JULGAMENTO

Anderson Torres foi convocado por Bolsonaro para live contra urnas eletrônicas, diz testemunha

STF ouve testemunhas indicadas por Torres, acusado de difundir desinformação sobre o sistema eleitoral e coordenar plano de blitz no segundo turno de 2022 

Por Renato Alves
Publicado em 27 de maio de 2025 | 10:13

BRASÍLIA – Uma das testemunhas de defesa de Anderson Torres disse, em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), que o então ministro da Justiça foi convocado para participar de uma live com o presidente Jair Bolsonaro (PL) para atacar as urnas eletrônicas.

A declaração foi dada na manhã desta terça-feira (27) pelo delegado da Polícia Federal (PF) Braulio do Carmo Vieira. A live citada ocorreu em julho de 2021 e foi anunciada por Bolsonaro como definitiva na apresentação de “provas” de possibilidade de “fraude” nas urnas usadas nas eleições.

Em campanha por volta do voto impresso, Bolsonaro queria denunciar possível fraude em pleito vencido por ele no segundo turno, sob alegação que teria tido votos suficientes para ganhar no primeiro. Mas ele nunca apresentou provas de irregularidades.

Braulio Vieira, que era pessoa de confiança de Anderson Torres no Ministério da Justiça, disse em depoimento que o então ministro foi convocado por Bolsonaro para participar de uma das tradicionais lives das noites de quinta-feira só para falar das urnas. 

“Houve uma convocação do presidente da República [para participar da live]. Houve desconforto [de Anderson Torres] pelo desconhecimento técnico do tema. Ele pediu a assessores que buscassem documentos sobre o tema [da live]”, afirmou o delegado da PF.

Na audiência desta terça, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionou se o material reado a Torres tinha informações capazes de questionar o processo eleitoral. Vieira disse que não foi ele quem reou os documentos e que não atuou diretamente para rear o material.

“Eu não ei. Quem ou foi a assessoria direta dele. Houve essa ausência de capacidade técnica do Anderson, e os assessores aram esse doc. Eu lembro da live, mas não li com profundidade. Não li o documento. Só vi na live”, afirmou o delegado.

O documento, segundo Vieira, foi feito por peritos da PF e lido por Torres durante a live. Essa atuação levou o ex-ministro a ser investigado pela PF. Ele acabou denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como integrante do chamado “núcleo crucial” da suposta trama golpista.

Segundo a PGR, Torres espalhou mentiras sobre fraude nas urnas e também atuou para colocar em prática os bloqueios da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em estados do Nordeste para evitar que eleitores de Lula chegassem às urnas no dia da votação do segundo turno de 2022.

Ainda de acordo com a PGR, Anderson Torres fez documentos que seriam usados no golpe de Estado. Na casa dele, foi encontrada a minuta de um decreto de Estado de Defesa, a chamada minuta do golpe. Torres foi preso em 14 de janeiro de 2023. Quatro meses depois, foi solto e, desde então, com tornozeleira eletrônica.

Torres estava nos Estados em 8 de janeiro de 2023. Ele era o secretário de Segurança do DF quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas por apoiadores de Bolsonaro pedindo intervenção militar. Torres viajou com a família uma semana após assumir o cargo. Ele é acusado de omissão.

STF faz audiências para ouvir testemunhas de defesa

Já Braulio do Carmo Vieira fez as declarações como testemunha de Anderson Torres em depoimento na ação que apura o suposto plano de golpe de Estado que visava manter Jair Bolsonaro no poder após a derrota em 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A Primeira Turma do Supremo ouve nesta terça-feira testemunhas de defesa de Anderson Torres, que era o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal em 8 de janeiro e havia sido ministro da Justiça no governo Bolsonaro.

Os depoimentos são prestados ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo na Corte. Há a previsão de serem ouvidas nesta terça as 15 testemunhas indicadas por Torres.

Entre eles estão delegados da PF e ex-integrantes da Secretaria de Segurança Pública do DF, como a coronel Cíntia Queiroz de Castro, subsecretária de Operações Integradas da pasta, responsável operacional pelos protocolos de ações dos órgãos de segurança.

Entre outras testemunhas, Torres também indicou Saulo Moura da Cunha e Alessandro Moretti, ex-diretores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e os delegados Alessandro Moretti, Leo Garrido de Salles e Marcos Paulo Cardoso, da PF. 

Até agora, o STF ouviu testemunhas de acusação indicadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), além de testemunhas de Mauro Cid (ex-ajudante de ordens), Walter Souza Braga Netto (general, vice na chapa de Bolsonaro), Alexandre Ramagem (deputado federal, PL-RJ); Garnier Santos (ex-comandante da Marinha), Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional).