BRASÍLIA - A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, manifestou-se publicamente pela primeira vez, nesta sexta-feira (6), após a revelação de denúncias de assédio sexual contra o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.  

Na postagem em seu perfil pessoal em uma rede social, Anielle não confirmou ter sido vítima, conforme divulgado, mas agradeceu o apoio recebido e elogiou a “ação contundente” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que minutos antes havia anunciado a demissão de Silvio de Almeida.

“Hoje venho aqui como mulher negra, mãe de meninas, filha, irmã, além de Ministra de Estado da Igualdade Racial. Eu conheço na pele os desafios de ar e permanecer em um espaço de poder para construir um país mais justo e menos desigual", escreveu a ministra.

A ministra também defendeu que “não é aceitável relativizar ou diminuir episódios de violência” e criticou a tentativa de “culpabilizar a vítima”. “Peço que respeitem meu espaço e meu direito à privacidade. Contribuirei com as apurações, sempre que acionada”, afirma no texto.

Ainda no comunicado, ela agradeceu a todas as manifestações de apoio e solidariedade e completou que é um compromisso do governo Lula enfrentar à violência contra as mulheres e meninas que sofrem todos os dias com assédio em diferentes espaços da sociedade. 

"E posso afirmar até aqui, que o enfrentamento a toda e qualquer prática de violência é um compromisso permanente deste governo. Sigo firme nos os que me trouxeram até aqui, confiante nos valores que me movem e na minha missão de trabalhar por um Brasil justo e seguro para todas as pessoas", concluiu.

Entenda o caso 

As acusações de assédio sexual por parte de Silvio Almeida vieram à tona, na última quinta-feira (5), após publicação do colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, e foram confirmadas posteriormente pela organização Me Too Brasil, que acolhe vítimas de assédio sexual e recebeu as denúncias. 

A entidade, porém, não divulgou a identidade das vítimas. Mas, segundo o colunista, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, estaria entre as vítimas. Por meio de nota, no início da noite desta sexta-feira, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República informou a demissão do então ministro.

A pasta reconheceu a "gravidade das denúncias" e informou que “o caso está sendo tratado com o rigor e a celeridade que situações que envolvem possíveis violências contra as mulheres exigem”. O Palácio do Planalto acrescentou que a Polícia Federal (PF) já abriu uma investigação, enquanto a Comissão de Ética Pública da Presidência da República iniciou um procedimento preliminar para esclarecer os fatos.

Silvio Almeida nega as acusações

Por meio de nota oficial e por um vídeo publicado nas redes sociais, na última quinta-feira, o agora ex-ministro chamou a denúncia de “mentira” e classificou as acusações como “ilações absurdas” para prejudicá-lo. Já nesta sexta-feira, após o anúncio da demissão dele, Almeida divulgou um novo comunicado

Ele afirma que pediu sua demissão ao presidente Lula para garantir "total liberdade e isenção" nas investigações em que ele responde por acusações de assédio sexual. "Será uma oportunidade para que eu prove a minha inocência e me reconstrua”, diz em um dos trechos da nota. 

Ele ainda diz no texto que é o maior interessado em provar a inocência dele e ressalta que deseja que os fatos sejam postos para que ele possa se defender dentro do processo legal. 

Confira a íntegra da nota de Anielle Franco: 

“Hoje venho aqui como mulher negra, mãe de meninas, filha, irmã, além de Ministra de Estado da Igualdade Racial.

Eu conheço na pele os desafios de ar e permanecer em um espaço de poder para construir um país mais justo e menos desigual.

Desde 2018, dedico minha vida para que todas as mulheres e pessoas negras possam estar em qualquer lugar em serem interrompidas.

Não é aceitável relativizar ou diminuir episódios de violência. Reconhecer a gravidade dessa prática e agir imediatamente é o procedimento correto, por isso ressalto a ação contundente do presidente Lula e agradeço a todas as manifestações de apoio e solidariedade que recebi.

Tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger, ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência.

Peço que respeitem o meu espaço e meu direito à privacidade. Contribuirei com as apurações, sempre que acionada.

Sabemos o quanto mulheres e meninas sofrem todos os dias com assédio em seus trabalhos, nos transportes, nas escolas, dentro de casa. E posso afirmar até aqui, que o enfrentamento a toda e qualquer prática de violência é um compromisso permanente deste governo.

Sigo firme nos os que me trouxeram até aqui, confiante nos valores que me movem e na minha missão de trabalhar por um Brasil justo e seguro para todas as pessoas.

Anielle Franco 
Ministra da Igualdade Racial"