BRASÍLIA - O governo brasileiro disse, nesta segunda-feira (29), que as eleições na Venezuela ocorreram com "caráter pacífico" e informou que, agora, acompanha com atenção a apuração dos votos. A nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, no entanto, não parabeniza Nicolás Maduro pela reeleição, confirmada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela.

Nesse contexto, o Itamaraty diz que agora aguarda a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação. De acordo com a pasta, esse é um “o indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.

Ainda segundo o texto, a democracia precisa ser observada no processo. “O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração. Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”.

A apuração total dos votos na Venezuela não havia sido divulgada até a publicação desta reportagem. No entanto, o CNE, vinculado ao governo da Venezuela, proclamou a reeleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato consecutivo de seis anos após a contagem de 80% das urnas no país. A oposição denuncia fraude no processo eleitoral e reivindica a vitória do principal candidato do grupo, Edmundo González Urrutia.

Outros países também questionaram o resultado antecipado pelo CNE. Entre eles estão os Estados Unidos, Argentina, Chile, Costa Rica, Espanha, Guatemala, Peru, Uruguai e União Europeia. Por outro lado, reconheceram a vitória de Maduro os governo de China, Cuba, Nicarágua, Honduras e Bolívia.

Mais cedo nesta segunda-feira, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, que representa o governo brasileiro na Venezuela no acompanhamento das eleições, afirmou que o Itamaraty irá se posicionar sobre o resultado das urnas após ter o às atas das votações.

Em entrevista ao jornal O Globo, o principal conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos de política externa declarou que não pretende questionar o processo eleitoral dos venezuelanos, mas mostrou preocupação com a falta de transparência.

“O problema que mais incomoda é a transparência [...] O governo continua acompanhando até ter os dados necessários para fazer uma avaliação fundamentada, como em toda eleição. A transparência é essencial. Não estou necessariamente duvidando do que está sendo apresentado, mas o governo aguarda o recebimento das atas das quais esses números resultam, o que ainda não ocorreu”, disse.

Crise Brasil e Venezuela

Na semana ada, foi dado o início de uma crise entre Brasil e Venezuela. Insatisfeito com as críticas de Lula, Nicolás Maduro afirmou, sem apresentar provas, que as eleições no Brasil não são auditadas. Ele sugeriu ainda que o petista tomasse um “chá de camomila”. O ditador não citou nominalmente Lula, mas fez referências às declarações dadas pelo brasileiro no início da semana. 

“Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila. (...) Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita”, disse Maduro. Ainda durante o comício partidário no estado de Aragua, ele questionou o sistema eleitoral brasileiro.

Em entrevista a agências internacionais, na última segunda-feira (22), Lula afirmou que ficou assustado com a declaração de Maduro de que a nação poderia enfrentar um "banho de sangue" e uma "guerra civil" caso não fosse reeleito. Ele completou que para o país voltar a ser respeitado pela comunidade internacional, é importante que condições de transparência sejam atendidas.

Em resposta às declarações de Maduro sobre as urnas brasileiras, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu não enviar observadores para a eleição presidencial na Venezuela. A Corte ainda reforçou que a "Justiça Eleitoral brasileira não ite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil".