Pela primeira vez na história, uma edição de Olimpíada - faltam 30 dias para o início dos Jogos de Paris-2024 - vai permitir a atletas amadores a oportunidade de percorrer os 42.195 km tal como os de elite. Na linha de partida da Maratona para Todos, e também dos 10 km - outra prova destinada aos não profissionais -, estarão 40.048 mil corredores - metade homens, metade mulheres - de 110 países. No Brasil, cerca de 200 pessoas têm vaga garantida, mas o número pode aumentar porque as confirmações das inscrições estão em curso.
Em Belo Horizonte, segundo apurou O TEMPO Sports, são três representantes. Uma delas é Junea Portilho, que começou sua jornada em busca da vaga há um ano. Nesse período, foram mais de 47 desafios, que precisavam ser validados e enviados para o comitê organizador. Tudo precisava ser encaixado na rotina. Correr é paixão, não profissão. Entre os treinos, a mineira ‘concilia’ a carreira de nutricionista.
“Eu costumo treinar quatro vezes na semana. Preciso acordar muito cedo, hoje, às 5 horas da manhã, porque depois eu trabalho o dia inteiro. Agora, por exemplo, estou tentando fazer um fortalecimento na parte da noite porque é importante e a gente sempre deixa para depois. O volume da corrida pede uma musculatura mais preparada”, conta a belo-horizontina, que sempre que pode treina na Lagoa da Pampulha, cartão-postal da capital mineira.
A expectativa é completar a prova com cerca de 3 horas e 20 minutos, tempo distante do da etíope Tigst Assefa, recordista mundial de maratona com o tempo de 2h11min53s, mas que pode significar o recorde pessoal de Junea.
“Eu fico querendo que a prova não acabe nunca mais. Claro que a gente pensa eu posso ser a melhor brasileira (amadora). Vai ser um percusso muito difícil, porque quando a gente vai para Versalhes tem uma subida longa. Mas eu vou aproveitar cada momento da prova naquela cidade maravilhosa (Paris), conta.
Percusso 1k3w2g
Em Paris, a corrida ará por nove municípios, saindo da sede da prefeitura (Hotel de Ville), ando em frente ao Castelo de Versalhes, perto da Torre Eiffel, pelas pirâmides do Louvre e terminando em Les Invalides. A rota foi inspirada na marcha das mulheres, quando em 5 e 6 de outubro de 1789 um grupo de moças caminhou da prefeitura de Paris a Versalhes e forçou o rei Luís XVI a ratificar a famosa Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão meses após a Revolução sa. Veja o vídeo da rota:
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Dentre os números divulgados pelo comitê organizador, o corredor mais jovem dos 10 Km terá 16 anos e o mais velho terá 95 anos. Já no percusso da maratona, o mais novo terá 20 anos e o mais velho 85 anos. Um quarto dos amadores fará os 42.195 km pela primeira vez. Desde 2019, as vagas para a Maratona para Todos vêm sendo preenchidas.
"Vemos que há uma mobilização bastante excepcional. Para um quarto dos participantes será a primeira maratona de sua vida. Ficamos muito contentes com isso. Fomos assediados com pedidos de informação", disse Tony Estanguet, presidente do Comitê Paris 2024, durante coletiva de imprensa.
As provas para os corredores amadores começam às 21h do dia 10 de agosto e terminam pela manhã do dia 11 e não serão cronometradas. O horário noturno pode atenuar o impacto das temperaturas elevadas típicas nessa época do ano em Paris. Os amadores terão cerca de seis horas para concluir o trajeto.
Os custos também correm por conta própria. O Comitê Olímpico Brasileiro informou que não tem relação com a prova. Tão pouco a organização de Paris-2024 vai oferecer agem ou hospedagem. O valor estimado para participação, saindo de BH, é de R$ 30 mil.
Faça chuva ou faça sol 25462n
Em via de regra, qualquer pessoa pode fazer uma maratona, desde que já tenha alguma vivência no esporte. Quem pretende correr os 42.195 km terá que ar ao menos dois anos de vivência na modalidade, fazendo todos os tipos de prova (5 km, 10 km, 21 km), para chegar apto à distância.
“O atleta amador tem um tempo de recuperação menor que os profissionais devido à rotina mesmo do dia a dia. Tem um tempo de sono menor em comparação aos profissionais, além dos fatores em relação à alimentação e ao fortalecimento muscular. O atleta amador precisa de uma preparação específica à sua rotina e às suas individualidades”, explica Filipe Biancadi, especialista na preparação de maratonistas e sócio-diretor na BORA Assessoria.
Para Junea Portilho, que começou as maratonas em 2020, bem no período da pandemia de coronavírus, a corrida trouxe novos sentimentos e significados. Para dar força, leva sempre a memória do pai, que tanto a incentivou no esporte.
“A gente aprende a se desafiar, a se emocionar, a perder e a ganhar. E aquele medo que eu tinha do treino exaustivo, de repente, eu me vi enlouquecida por ele. Porque me ensinava muito e me fortalecia. A gente fala que o dia da maratona é o dia da festa. A verdadeira maratona é o ciclo todo que a gente precisa fazer para treinar, porque vencer os 42 km é difícil e começa muito antes do dia da maratona. É um treino na chuva, um treino que você não dormiu bem, é um treino com uma semana de trabalho e você conseguiu vencer”, afirmou Junea.
Incentivo dentro e fora de Paris k735f
Segundo os organizadores de Paris-2024, atletas e ex de renome de outras modalidades, como a ex-número 1 do tênis Amélie Mauresmo, e Michaël Jeremias, campeão paralímpico no tênis em cadeira de rodas, vão estar nas estações de abastecimento para encorajar os amadores. Pelo mundo, há a corrente para que corredores do mundo inteiro também percorram a distância que se sentirem confortáveis entre os dias 10 e 11 de agosto, mais precisamente entre 21h e 3h, horário da prova para os não-profissionais nas Olimpíadas.