ORIENTE MÉDIO

Brasil condena ataques de Israel em Gaza e alerta que ‘uso da fome como método constitui crime de guerra’

Governo brasileiro se une à grande parte da comunidade internacional em pressão sobre Israel devido à situação humanitária na Faixa de Gaza

Por Renato Alves
Atualizado em 21 de maio de 2025 | 12:10

BRASÍLIA – O Itamaraty emitiu nota nesta quarta-feira (21) dizendo que o governo brasileiro “condena, nos mais fortes termos”, a nova ofensiva israelense na Faixa de Gaza, com intensificação dos bombardeios aéreos e expansão das operações terrestres.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil ressalta que os mais recentes ataques das tropas israelenses “provocaram, nos últimos dias, a morte de mais de 300 palestinos, incluindo mulheres e crianças, e forçaram deslocamento de mais de 60 mil pessoas”.

A chancelaria brasileira também destaca que a recente declaração de Israel sobre a intenção de assumir o controle de toda a Faixa de Gaza, “é incompatível com as normas de direito internacional”. 

“O Brasil reafirma, ainda, que a única solução legítima e duradoura para o conflito reside na implementação definitiva da solução de dois Estados”, diz trecho do comunicado. 

Ou seja, o Itamaraty reforça a posição do governo em defender a criação do Estado da Palestina, dando aos palestinos a garantia de um território, como foi feito para os israelenses há oito décadas. 

O Itamaraty lembrou do bloqueio completo de dois meses, estabelecido por Israel, que impede a entrada de ajuda humanitária em Gaza, aumentado a fome entre palestino, além da falta de o a outros itens básicos.

“O Brasil expressa grave preocupação com a anunciada intenção israelense de permitir ingresso mínimo de alimentos e remédios em Gaza, recordando que o uso da fome como método constitui crime de guerra”, alerta o Itamaraty.

Além de pedir ao governo de Israel a permitir o imediato e desimpedido de ajuda humanitária, o Itamaraty reiterou “apelo em favor da cessação permanente das hostilidades, retirada completa das forças israelenses de Gaza e da libertação dos reféns remanescentes”.

Vários países aumentam pressão sobre Israel 

Vários países, incluindo França, Alemanha e Reino Unido, aumentaram a pressão sobre Israel devido à situação humanitária em Gaza. A campanha em favor dos palestinos inclui o papa Leão XIV.

Moradores de Gaza continuavam aguardando nesta quarta-feira a ajuda humanitária autorizada por Israel no território palestino devastado.

Os bombardeios, no entanto, não cessaram. Ao menos 19 pessoas morreram na madrugada de quarta em ataques israelenses, incluindo um bebê nascido há uma semana.

Israel afirmou que 93 caminhões entraram em Gaza na terça-feira (20), uma ajuda insuficiente segundo organizações humanitárias.

Na segunda-feira (19), a ONU anunciou que havia sido autorizada a enviar ajuda, pela primeira vez desde que Israel impôs um bloqueio total à Faixa de Gaza em 2 de março, o que provocou uma grave escassez de alimentos e remédios. A entrega do auxílio, no entanto, sofreu um atraso, segundo a organização.

Para a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), o volume de ajuda que Israel permitiu não é nem de longe suficiente para uma população de 2,4 milhões de pessoas. A organização chamou a decisão de “cortina de fumaça” enquanto continua o cerco.

O governo dos Emirados Árabes Unidos alcançou um acordo com Israel para fornecer “ajuda humanitária urgente” a Gaza, que “resolverá as necessidades alimentares de aproximadamente 15 mil civis (...) na fase inicial”, segundo um comunicado divulgado pela imprensa estatal de Dubai. Mas a data de envio da ajuda não foi divulgada.

Ministro falou em “carnificina” das forças militares de Israel

Na terça, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pediu para a comunidade internacional não permanecer “de braços cruzados” diante da “carnificina” das forças militares de Israel contra os palestinos.

“É uma situação terrível que está acontecendo, há uma carnificina”, disse Vieira durante uma audiência em uma comissão do Senado. “Há um número elevadíssimo de crianças mortas. (...) É algo que a comunidade internacional não pode ver de braços cruzados”, ressaltou.

O chanceler lamentou que o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) esteja “paralisado” diante do “desrespeito” de Israel ao direito internacional.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já classificou em várias oportunidades a ofensiva militar israelense em Gaza como um “genocídio”.

Lula, que condenou “os ataques terroristas” de 7 de outubro de 2023 em Israel pelo Hamas que provocaram esta guerra, também reiterou seu compromisso com a solução de dois Estados, um palestino e um israelense, no âmbito das fronteiras vigentes antes da Guerra dos Seis Dias de 1967 em que Israel ocupou vários territórios da área.

Ataques de Israel já mataram mais de 50 mil palestinos

O ataque do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, deixou 1.218 mortos, a maioria civis, segundo um balanço baseado em dados oficiais.

Os islamistas sequestraram naquele dia 251 pessoas – 57 continuam cativas em Gaza, mas 34 foram declaradas mortas pelo Exército israelense.

A campanha militar lançada em represália por Israel matou ao menos 53.573 pessoas, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, cujos dados a ONU considera confiáveis.

A mediação de Catar, Egito e Estados Unidos permitiu quase dois meses de trégua, que Israel rompeu em 18 de março para retomar sua ofensiva sobre Gaza.

Os contatos estão paralisados e Israel retirou seus chefes negociadores de Doha. Pouco antes, o Catar denunciou que a intensificação da ofensiva israelense compromete “qualquer possibilidade de paz” em Gaza.