários e no Fundo Nacional de Educação Básica (Fundeb).