RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Ex-primeira-dama do Peru chega ao Brasil como asilada, após ser condenada e receber salvo-conduto em seu país

Nadine Heredia e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala, foram condenados 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro

Por Renato Alves
Publicado em 16 de abril de 2025 | 14:38

BRASÍLIA – Ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia desembarcou em em Brasília no fim da manhã desta quarta-feira (16), um dia após ser condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro e entrar na embaixada brasileira em Lima, na capital peruana, para pedir asilo e evitar a prisão.

Nadine não foi ao próprio julgamento e se dirigiu à representação brasileira logo após a Terceira Vara Colegiada do Tribunal Superior Nacional do Peru ler a sentença que a condenou. A juíza Nayko Coronado Salazar, responsável pelo caso, emitiu mandados de prisão imediata após a decisão da Corte.

No entanto, a presidente do Peru, Dina Boluarte, concedeu salvo-conduto para permitir que Nadine deixasse a embaixada e viajasse para o Brasil com o filho Samin Mallko Ollanta Humala Heredia, que tem menos de 18 anos. Os dois deixaram o Peru na madrugada de quarta.

“A Embaixada do Brasil no Peru comunicou que, em respeito à Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, da qual ambos os Estados são partes, decidiu conceder asilo diplomático a Nadine Heredia Alarcón e seu filho menor Samin Mallko Ollanta Humala Heredia”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores peruano em um comunicado.

Conforme o artigo 12 da convenção citada, o país do qual o solicitante de asilo pretende sair é obrigado a atender imediatamente o pedido, vindo do país que vai recebê-lo, de permitir que o asilado vá para território estrangeiro, “salvo caso de força maior”.

Já o ex-presidente Ollanta Humala, 62 anos, foi ao julgamento e acabou preso. O casal foi condenado nesta terça-feira (15) a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, por receber propinas da construtora brasileira Odebrecht (atual Novonor) e do governo venezuelano em suas campanhas eleitorais de 2006 e 2011. A defesa de Humala disse que vai recorrer.

A sentença divulgada na terça encerrou mais de três anos de audiências contra Humala, ex-líder de centro-esquerda que governou o Peru entre 2011 e 2016. Ele foi acusado de lavagem de ativos por ocultar o recebimento de US$ 3 milhões da Odebrecht em doações ilegais para a campanha de 2011, que o levou à presidência.

Mas, na campanha derrotada de 2006, Ollanta Humala e Nadine Heredia também teriam desviado US$ 200 mil enviados pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O Ministério Público peruano diz que o dinheiro foi mandado por Chávez “através de transferências bancárias com a empresa de investimentos Kayzamak”.

A promotoria havia pedido 20 anos de prisão para Humala e 26 anos para Heredia, a quem também acusou de ocultação de fundos mediante “compras de bens imóveis com dinheiro da Odebrecht”. O casal sempre negou ter recebido dinheiro de Chávez ou de qualquer empresa brasileira.

Escândalo da Odebrecht atingiu quatro ex-presidentes peruanos

Nadine Heredia chegou a Brasília nesta quarta em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB). Da capital, ela e o filho seguiriam para São Paulo ainda nesta quarta, mas o horário não havia sido divulgado até a mais recente atualização desta reportagem.

Heredia teria escolhido a capital paulista como destino para tratar um cêncer. Já Ollanta Humala, ainda na noite de terça-feira, foi levado para uma pequena prisão em uma base da polícia na zona leste de Lima, onde estão presos os ex-presidentes Alejandro Toledo e Pedro Castillo.

Humala é o segundo ex-presidente peruano condenado pela justiça de um total de quatro ex-chefes de Estado envolvidos no esquema de corrupção da Odebrecht no país. Alejandro Toledo (2001-2006) foi condenado a mais de 20 anos de prisão, no ano ado, por receber subornos em troca de obras em seu governo.

Pedro Pablo Kuczynski (2016 - 2018) está em prisão domiciliar provisória, uma medida cautelar a pedido de uma equipe da força-tarefa peruana, que o investiga por corrupção no período em que foi ministro do governo de Toledo, por ter concedido duas licitações à empreiteira brasileira.

Alan García, que foi presidente do Peru por dois mandatos (1985-1990 e 2006-2011), se matou em 2019, após saber que seria preso preventivamente por conexão com os subornos da Odebrecht.

Em 2016, a Odebrecht itiu ter feito pagamentos indevidos totalizando cerca de US$ 788 milhões para obter contratos de obras públicas em vários países da América Latina, incluindo o Peru.

Em 2000, em meio a um escândalo de corrupção, o Congresso destituiu o então Alberto Fujimori por “incapacidade moral permanente”. Ele estava no poder desde 1990 e havia enviado sua renúncia por fax do Japão, para onde fugiu dias antes de ser derrubado.

Extraditado do Chile, em 2009, Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão por corrupção e crimes contra a humanidade. Após mais de uma década na cadeia, ele foi libertado em 2023 e morreu no ano ado, vítima de câncer. Sua filha, Keiko, tornou-se líder da oposição. Ela cumpriu 15 meses de prisão preventiva, entre 2018 e 2020, por envolvimento com a Odebrecht. (Com AFP)