Internada com bronquiolite desde a última quinta-feira (1º de maio) na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, a pequena Alice, de apenas 2 meses, aguarda há 7 dias por uma vaga em um hospital mais preparado para tratá-la. A falta de leitos, que coloca em risco a vida criança, ocorre em meio à situação de emergência decretada pelo governo de Minas devido ao aumento dos casos de doenças respiratórias.
O TEMPO conversou nesta quarta-feira (7 de maio) com Rafael Souza Figueira, pai da garotinha. Ele conta que a menina foi levada até a unidade por estar com uma tosse com catarro. Porém, logo após ar pela triagem, a filha acabou sendo internada na unidade.
"De cara informaram que era uma bronquiolite, e a situação dela foi ficando cada vez pior, está respirando só no oxigênio. E está se agravando cada dia mais. Eles (funcionários da UPA) tentam a transferência, e não conseguem. Ela chegou a desmaiar, ficou roxa", conta o pai sem esconder o desespero.
Para a família da menina, a unidade de saúde informa apenas que não existiria a vaga necessária. "A UPA está tentando, mas nenhum hospital está aceitando a minha filha. Não reclamo daqui (UPA), estão atendendo a gente super bem, mas precisamos de um lugar mais preparado. Eu tenho que trabalhar, mas fico com a cabeça lá, no hospital. O sentimento agora é de desespero, impotência, pois não posso fazer nada para ajudar ela", diz, emocionado, o pai da bebê.
Ainda segundo a família de Alice, uma outra criança também estaria na mesma situação na UPA, dependendo de uma vaga para ser transferido. A reportagem tentou contato com a família do outro bebê, mas ninguém quis conceder entrevista sobre o caso. A informação de que pelo menos duas crianças estão aguardando vaga na unidade de saúde também foi confirmada pela Prefeitura de Ribeirão das Neves, que informou, por nota, que o governo de Minas, responsável pela regulação, já foi informado da situação e ainda não disponibilizou as vagas.
"Enquanto isso, as crianças seguem recebendo todo o e e acompanhamento das equipes médicas e de enfermagem da rede municipal, que têm atuado com dedicação e compromisso para garantir a melhor assistência possível neste momento. Estamos mobilizados, junto às autoridades competentes, para que os encaminhamentos necessários sejam feitos com urgência", completou o município.
Por fim, a prefeitura também afirmou que segue monitorando a situação de forma rigorosa. "E reforça a importância da vacinação e dos cuidados preventivos, especialmente com o público infantil", finalizou. Por fim, a cidade informou que, até agora, a cidade já registrou 265 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). "Estamos em pleno crescimento da curva epidemiológica e há possibilidade de subnotificações. Diante desse cenário, o município se mantém em estado de alerta com a eminência de decretar estado de emergência", concluiu.
Também indagados por O TEMPO, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e o governo de Minas ainda não se manifestaram.
Na última sexta-feira (2), a pequena Evelyn Marques Bambirra, de 1 ano e 4 meses, morreu após três dias de espera por um leito de CTI. A criança estava internada no hospital municipal de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, com uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), morrendo após sofrer uma parada cardiorrespiratória.
Conforme o relato da mãe da criança, a cabeleireira Amanda Marques, de 26 anos, houve negligência por parte da equipe médica e demora por parte do Estado, que não teria garantido a vaga em uma UTI.
Conforme Amanda, a filha se sentiu mal na segunda-feira (dia 28 de abril), na creche. Por causa da persistência da febre, a mãe levou a pequena ao Hospital Municipal de Pedro Leopoldo na terça-feira (29). No entanto, a filha foi medicada e liberada. No dia seguinte, a menina continuava a apresentar sintomas e ficava o tempo inteiro "mole" e, por isso, Amanda retornou à unidade de saúde com a filha. Evelyn foi internada e, desde então, uma vaga em uma UTI pediátrica começou a ser buscada pela equipe do hospital. Diante da piora do quadro, na sexta-feira, os médicos tentaram intubar a menina, mas ela não resistiu. Para Amanda, houve negligência no momento em que a filha foi liberada do hospital sem antibióticos e também no procedimento de intubação.
“Os médicos usaram cano de intubação de adulto, pois não havia um próprio para ser utilizado em crianças. No momento que eu entrei na sala, ela estava muito inchada e com a boca machucada. O processo de intubação demorou mais de duas horas e meia. Depois da morte, o médico chamou a gente para conversar e ele falou que ela já estava com a bactéria da pneumonia e a inflamação toda espalhada”, disse a mãe da bebê.