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Mas como foi Los Angeles 84? Quais foram os grandes protagonistas?
Los Angeles 84, apesar do pesado boicote socialista, foi um sucesso digno de Oscar!
Los Angeles, apesar do pesado boicote socialista, foi um sucesso digno de Oscar! Muitos astros brilharam na cidade dos Anjos. Seja pelas múltiplas vitórias, ou por retumbantes fracassos
Comecemos por Francis, um negro alto e forte, que se dizia a encarnação de Jesse Owens, aquele que nos Jogos de Berlim, 48 anos antes, conseguiu o impossível: conquistou 4 ouros nas provas de atletismo, justamente na Olimpíada que o nazismo de Hitler iria provar a supremacia branca! Calou Hitler e silenciou o Estádio Olímpico, por 6 dias seguidos. Justamente os dias em que venceu os 100, 200, 4x100 e salto em distância, entre eliminatórias e finais.
Pois bem, Francis, ou Francis Carlton Lewis, mais conhecido como Carl Lewis, prometeu e cumpriu. Repetiu o impossível!
Mas, calma lá, dirá você, caro leitor atento, bastava Usain Bolt, treinar um pouquinho salto em distância que venceria e igualaria o feito de Owens e Lewis, já que em Pequim e Londres, conseguiu a “tripleta” (ouro nos 100/200 e 4x100). Foram, sim, jornadas espetaculares, mas faltou o salto em distância, com eliminatória e final. Fiz esta pergunta a ele, na mesma Berlim de Jesse Owens, aliás na Alameda Jesse Owens, nas cercanias do Estádio Olímpico, no dia anterior ao início do Campeonato Mundial de 2009, numa festinha jamaicana, aonde eu cheguei cedo, e enquanto me ocupava entre cervejas e quitutes, um senhor alto e magro, me perguntou se poderia sentar e compartilhar umas geladas.
Assenti com a cabeça, e ao levantar meus olhos, dei de cara com Wellesley, pai do aniversariante do dia, Usain. E fomos conversando, bebericando, e Well ia soltando a prosa em deliciosas histórias do filho veloz. Até que, meio atrasado (como um cara tão veloz pode se atrasar no próprio aniversário?) chega Bolt e um séquito de amigos e afins. Onde Bolt escolhe para sentar-se? Na minha mesa, aliás, minha e de Wellesley, que já meio alegre, pega Bolt pelo braço e o deposita na cadeira ao meu lado. É, a primeira medalha de ouro do Mundial, saiu na festinha jamaicana e foi para o míope aqui, que ora tecla!
Ele se vira, como um Lorde, e se apresenta a mim. Retruquei que lembrava de suas medalhas e recordes mundiais, inclusive os centésimos de cada um, e aguardava ansioso por mais novos números, a partir de amanhã (dia das eliminatórias dos 100 metros). E recomendei que, para chegar mais rápido ao estádio, e não se atrasar, como hoje, viesse pela Alameda Jesse Owens, um cara que conseguiu 4 ouros olímpicos. E de bate-pronto emendei: você acha que se treinasse um pouco o salto em distância e usando sua velocidade, conseguiria brigar por mais este ouro? E Bolt não titubeia, diz que nunca treinou seriamente salto em distância, mas nas brincadeiras de fim de treino, chegou a saltar 7,95! Ah, se ele treinasse e se houvesse espaço na grade de provas olímpicas, Bolt poderia ter uma Avenida no Rio com o seu nome, de preferência em Ipanema, pois para demonstrar intimidade com minha cidade, ele assobiou Garota de Ipanema, num só folego!
Voltemos a Carl Lewis, e seus 4 ouros em Los Angeles. Ele, se fosse um país, terminaria os Jogos na 16ª posição, à frente de Suécia, Espanha, Quênia, Brasil… E olha que o Brasil fez a sua melhor participação olímpica até aquela data. Tivemos o ouro de Joaquim Cruz nos 800 metros, na prova de 800 mais espetacular que um estádio olímpico já viu. Cruz, simplesmente, afundou a Armada britânica, que tinha Sebastian Coe (atual presidente da Federação Internacional de Atletismo), Steve Ovett e Peter Elliot. E venceu com recorde olímpico e tudo. Mas teve também Ricardo Prado na natação, disputando o dificílimo 400 medley, obtendo uma prata impensável para muitos, menos para o Pradinho. E a prata do judoca Douglas Vieira, premiando um esporte que crescia tecnicamente e no número de jovens praticante. Aliás, nesta época, dados estatísticos mostravam que os esportes que mais cresciam, no Brasil, entre os jovens eram, justamente, a natação e o judô! Portanto, esta era a grande lição, que infelizmente foi esquecida: antes das medalhas, a massificação!
No iatismo, onde medalhas começaram a se tornar rotina, os “garotos de Niterói” se faziam presentes, com Torben Grael, Daniel Adler e Ronaldo Senft, na Classe Soling, com outra prata. E o nosso frágil futebol olímpico, enfim, talvez por conta do boicote, que deixou de fora as grandes seleções “amadoras” do bloco socialista, sobe ao pódio, com mais prata. Também de prata foi a nossa seleção de voleibol, mostrando que trilhava o caminho certo com a criação de grandes clubes-empresas, numa jornada (nas estrelas, Bernard) quase impecável, em Los Angeles.
E mais medalhas vieram, dois bronzes, de novo com o Judô, com Luiz Onmura e Walter Carmona.
Nunca vimos tantas medalhas, 8 no total, sendo 5 de prata (uma Chuva de Prata, como já cantava Gal em 84), tornando a jornada olímpica de Los Angeles a mais vitoriosa, até então.
Los Angeles representou um marco na história do esporte feminino. Foram 1620 mulheres competindo, e até ganharam novas provas. Pela primeira vez disputavam a Maratona, o ciclismo em várias modalidades, e ganharam duas provas exclusivas, a ginástica rítmica e
o nado sincronizado!
E foram, também, protagonistas de momentos heroicos:
A americana Joan Benoit, vencedora da maratona, custou a acreditar que conseguiria participar da prova, pois teve que operar o joelho 15 dias antes da seletiva americana! Ela detinha na época o recorde mundial da prova (2h21’43”), mas isto de pouco valeria se não pudesse correr a seletiva e se classificar. Feita a artroscopia, Benoit voltou a correr 2 dias após, numa piscina, sem tocar os pés no fundo. Ela correu a seletiva apenas para completar, e, apesar do joelho dolorido e inchado, o caminho para o ouro olímpico estava aberto. E ela, como boa maratonista, aceitou o desafio e seguiu em frente. Na prova, quando olhou em volta, lá pelo km 15, ela já liderava solitária, e assim foi até entrar na pista do Coliseu lotado, em festa, local da chegada, enquanto entoava um estranho mantra “sempre em frente, não olhe para os lados, uma volta te separa da eternidade!”. Venceu, e aguardou a chegada de Grete Waitz e Rosa Motta, suas companheiras de grandes provas e agora também de pódio. Benoit entra para a imortalidade, pela porta da frente!
Minutos depois, entra no estádio, um ser estranho, mais parecido com um “boneco do posto” travestido de maratonista, agonizando! Era Gabrielle Andersen, nascida na Suíça, mas residente nos EUA, que ameaçava desabar à cada metro, quase vencida pela hipertermia, ela resistia e seguia bravamente, o a o, entre espasmos e contrações, metro a metro, rumo a chegada. O público, atônito, seguia essa procissão solitária, e torcia por cada metro avançado. E Gabrielle não desistiu, cruzou a linha final, enfim, pode desabar agonizante, em paz. Sem medalhas ou pódio, mas com a sensação de vitória. Sim, vencida pelo cansaço, só restou sobreviver! Chegou na 37ª colocação, à frente de outras 13 atletas, inclusive da representante brasileira, Eleonora Mendonça, 42ª na prova.
Enfim, os jogos de Los Angeles 84, entraram para o rol dos inesquecíveis, pelos sorrisos dos vencedores, e pelas lágrimas silenciosas dos vencidos. Afinal, para cada vencedor, como na maratona, foram decretados dezenas de vencidos! Histórias carentes de “glamour”, mas plenas de sentimentos.
E agora, cursamos o primeiro ano do ciclo olímpico de Los Angeles 2028. Que venha a 3ª visita olímpica à cidade dos Anjos!
Lauter Nogueira