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Minas registrou 240 internações por dia em 2025 por doenças respiratórias
Com aumento drástico dos casos, crianças lutam por suas vidas enquanto aguardam a liberação de leitos especializados na Grande BH

Em 2025, os hospitais de Minas Gerais registraram cerca de 241 internações por dia pela chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — total de 29.723. O número equivale a cerca de 10 pessoas — em especial crianças pequenas e idosos — ocupando um leito por hora ou uma a cada seis minutos. Diante do aumento expressivo dos casos, o governo de Minas decretou, na última sexta-feira (2 de maio), situação de emergência. Porém, ados cinco dias desde a medida adotada, nesta quarta-feira (7) pelo menos dois bebês lutavam por suas vidas enquanto aguardavam a liberação de vagas em leitos no Estado.
Conforme o " de Internações por Síndromes Respiratórias", atualizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), até agora em 2025 foram registradas 29.723 internações, contra 28.409 no mesmo período do ano ado, um aumento de 4,6%.
Ao mesmo tempo, até o último dia 3 de maio foram registradas 35.597 solicitações de internação por SRAG nos 853 municípios mineiros, . Deste total, pouco mais de 20 mil são de pessoas com 60 anos ou mais e cerca de 3,4 mil de crianças de 0 a 1 ano, ou seja, cerca de 66% das internações solicitadas.
Até agora, Minas já registrou 438 mortes pela doença, sendo uma delas a de uma menina de apenas 1 ano, que, após três dias internada em um hospital de Pedro Leopoldo, não resistiu e acabou morrendo enquanto aguardava uma vaga em um hospital. O infectologista Leandro Curi explica que a SRAG é caracterizada pelo sintoma de falta de ar, que é desencadeado por uma série de infecções, principalmente por vírus respiratórios, como a própria Influenza (gripe) e o Covid.
"Nas crianças pequenas, até mesmo o vírus do resfriado pode desencadear a infecção nos brônquios, que é conhecida como bronquiolite e que é muito grave. A SRAG surge principalmente nesta época do ano, quando esfria um pouco. A temperatura cai e, principalmente os pequenos e os mais velhos, que têm a imunidade mais baixa, são os que mais sofrem", detalha.
Para o especialista, a falta de leitos é um problema crônico, que ocorre sempre que o número de casos destas doenças aumentam drasticamente. "Em alguns anos, esse aumento ocorre de forma mais brusca, pelo excesso de contaminação. É o irmãozinho que contamina o outro, o coleguinha de escola, às vezes os próprios pais. Então, os vírus circulam entre nós e a gente tende a espalhar mais rápido, virando um surto", completa Curi.
Segundo a SES-MG, a bronquiolite viral aguda (BVA) é uma das principais infecções respiratórias que atingem crianças menores de 2 anos. O principal agente causador da enfermidade é o chamado vírus respiratório sincicial (VRS), que tem maior circulação nesta época do ano.
"A SES-MG faz a vigilância dos vírus respiratórios por meio da Vigilância Sentinela em Unidades de saúde de referência que realizam coletas regulares de Swab das crianças. As amostras são processadas na Fundação Ezequiel Dias (Funed) para a detecção de mais de 10 vírus diferentes. Além disso, é realizado o acompanhamento das internações por doenças respiratórias e divulgado alerta aos profissionais de saúde e gestores sobre o aumento de casos dessas doenças", informou a pasta.
Ainda segundo a secretaria estadual, desde a decretação da situação de emergência, "estão sendo organizadas ações para subsidiar a adequação da capacidade de atendimento no âmbito da gestão plena de cada município". "Entre essas ações, destacam-se a abertura de novos leitos pediátricos de UTI e de enfermaria, a organização dos fluxos assistenciais em articulação com os municípios e o apoio técnico e estratégico da SES-MG, por meio de suas Regionais de Saúde de abrangência", concluiu.
Como prevenir?
Quem tem crianças, idosos ou outras pessoas com a imunidade debilitada em casa pode tomar alguns cuidados para evitar a SRAG. O infectologista Leandro Curi destaca principalmente a importância da vacinação, já que a Influenza e a Covid são algumas das principais causadoras do sintoma. "Às vezes, a descrença dos pais, geralmente infundada, deixa a criança desprotegida e podendo sofrer um caso mais grave", alerta.
Apesar da vacinação ser a principal prevenção, a higiene respiratória também é uma grande aliada. "Higienizar as mãos com regularidade, manter o ambiente ventilado, por exemplo, são medidas muito eficientes. Se alguém em casa estiver com sintomas gripais, é bom evitar ficar perto dela sem máscara. Sempre falo também para as pessoas evitarem visitar crianças recém-nascidas sem máscara nessa época, pois, um simples resfriado, pode ser muito grave para ela", orienta Curi.
O infectologista também reforça sobre as medidas que, durante a pandemia de Covid, foram amplamente divulgadas: como o uso de álcool em gel; cobrir o rosto com o antebraço ao tossir ou espirrar; e, é claro, o uso de máscaras quando se está com sintomas.
Crianças sem leito
Internada com bronquiolite desde a última quinta (1º) na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, a pequena Alice, de apenas 2 meses, espera há 7 dias por uma vaga em um hospital mais preparado para tratá-la. O TEMPO conversou nesta quarta-feira (7 de maio) com Rafael Souza Figueira, pai da garotinha. Ele conta que a menina foi levada até a unidade por estar com uma tosse com catarro. Porém, logo após ar pela triagem, a filha acabou sendo internada na unidade.
"De cara informaram que era uma bronquiolite, e a situação dela foi ficando cada vez pior, está respirando só no oxigênio. E está se agravando cada dia mais. Eles (funcionários da UPA) tentam a transferência, e não conseguem. Ela chegou a desmaiar, ficou roxa", conta o pai sem esconder o desespero.
Ainda segundo a família de Alice, uma outra criança também estaria na mesma situação na UPA, dependendo de uma vaga para ser transferido. A reportagem tentou contato com a família do outro bebê, mas ninguém quis conceder entrevista sobre o caso. A informação de que pelo menos duas crianças estão aguardando vaga na unidade de saúde também foi confirmada pela Prefeitura de Ribeirão das Neves, que informou, por nota, que o governo de Minas, responsável pela regulação, já foi informado da situação e ainda não disponibilizou as vagas.
"Enquanto isso, as crianças seguem recebendo todo o e e acompanhamento das equipes médicas e de enfermagem da rede municipal, que têm atuado com dedicação e compromisso para garantir a melhor assistência possível neste momento. Estamos mobilizados, junto às autoridades competentes, para que os encaminhamentos necessários sejam feitos com urgência", completou o município.
Procurada sobre as crianças aguardando transferência, até a publicação desta reportagem a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e o governo de Minas não tinham se manifestado.