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Josias Pereira

Mineiro de Pedra Azul, jornalista graduado pela Centro Universitário Newton Paiva, editor do Flashscore Brasil, há mais de uma década no jornalismo esportivo e com experiência em coberturas internacionais, como duas Copas do Mundo e Jogos Olímpicos. Ex-setorista do Cruzeiro em O TEMPO e na FM O TEMPO. Colunista.

OPINIÃO

Por mais espaço para os Crias da Toca

No momento onde especulações já começam a rondar a Toca da Raposa, muitas das respostas podem estar dentro do próprio clube, esperando uma chance.

Por Josias Pereira
Publicado em 15 de maio de 2025 | 18:47

O Cruzeiro fez um treinão de luxo contra o Palestino — e venceu. A série invicta continua ativa, agora com seis jogos sem derrotas. A Raposa chega para o clássico de domingo com o moral elevado. Mas, acima de tudo, o que levo de extremamente positivo desse jogo pela Sul-Americana é a possibilidade de ver os Crias da Toca em ação. Muito mais do que o futuro do Cruzeiro, eles também podem ser o presente. No momento onde especulações já começam a rondar a Toca da Raposa e jogadores de nome são projetados, muitas das respostas podem estar dentro do próprio clube, esperando uma chance de mostrarem o seu valor. 

Gostaria de ter visto até mais garotos contra o Palestino. Mas os que foram a campo — Kauã Prates, Murilo e Kenji — deixaram boas impressões. As avaliações do aplicativo Flashscore, por exemplo, deram notas acima de 7 para todos eles. Destaco aqui Prates, um garoto de apenas 16 anos que encarou um jogo internacional com bastante personalidade e maturidade. Vou ser sempre um árduo defensor da base. E isso inclui a necessidade de uma transição que permita a esses garotos a possibilidade de não sumirem dentro deste processo. 

Quantos nomes não vimos nos últimos anos que acabaram não tendo sequência? Obviamente, não vou ser aqui hipócrita ao dizer que todo o garoto terá uma chance. Às vezes em uma safra de muitos, apenas um acaba sendo, de fato, inserido no time principal. Apesar dos problemas que vejo na base celeste — coisas que não são de hoje —, é preciso destacar que há um processo de captação interessante. Não à toa, o clube viu potencial em meninos como Estêvão, Vitor Roque, revelou atletas como Fabrício Bruno, Ederson, tem Lucas Silva como um dos titulares e referências do meio-campo, além da presença de Kaiki Bruno no 11 inicial. 

Ou seja, há algo em andamento, que pode, em algum momento, ser consolidado por uma grande venda no futuro, um marco que potencialize a base do Cruzeiro, como o Palmeiras vem executando com grande qualidade. Mas, para tanto, é preciso um trabalho conectado com o time principal, estabelecendo diretrizes que contemplem um processo integrado, formando o jovem desde cedo a entender a filosofia do Cruzeiro.

Esse é um grande problema do futebol brasileiro. Os clubes não têm identidade. As contratações de treinadores não se baseiam no que o clube acostumou-se a propor como histórico, seja o toque de bola, um estilo mais agressivo ofensivamente, o jogo apoiado. Não interessa. As coisas acabam se baseando pela necessidade do momento e é visível que alguns trabalhos são fadados ao fracasso porque não expressam a identidade do clube. 

Esse trabalho com a base é fundamental não só para o time, mas para o próprio futebol brasileiro. Perdemos características inerentes ao nosso estilo de jogo, forçando por vezes a construção de jogadores velozes, descentralizando garotos e investindo no trabalho pelas pontas. Por isso, a grave crise que enfrentamos de armadores. Mas isso, de fato, é uma conversa muito ampla. 

O que temos aqui é um Cruzeiro que pode e deve investir cada vez mais na base. Tenho gostado dos movimentos de Pedrinho, que se mostra muito participativo no acompanhamento dos Crias da Toca. Ter a figura do presidente marcando presença em jogos, peneiras, treinos, é fundamental para trazer confiança de que todos estão sendo observados. Afinal de contas, são ativos do clube. Que Jardim e sua comissão técnica possam a cada dia mais estreitar esta ligação com a garotada. Como disse logo no início desta coluna, muitos problemas podem ser resolvidos com um olhar atento para dentro da própria casa.