Westlake, Ohio. Você talvez nem consiga localizar no mapa sem ajuda, mas foi ali que tudo começou para Travis Kelce.
Era só um quintal. Um pedaço de grama qualquer, meio irregular, com uma bola oval surrada e duas camisetas dos Browns — uma do Travis e outra do irmão mais velho, Jason. Aquilo, diariamente, era o Super Bowl da dupla que já sonhava com os confetes caindo, de anos depois. Era o lugar onde um laço foi formado, onde a competição começou, e onde, sem perceber, nasceu o sonho.
Na casa dos irmãos Kelce o futebol americano não era apenas um esporte. Era parte da identidade da família. O pai, Ed, trabalhava com vendas na indústria siderúrgica — e se tem algo que o aço e o futebol americano têm em comum é a dureza. A mãe, Donna, executiva bancária, era aquela força silenciosa e determinada. A mulher que fazia a casa inteira funcionar enquanto o caos reinava. Eles não tinham tempo sobrando. Mas encontravam tempo. Eles não tinham dinheiro sobrando. Mas davam um jeito.
Para Travis Kelce e seu irmão, Jason, cada treino, cada carona, cada equipamento comprado era uma aposta num futuro que ainda era incerto. Eles nunca disseram “vai dar certo”. Eles mostraram que estavam dispostos a tentar até o fim. E isso vale mais do que qualquer discurso motivacional.
No ensino médio, em Cleveland Heights, Travis fazia de tudo: futebol americano, basquete, beisebol. No campo, era o Quarterback do colégio. Aquele típico de filme hollywoodiano. Era o cara que lançava a bola, o que ditava o jogo. E, naquela fase, você quer ser o herói, né? O Kelce mais jovem teve uma última temporada sólida, com mais de 2.500 jardas totais, 21 touchdowns... Mas, ainda assim, não era o prodígio. Quem tinha a atenção era o irmão Jason. Travis era o engraçado. O problemático. O que ainda precisava encontrar o próprio caminho.
A Universidade de Cincinnati foi o lugar onde tudo poderia ter acabado. Em 2010, Travis Kelce foi suspenso por um ano após um teste antidoping positivo para maconha. Ele tinha 20 anos e, jovem com pouca experiência de vida, sentiu o chão sumir. Aquilo poderia ter sido o fim da carreira daquele que, mais tarde, seria um dos maiores nomes da história da NFL. Mas isso é assunto para mais tarde. A carreira poderia ter acabado antes memso de começar. E, honestamente? Talvez ele não teria conseguido voltar ao próprio eixo se não fosse seu irmão mais velho, Jason.
O irmão de Travis Kelce acreditou nele quando nem ele acreditava mais. Jason convenceu o técnico Butch Jones a dar outra chance. Disse que ia guiar o mais novo, que Travis não ia cair de novo. Com isso, o caçula ou a dormir no sofá da casa de Jason, comia o que ele cozinhava, treinava com ele. O Kelce mais velho se tornou o GPS emocional do 87 do Kansas City Chiefs.E ali, ele aprendeu que talento abre portas, mas caráter é o que mantém elas abertas.
Foi em Cincinnati que Travis Kelce mudou de posição. De Quarterback para Tight End. Trocar de posição no futebol americano é como trocar de identidade. Você precisa reaprender tudo do zero. O bloqueio, a leitura de rota, o tempo. Mas ele encontrou o seu lugar. E muito mais do que isso.
Em 2013, Travis Kelce foi selecionado na terceira rodada do Draft pelo Kansas City Chiefs. O Tight End esteve no topo do mundo... por minutos. Uma lesão no joelho tirou o jogador da temporada inteira como calouro. Mais uma vez, parecia que tudo estava escapando por ocasiões que muitas vezes não eram controladas. Mas, de novo, o mais novo jogador de Kansas escolheu acreditar. Trabalhou em silêncio e voltou mais forte.
Desde então, foram sete temporadas consecutivas com mais de 1.000 jardas recebidas — o único Tight End da história a fazer isso. Kelce quebrou o recorde de jardas por um TE em uma única temporada, com 1.416, em 2020. Foi nomeado para o Pro Bowl dez vezes. Venceu três Super Bowls. Jogou cinco finais em seis anos. Mas o que mais podemos destacar é que Travis nunca se esqueceu de onde veio.
Jogar na NFL por mais de uma década é um privilégio… e um peso. Aos 35 anos, o corpo cobra. A cabeça cobra. Tem dias em que levantar da cama, após uma partida de futebol americano, é uma verdadeira missão. Em uma entrevista coletiva recente, Travis Kelce foi honesto:
- São muitos anos de desgaste no corpo e muito tempo dedicado ao futebol. Esse processo pode ser exaustivo. - E é.
Mesmo assim, Travis Kelce renovou com os Chiefs até 2027. O amor por esse jogo ainda falou mais alto. E, bom, agora ele também é o Tight End mais bem pago da NFL. Nem nos melhores sonhos de criança, com a camiseta dos Browns no quintal, o jovem Trav imaginava isso.
A vida, para ele, não tem sido apenas dentro de campo, mais. Fora dele, encontrou novos meios de se expressar. Travis Kelce e seu irmão Jason criaram o podcast New Heights. Começou como uma conversa entre irmãos e virou um fenômeno. Ganharam o prêmio de Podcast do Ano no iHeartPodcast Awards de 2024 e a Amazon apostou pesado na dupla. E, sim, o podcast explodiu ainda mais quando o relacionamento do jogador com a Taylor Swift veio a público. A galera fala muito sobre isso. Inclusive muitas “Swifties” que nunca tinham ouvido falar de first downs ou Tight Ends aram a acompanhar o esporte em peso.
Ainda, Travis Kelce criou também o Kelce Jam, um festival de música em Kansas City, para celebrar a cultura e dar um pouco de retorno à comunidade da cidade que o abraçou. Isso sem falar na fundação 87 & Running, que é seu compromisso com os jovens que, assim como ele, só precisam de alguém que acredite no potencial ainda pouco lapidado.
A verdade é que Travis Kelce não é apenas um jogador. O número 87 dos Chiefs é irmão, filho, companheiro e sonhador. É aquele garoto de Westlake que só queria ar mais tempo com o irmão, jogando bola no quintal. Tudo começou ali.