A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu um o importante em direção à sustentabilidade financeira dos clubes brasileiros ao instituir um grupo de trabalho focado na criação de um modelo de Fair Play Financeiro (FPF) no país. A portaria, assinada nesta segunda-feira (9) pelo presidente da CBF, Samir Xaud, marca o início de um processo para elaborar, em até 90 dias, um conjunto de regras a ser aplicado gradualmente aos times.

Na série do Lance! sobre Fair Play Financeiro, o advogado desportivo Douglas Teixeira comentou sobre como seria o processo da implementação no futebol brasileiro e também quais impactos podem trazer diretamente aos clubes. Além disso, o modelo SAF também foi um assunto abordado pelo profissional.

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Fair Play Financeiro no Brasil

Para Douglas Teixeira, entrevistado pelo Lance!, a implementação de um sistema de FPF no Brasil, embora desafiadora, é crucial para a saúde do futebol nacional.

- Enquanto o FPF é consolidado na Europa, no Brasil ele ainda está em fase inicial - destaca Douglas, lembrando que a Lei Geral do Esporte (artigos 187 e 188) já determina a criação desse regulamento pela CBF, algo que ainda não havia sido concretizado.

A nova gestão da CBF, por sua vez, reconhece a urgência, mencionando os "riscos" relacionados às contas dos times e o aumento de 22% nas dívidas dos principais clubes no último ano, que ultraaram R$ 14 bilhões.

A criação do SSF pela CBF reflete a busca por transparência, equilíbrio econômico-financeiro e responsabilidade fiscal dos clubes, além da necessidade de contemplar a nova realidade com as SAFs.

Fair Play Financeiro: Samir Xaud, presidente da CBF, assinou a portaria que abre possibilidade para a implementação do sistema no Brasil (Foto: Thiago Ribeiro/AGIF)
Fair Play Financeiro: Samir Xaud, presidente da CBF, assinou a portaria que abre possibilidade para a implementação do sistema no Brasil (Foto: Thiago Ribeiro/AGIF)

Sobre o modelo de SAF, Douglas Teixeira ressalta que ele oferece oportunidades para profissionalizar os clubes brasileiros, desde que acompanhado de segurança jurídica, governança e transparência. A chegada de investidores internacionais e a elevação do clube a um novo patamar de gestão são benefícios potenciais, mas o advogado alerta para os riscos de descumprimentos contratuais, como o caso do Vasco com a 777 Partners, que podem afastar futuros investimentos.

Conciliar o FPF com o modelo de SAFs no Brasil exige a criação de "mecanismos de fiscalização rigorosos, com punições efetivas para clubes que descumprirem as regras", segundo Teixeira. Ele sugere que a estruturação do FPF no Brasil poderia adotar um modelo híbrido, inspirando-se em exemplos europeus.

- Por exemplo, inspirar-se em La Liga, que impede a inscrição de novos jogadores até que o orçamento salarial esteja equilibrado; na Premier League, que aplica dedução de pontos por infrações financeiras; ou na França, onde o rebaixamento é uma possibilidade - detalha o advogado.

A ideia é estabelecer limites de gastos baseados na arrecadação, aliando-os a sanções claras para incentivar a saúde financeira e promover competições mais equilibradas.

O grupo de trabalho da CBF para o SSF será composto por membros da própria confederação, clubes das Séries A e B, federações e consultores, sob a presidência de Ricardo Paulo, vice-presidente da CBF. Os clubes têm cinco dias para manifestar interesse em participar. Embora a CBF já tenha tentado implantar um sistema de Fair Play Financeiro em gestões anteriore, como a de Rogério Caboclo, que foi engavetada por resistência de clubes com contas deficitárias, a nova gestão demonstra firmeza na necessidade de adotar o sistema. A intenção é que o regulamento, após debatido, seja aprovado e aplicado de forma gradual, respeitando as condições específicas de cada clube e região.

Presidente da CBF, Samir Xaud exalta implementação do Fair Play Financeiro

A iniciativa, batizada de Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF), visa monitorar as contas dos clubes e aplicar sanções, com o objetivo de garantir equilíbrio econômico-financeiro e responsabilidade fiscal, especialmente diante da nova realidade das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs).

O mandatário destacou a importância de iniciar os debates sobre o tem no futebol brasileiro e afirmou que a ação tira da fila uma demanda que havia sido criada há cerca de uma década. A expectativa é que o futebol do Brasil se atualize e aproxime o formato de gestão dos grandes centros da modalidade na Europa, que já adotam modelos de fair play diferentes em cada país.

O presidente da CBF detalhou quem serão os integrantes desse grupo de discussões e acredita que o conjunto formado tem que ser plural e que reflita a realidade do futebol brasileiro. Ricardo Paulo, vice-presidente da CBF, é o nome responsável por liderar as discussões uma das principais responsabilidades será a parte fiscal dos clubes por meio do Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF).

- Hoje é um dia importante para o futebol brasileiro, estamos assinando a portaria que cria um grupo de trabalho para finalmente tirar do papel o fair play financeiro, uma demanda antiga dos clubes que há mais de 10 anos esperavam por essa prática (…) Essa é a nova CBF, ágil, aberta ao diálogo e comprometida em resolver questões estruturais. O fair play financeiro não é mais uma promessa, é um projeto em andamento e vamos construí-lo juntos - destacou Xaud.

- Este grupo de trabalho será formado por representantes da CBF, federações estaduais, clubes das Séries A e B, além de especialistas em finanças, governança e direitos esportivos. Queremos um debate plural e técnico que reflita a realidade do nosso futebol - explicou Samir Xaud.

Série do Lance! sobre Fair Play Financeiro

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