Golpe militar de 64 foi em 31 de março ou 1° de abril? Especialista responde

Sessenta anos após o golpe de Estado que provocou a derrubada do presidente João Goulart e abriu portas para 21 anos de ditadura militar no Brasil, ainda há questionamentos sobre a data que marcou o início do regime. Afinal, o golpe ocorreu em 31 de março ou 1° de abril de 1964? 

Segundo o professor do departamento de história da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Leon Kaminski, que coordena uma pesquisa sobre a ditadura em Minas Gerais, ambas as datas têm relação direta com o início do golpe.

No entanto, o dia 31 de março é lembrado com mais frequência pelo fato de marcar a data em que o general mineiro Olímpio Mourão Filho – chefe da 4ª Região Militar de Juiz de Fora – saiu da cidade da Zona da Mata mineira e marchou rumo ao Rio de Janeiro, antecipando o plano de tomada de poder por parte dos militares. “Se pegarmos esse momento, a gente fica com o dia 31 por ser o início da deflagração do processo golpista. Isso ficou gravado na história”, explica o pesquisador. 

Kaminski esclarece, porém, que a concretização do plano só ocorreu, de fato, em 1° de abril. Foi nesse dia que a tropa de Mourão Filho chegou ao Rio, unindo-se a outros militares que promoveram a tomada do Forte de Copacabana. O movimento desencadeou reações Brasil afora, como as articulações no Congresso Nacional para declarar vaga a presidência da República (fato que foi anunciado no dia seguinte) e o início das prisões de quem se opunha à ofensiva militar. 

O pesquisador ressalta ainda que o dia 1° de abril marca do Dia da Mentira, fato que levou grupos de resistência ao golpe a atrelarem a ofensiva dos militares à data. Já os militares sempre se referem ao evento como tendo ocorrido no dia 31 de março. Em Juiz de Fora, a data é, inclusive, reverenciada pela 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha, que hoje ocupa a antiga sede da 4ª Região Militar de Juiz de Fora. Atualmente, o destacamento se autodenomina “Brigada 31 de Março”, em clara referência à data em que o general Mourão partiu do local rumo ao Rio. “Essa discussão sobre a data é uma disputa simbólica”, conclui o historiador Leon Kaminski.